
09 de novembro de 2016 | 12h58
GENEBRA - Ameaça de ser abandonada por Donald Trump, Organização Mundial do Comércio (OMC), insiste que a liderança dos EUA é "vital" no comércio internacional. Mas num esforço para manter sua entidade relevante, o diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo, aponta que a organização está pronta para trabalhar para garantir que todos sejam beneficiados com o comércio.
Em julho, Trump ameaçou abandonar a OMC se o organismo com sede em Genebra proibisse seus planos de impor multas a empresas que decidam produzir fora dos EUA. Sua retórica tem sido a de sair em defesa de uma classe social que acredita que perdeu com a globalização.
Numa entrevista à rede NBC, ele deixou claro que iria adiante com suas políticas comerciais, ignorando as regras da entidade. "Não importa", disse. "Se isso ocorrer (impedir de impor multas), vamos renegociar o acordo ou então vamos abandoná-la. Esses acordos são desastrosos. A OMC é um desastre", afirmou.
Num tom apaziguador, Azevedo tuitou nesta manhã que "a liderança dos EUA na economia global e no sistema multilateral do comércio continua vital". Mas o brasileiro também mandou uma mensagem de que a OMC deve ser parte de uma eventual correção nas regras para garantir maior emprego.
Azevedo se disse "pronto para apoiar" e "para trabalhar" com o novo governo para "garantir que o comércio seja um elemento positivo em uma nova estratégia para o desenvolvimento e a criação de empregos". O brasileiro ainda mandou uma mensagem ao eleitorado de Trump e indicou que "está claro que muitos sentem que o comércio não está funcionando para eles". Uma vez mais, ele insiste que a OMC está pronta para agir. "Precisamos lidar com isso e garantir que o comércio gere o benefício mais amplo a todas as pessoas", escreveu o brasileiro.
Na semana passada, sem citar o nome de Trump, Azevedo já havia alertado para o fato de que respostas simplistas por parte de candidatos não seriam capazes de solucionar crises e que, de fato, poderiam agravá-las.
Nos corredores da OMC, diplomatas confirmaram ao Estado a preocupação da entidade que regula o comércio mundial diante do resultado nas eleições nos EUA. Se praticamente nenhum acordo conseguia avançar, agora o sentimento é de que uma paralisia pode tomar conta da organização.
Nos últimos anos, diante do fracasso da Rodada, o trabalho da cúpula da entidade tem sido o de manter a Casa Branca engajada. Sem os americanos, muitos acreditam que a OMC se tornaria irrelevante.
Agora, a percepção de muitos diplomatas é de que essa tarefa de "manter os EUA no mesmo barco" será ainda mais difícil. "Existe o potencial para que a relação fique complicada", admitiu o embaixador chinês na OMC, Yu Jianhua.
"Vamos viver um grande período de incertezas", alertou outro embaixador, na condição de anonimato. O que todos nos corredores da entidade querem saber é como a retórica anti-comércio de Trump será traduzida em propostas concretas.
Durante sua campanha para a presidência dos EUA, Donald Trump prometeu barreiras contra produtos importados e um freio no comércio com a China. "Não podemos continuar deixando que a China estupre nosso país e isso é o que eles tem feito", disse Trump em Indiana.
Num debate com Hillary Clinton, Trump ainda qualificou o NAFTA como "o pior acordo comercial jamais assinado" e prometeu que, se eleito, irá renegociar os termos do pacto assinado ainda nos anos 90.
O candidato republicano também insistiu que vai retirar os EUA da Parceria Trans-Pacífica e também o comparou a um "estupro". "Vou declarar nossa independência econômica de novo", disse.
Com a Europa, a negociação para um acordo de livre comércio também vive uma séria crise.
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