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Sobra de energia faz Itaipu jogar água fora

Por Agencia Estado
Atualização:

O que parecia impossível há um ano, quando o País se preparava para sair de um período de racionamento de energia elétrica que durou nove meses, está acontecendo: o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está permitindo o "desperdício" da água do reservatório de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo. Responsável pelo abastecimento de 20% a 25% do consumo nacional, a situação atual de Itaipu é o sinal mais evidente da grande sobra de energia que o País passou a ter desde o final do ano passado, menos de um ano após o fim da restrição forçada do consumo. Por ser um usina "fio d´água", ou seja, quase sem reservatório para acumulação e uso posterior, e por estar "no fim da linha", a preocupação do ONS é aproveitar "até o último pingo de água" de Itaipu para gerar energia. Ao liberar água sem que essa acione as turbinas, o ONS indica a grande sobra e a situação tranqüila em termos de abastecimento de energia para os próximos anos. O vertimento de água de Itaipu está sendo facilitado pelo grande volume de chuvas nas bacias do Tietê e Paranapanema, onde a maioria das hidrelétricas também é do tipo "fio d´água" sem grandes reservatórios. E está ocorrendo após os reservatórios da bacia do Rio Grande (divisa de Minas Gerais com São Paulo) atingirem quase o limite máximo. A represa de Furnas, por exemplo, a maior do País está com 94,35% de ocupação. Os reservatórios da bacia do rio Paranaíba estão em torno de 70%, enquanto na região sul quase todos estão acima de 90%. Até a região Nordeste tem "folga" este ano, conforme o ONS. O reservatório de Sobradinho está com 41,74% da capacidade e o de Três Marias com 52%. A situação tranqüila dos reservatórios ocorre num período "normal" de chuvas, pelo acompanhamento do ONS. No "ranking" de 72 anos de acompanhamento sistemático do índice pluviométrico brasileiro o atual período "molhado" (novembro a março) sequer deverá ficar entre os 20 melhores. Ou seja, o País já registrou períodos com chuvas muito mais intensas do que o atual. Esta situação tranqüila está levando o ONS a reduzir de forma expressiva a geração de energia elétrica por parte das termelétricas, apesar da inauguração de várias térmicas no segundo semestre do ano passado. Em dezembro, por exemplo, enquanto as hidrelétricas produziram 114 mil Mwmédio de energia, com aumento de 24,8% em relação a dezembro de 2001, as térmicas registraram queda de 46% na produção, com a geração de apenas 4 mil Mwmédio. Esse volume é pouco superior ao da produção das duas usinas nucleares do País (Angra 1 e Angra 2), que geraram 3 7 mil Mwmédio em dezembro, com aumento de 12% em relação a dezembro de 2001. Na avaliação de um técnico do setor elétrico, as térmicas poderiam estar em ritmo até mais lento não fosse a necessidade do ONS de tentar otimizar as linhas de transmissão. O que indica que as empresas que investiram na construção das termelétricas, especialmente a Petrobras, dificilmente conseguirão algum resultado positivo este ano. O ONS prioriza o funcionamento das usinas com menor custo, onde as hidrelétricas são praticamente imbatíveis. Além de a água custar "quase zero", ao contrário do gás natural ou óleo combustível utilizado pelas térmicas, os rios brasileiros permitem aproveitamento quatro a cinco vezes da mesma água, à medida que o combustível "caminhe" ao longo dos rios e encontra novas turbinas pelo caminho.

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