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Socialismo chavista chega ao País

Governo venezuelano tem financiado empresas brasileiras que, à beira da falência, foram ocupadas e hoje são dirigidas por trabalhadores

Por Agencia Estado
Atualização:

Seguindo à risca o seu projeto de "socialismo do século 21", o governo do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, tem financiado empresas brasileiras que, à beira da falência, foram ocupadas e hoje são dirigidas por trabalhadores. As três empresas beneficiadas são administradas por funcionários ligados a um movimento de orientação socialista que prega a ocupação das fábricas para tentar manter os postos de trabalho. Para viabilizar a sobrevivência dessas empresas, que não teriam meios de continuar operando, o governo venezuelano fechou em 2006 acordos pelos quais se comprometeu a fornecer matérias-primas com um ano de carência para o primeiro pagamento. As demais condições do contrato, também mais vantajosas que as oferecidas por fornecedores brasileiros, são mantidas em sigilo. "As cláusulas do financiamento são internas e não podem ser divulgadas", diz o coordenador dos Conselhos das Fábricas Ocupadas e em Luta, Serge Goulart, membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). As três empresas são a Cipla e Interfibra, ambas com fábricas em Joinville (SC), e a Flaskô, de Sumaré (SP). Todas atuam no setor plástico, pertenciam ao mesmo grupo (o HB, formado por Anselmo Batschauer e Luís Batschauer) e foram ocupadas pelos trabalhadores em outubro de 2002, quando estavam prestes a quebrar. Hoje, empregam 1.300 pessoas. O governo venezuelano vem fornecendo a essas empresas resinas de PVC , polietileno e polipropileno (matérias-primas para produção de peças de plástico para veículos e tubos e conexões, entre outros), produzidas pela estatal Petroquímica da Venezuela. No ano passado, elas receberam cerca de 600 toneladas de matéria-prima, o equivalente a R$ 2,5 milhões. Este ano, o acordo com a Venezuela será mantido. A ajuda de Chávez, que apóia esse tipo de ocupação na Venezuela e em outros países da América Latina, desagrada a setores tradicionais da indústria. Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), esse tipo de cooperação caracteriza ingerência em assuntos internos brasileiros. "A Fiesp respeita a soberania nacional e não reconhece nenhum tipo de ingerência política de outro país nas questões internas brasileiras", diz Paulo Skaf, presidente da entidade. "A opinião do presidente da Venezuela pertence única e exclusivamente a ele e não é entendida pela como referência para qualquer tipo de atitude a ser tomada no Brasil". Goulart rebate essa acusação. "O que há é um acordo comercial entre empresas brasileiras e uma estatal venezuelana", diz . "Ingerência é quando o governo dos Estados Unidos manda tropas invadir outro país". Segundo ele, as empresas ocupadas se recuperaram o suficiente para pagar em dia os salários e as obrigações fiscais e previdenciárias. No entanto, não têm como honrar as dívidas deixadas pelos antigos proprietários, estimada em R$ 500 milhões."A saída seria estatizar essas empresas, mas o governo Lula ainda resiste", diz o coordenador do movimento. Casas de Plástico A contrapartida brasileira no contrato com o governo venezuelano envolve transferência de conhecimento e tecnologia em um projeto de construção de fábricas de casas populares feitas de PVC. Em dezembro, Chávez inaugurou a primeira, a Petrocasa, e recebeu dos técnicos da estatal a garantia de ser possível produzir 60 mil "casas de plástico" por mês. De acordo com Goulart, em 2007 serão construídas pelo menos mais três fábricas. "No Brasil, tentamos oferecer projeto semelhante ao presidente Lula, mas ainda não obtivemos resposta", afirma o coordenador do conselho da Flaskô, Pedro Santinho. O acordo com a Venezuela resultou de conversas iniciadas em 2004 com o cônsul-geral daquele país em São Paulo, Jorge Luis Duran Centeno. Na tentativa de manter os postos de trabalho e clientes como a Petrobrás, os funcionários assumiram as três empresas, após o grupo HB admitir que não poderia pagar salários atrasados e direitos trabalhistas. Os ex-proprietários do grupo respondem a pelo menos 400 processos na Justiça. Nenhum dos dois foi encontrado pelo Estado.

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