13 de janeiro de 2021 | 13h09
Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro afirmar que a Ford deixou o Brasil porque não foi atendida quanto a pedidos de subsídios fiscais, o fundador e CEO da XP, Guilherme Benchimol, declarou que o movimento da montadora norte-americana "faz parte de um processo de as empresas fecharem" e disse que a sociedade brasileira precisa discutir se quer oferecer incentivos a setores da economia e a quais deles.
"Em 2020, tivemos uma expansão de 5% a 10% de CNPJs, construindo 5% a 10% mais empresas. Então, faz parte do processo algumas empresas fecharem. Claro que a pandemia foi muito grave e muitas empresas foram afetadas em cheio. Mas, no caso da Ford, até onde me aprofundei, tem questão de subsídio, de que a sociedade sempre reclamou e o governo não quis renovar. E, até onde entendi, essa decisão já havia sido tomada há dois anos", disse o executivo nesta quarta-feira, 13, em live promovida pelo jornal Valor Econômico.
Em segundo dia de manifestações, funcionários da Ford se reúnem na Assembleia Legislativa da Bahia
Para Benchimol, é preciso entender o "saldo" das operações de abertura e fechamento de companhias. "Será que estamos construindo mais empresas do que destruindo? E será que a destruição que está acontecendo é coerente? É importante que sociedade discuta se ela quer oferecer subsídios às empresas e quais setores vão receber o subsídio", disse.
Na segunda-feira, 11, a Ford, que já tinha encerrado, em 2019, a produção de caminhões em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, anunciou que vai fechar neste ano as demais fábricas no País: Camaçari, onde produz os modelos EcoSport e Ka; Taubaté (SP), que produz motores; e Horizonte (CE), onde são montados os jipes da marca Troller.
Sobre o que espera para as empresas em 2021, o executivo disse que é difícil imaginar um setor que não vá crescer em um ambiente de juro básico a 2% ao ano. Contudo, destacou que as companhias de tecnologia devem se beneficiar mais. "As pessoas estão mais conectadas, passando mais tempo em casa, aprenderam a trabalhar em casa, até quem não estava habituado."
Benchimol disse que uma menor participação do Itaú como acionista da companhia, ou uma saída completa, não afeta negativamente a empresa. Para ele, a XP vai conseguir até melhorar a governança a partir da saída do banco.
"A gente acabou construindo algumas questões de governança e, o Itaú não sendo mais nosso sócio, isso deixa a companhia muito melhor, porque havia certo conflito de interesses. A XP vai melhorar muito a governança e vai ficar mais apta a continuar crescendo e transformando o mercado financeiro", afirmou.
Ao falar da participação do Itaú como acionista da XP, Benchimol chegou a fazer uma comparação com a maior rivalidade do futebol paulista. "Seria como se o Palmeiras fosse sócio do Corinthians e o Corinthians não fosse sócio do Palmeiras. Fica complicado. É melhor que as empresas sejam independentes e façam uma competição leal, no campo, sem nada que impeça uma competição no mais alto nível."
O maior banco da América Latina se tornou sócio da corretora há três anos, ao comprar 49,9% do negócio em uma operação vista à época como um movimento de proteção contra a emergência de plataformas de investimentos digitais e com estratégia ousada de captação de clientes. O negócio virou um dos investimentos mais rentáveis da história do Itaú.
No fim de junho deste ano, porém, o Itaú levou ao ar uma campanha publicitária que provocou uma forte reação das corretoras, batendo de frente no “coração” e em um dos pilares do negócio da XP: os agentes autônomos. Questionou a remuneração desses profissionais, feita por meio do comissionamento, o que traria o incentivo de que esse agente indique ao seu cliente um produto com a melhor remuneração para ele, e não necessariamente para o cliente.
Em novembro, o conselho de administração do Itaú Unibanco aprovou a segregação de seu investimento na XP em uma nova empresa, a Newco, que vai ficar com a participação de 41,05% do banco no capital da XP.
Para Benchimol, o fato de a empresa passar a oferecer também serviços bancários, como conta corrente e cartão de crédito, vai permitir que a companhia dobre de tamanho sem trazer novos clientes.
"Temos 3 milhões de clientes ativos que investem e acabam tendo uma relação com um banco onde eles têm conta concorrente. Ao oferecer facilidades que apenas um banco oferece, como conta corrente e cartão de crédito, isso permite que a gente mais que dobre a companhia sem trazer clientes", disse.
Segundo o executivo, o banco da XP já funciona e estará "completamente apto" em alguns meses. "Vamos oferecer uma experiência completa, com taxas mais competitivas de mercado, acessando tudo o que há de melhor no sistema, um banco sem tarifas, uma experiência incrível, um cartão de crédito fora de série, com o menor juro do Brasil, voltado ao investidor inicialmente", afirmou.
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