O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do Banco Central (BC), distribuído há alguns dias, mostra que um sistema bancário sólido como o brasileiro tem plenas condições de ampliar a oferta de crédito à economia e de cobrar juros menores. Está pronto, portanto, para cumprir melhor seu papel de alavancar o crescimento, a partir de fatores positivos como a queda, em curso, dos níveis de inadimplência, dada a maior pontualidade não só das famílias e das pequenas e médias empresas, mas também de grandes devedores, notou o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza.
O REF constatou a redução dos riscos para estabilidade financeira do sistema bancário, a melhora dos indicadores de crédito, rentabilidade e risco e maior confiança do mercado na capacidade dos bancos de absorver choques. Mas recomendou atenção com ativos problemáticos.
O crédito às famílias aumentou 5,7% em 2017, enquanto caiu a oferta de empréstimos para grandes corporações, que se têm valido mais intensamente do mercado de capitais.
Entre 2016 e 2017, a diminuição de R$ 23,3 bilhões nas despesas de provisão para devedores duvidosos ajudou a fazer crescer a rentabilidade dos bancos. O sistema bancário se capitalizou e é capaz de absorver perdas, inclusive de default (calote) de Estados e municípios, como evidenciaram os resultados dos testes de estresse de capital, que medem a capacidade de cada banco de assimilar prejuízos, feitos pelo BC. “O índice de cobertura para ativos problemáticos continua em patamar confortável, em torno de 83%”, disse Souza.
Em ano de eleições gerais, são maiores as ameaças aos bancos provenientes do quadro político e da política fiscal. Não são, é claro, desafios só para os bancos, mas para a maioria dos agentes econômicos, que têm de tomar decisões em meio a incertezas.
O diretor do BC tratou com cuidado da concentração bancária, um obstáculo à queda dos juros ativos. Mas a questão só será discutida em maio, após a divulgação de dados no Relatório de Economia Bancária.
Os indicadores do REF mostram que o crédito – com destaque para o imobiliário e o consignado, entre os que mais cresceram nos últimos seis anos – dependeu das famílias. É mais que hora de que aumente também a oferta de crédito às empresas, cuja recuperação financeira decorre da melhora da atividade econômica.