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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Soluço na confiança?

É crucial saber se a confiança de empresários e consumidores seguirá caindo, ou se o recuo desses índices em março foi apenas um soluço

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Atualização:

Os índices de confiança apresentaram recuo significativo em março, refletindo uma frustração com os indicadores de atividade econômica ao longo do primeiro trimestre e também uma preocupação com a recente turbulência no cenário político, o que afetou o andamento da proposta de reforma da Previdência no Congresso.

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A questão crucial é saber se a confiança de empresários e consumidores seguirá caindo, o que pode prejudicar mais o desempenho da economia nos próximos meses, ou se o recuo desses índices em março foi apenas um soluço.

Com a melhora no clima político em Brasília nos últimos dias, com acenos de paz entre o presidente Jair Bolsonaro e as principais lideranças políticas, em particular Rodrigo Maia, que comanda a Câmara dos Deputados, cresceu a esperança de que a tramitação da reforma da Previdência ganhe novo ímpeto e comece a avançar.

Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança empresarial caiu para 94,0 pontos em março, menor nível desde outubro de 2018. Já o índice da confiança dos consumidores, divulgado na semana passada, registrou queda de 5,1 pontos, para 91 pontos, também o menor patamar desde outubro de 2018. O componente que mede a avaliação dos consumidores sobre a situação atual recuou 1,5 ponto, mas o que reflete as expectativas para os próximos meses tombou 7,6 pontos.

Também apresentaram queda em março os índices de confiança da indústria (-1,8 ponto), da construção (-2,5 pontos), do comércio (-3,2 pontos) e de serviços (3,5 pontos). Ou seja, houve uma queda generalizada da confiança dos agentes econômicos nos quase 100 primeiros dias do governo Jair Bolsonaro.

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“É interessante notar que, embora tenha havido uma pequena correção na maior parte dos indicadores de condições correntes no mês passado, a maior parte dos ajustes aconteceu nos índices de expectativas”, comenta o economista-sênior do Haitong Banco de Investimento, Flávio Serrano. “Provavelmente essa queda mais acentuada aconteceu por conta do maior ruído político e da piora do sentimento em relação à aprovação da reforma da Previdência.”

De fato, até a última semana de março, o fluxo do noticiário político, em particular sobre o andamento da reforma da Previdência, estava bem mais negativo. Esse projeto ficou parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Apenas na quinta-feira passada, dia 28, é que foi escolhido o relator da reforma na CCJ, o delegado Marcelo Freitas (PSL-MG). Por falta de um relator e pelo clima hostil entre os parlamentares, o ministro da Economia, Paulo Guedes, adiou a ida à Comissão para debater o projeto, o que deve finalmente acontecer amanhã.

Aliás, após a trégua selada entre Bolsonaro e Maia, cujo tiroteio verbal ao longo de março deixou os investidores nervosos, Guedes assumiu a articulação política da reforma da Previdência no Congresso. Já ontem o ministro encontrou-se com parlamentares do PSD, DEM, PRB e PSL, o partido do presidente Bolsonaro, para falar do tema.

À medida que a tramitação da reforma ganhe fôlego na Câmara, o bom humor dos investidores poderá contaminar o sentimento de empresários e consumidores. A votação do projeto na CCJ deve acontecer no dia 17 de abril, passando a próxima etapa para a Comissão Especial.

No cenário mais otimista, se a articulação política do governo ganhar tração e finalmente angariar o apoio necessário para a reforma da Previdência, a votação do projeto poderá acontecer na Câmara ainda no primeiro semestre.

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Poderá a melhora na confiança de empresários e consumidores conter a onda de revisões para baixo nas estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, que já se encontram abaixo de 2,0%?

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“Não está muito claro na literatura econômica se pesquisas de confiança são bons indicadores para o desempenho futuro do PIB”, explica Flávio Serrano, do Haitong. “Entretanto, elas têm uma grande vantagem de nos trazer informações sobre o comportamento da atividade mais rapidamente que as pesquisas de produção ou de faturamento, por exemplo.”

É possível que uma melhora nos índices de confiança tenha, sim, um papel mais relevante para o desempenho da economia no segundo semestre deste ano, em particular o componente que mede as expectativas, mas isso depende de um fator preponderante: a aprovação da reforma da Previdência. Já a avaliação da situação atual vai demorar a evoluir, especialmente quando mais de 13 milhões de brasileiros ainda estão desempregados.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

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