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Soros defende mais ajuda financeira ao Brasil

Para o megainvestidor, com juros internacionais em 25%, o País será levado à bancarrota

Por Agencia Estado
Atualização:

O megainvestidor George Soros resumiu ontem o intenso nervosismo que a esperada vitória do candidato dos Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições presidenciais do próximo domingo provoca nos meios financeiros internacionais ao dizer que a alta dos juros que o mercado exige do Brasil levará o País à bancarrota. ?O Brasil elegerá um presidente de quem os mercados financeiros não gostam?, disse Soros, em entrevista ao programa This Week, da rede ABC. ?A taxa de juros (internacional do País) está em 25%?, continuou ele, referindo-se ao risco Brasil, que fechou em mais 2.400 pontos acima do títulos do Tesouro americano, na sexta-feira. ?Nesse nível, o Brasil está em bancarrota.? A crise ?poderia ser evitada, porque tudo o que é preciso é um emprestador de último recurso?, disse Soros, para defender ?mais ajuda (dos organismos financeiros internacionais) a países que estão caminhando na direção correta?. O comentário do megainvestidor veio em resposta a uma pergunta sobre os méritos de uma ação militar preventiva dos EUA contra o Iraque. ?Eu acredito em ação preventiva, mas ela deveria ser construtiva?, disse, chamando a atenção para a situação do Brasil. Soros disse que um descarrilhamento da economia brasileira ?teria repercussões bastante severas? para a economia mundial. Ele ?afetaria, por exemplo, o sistema financeiro (dos EUA), (porque) temos muito bancos envolvidos (com o Brasil); temos montadoras de automóveis no Brasil, de forma que (uma crise no País) seria um grande choque negativo no mercado?. A apreensão manifestada por Soros foi a tônica das intervenções de executivos de bancos internacionais num seminário realizado ontem pela Federação Brasileira de Bancos, Febraban, num hotel no centro de Washington. Economistas brasileiros que já se manifestaram publicamente favoráveis à candidatura do senador do PSDB, José Serra, como Eliana Cardoso, consultora do Banco Mundial, e Paulo Leme, analista do Goldman Sachs, disseram que a quebra do Brasil não é inevitável. Segundo eles, o País poderá completar a travessia ao próximo governo recuperando a estabilidade e preservando os ganhos conquistados durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. A mesma tese é defendida pela alta direção do FMI, que negociou com o Brasil uma linha de crédito de US$ 24 bilhões a ser desembolsada no próximo governo, com a condição de que seja mantida a atual política econômica. Altos executivos de bancos brasileiros procuraram também transmitir alguma tranqüilidade informando, em conversas laterais, que o PT está construindo pontes com o mercado financeiro brasileiro, já tem grupos de trabalho atuando com banqueiros sobre questões específicas. Eles também comentavam que o presidente Fernando Henrique Cardoso já estaria pessoalmente empenhado num grande esforço para preparar Lula e sua equipe a dar os passos necessários para acalmar o mercado tão logo as urnas confirmem sua eleição. Choque Paulo Leme disse que Lula precisa dar ?um choque de credibilidade? no mercado. ?A situação é complexa, o quadro internacional é muito difícil, mas a situação externa da economia do Brasil é altamente administrável, desde que a nova administração dê uma mensagem clara ao mercado, anunciando a escolha de uma equipe econômica extraordinária, tão boa ou melhor do que atual, e reafirme o compromisso do País não apenas com as reformas mas com a melhora da qualidade do ajuste fiscal.? Segundo Leme, ?essa surpresa pode gerar uma reação de mercado sensacional, com acentuada queda de juros e retorno de capitais ao País?. Já o distanciamento dessa possibilidade, que poderia se dar com uma decepção do mercado diante dos nomes da próxima equipe econômica, ?pode gerar uma crise muito profunda?. Leme juntou-se ao coro dos analistas que lamentaram, nos últimos dias, a decisão de Lula de descartar, a priori, a permanência de Armínio Fraga no Banco Central (BC). ?Faltou visão ao excluir uma pessoa tão qualificada como o Armínio; o Brasil tem poucos quadros como ele; e a questão não está apenas no comando do BC, mas também na Fazenda, no BNDES, no Planejamento, no Banco do Brasil e na coerência dessas escolhas?, disse. ?A escolha de um nome de vitrine para o BC não resolverá o problema e duvido que as pessoas que vêm sendo mencionadas aceitem um papel de vitrine?, concluiu, referindo-se a Afonso Celso Pastore e Claudio Haddad.

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