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Spac: Empresas ‘cheque em branco’ captam US$ 2 bi nos EUA para compras no Brasil

Nas chamadas Spacs, o investidor não conhece a companhia na qual vai investir, mas sim os gestores do dinheiro, que captam os recursos para comprar uma empresa em determinada área

Foto do author Altamiro Silva Junior
Foto do author Cynthia Decloedt
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast) e Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:

As "empresas cheque em branco", tecnicamente chamadas de Spac (Companhia de Aquisição com Propósito Específico, na sigla em inglês), nunca captaram tanto quanto nos últimos meses e estão com bilhões de dólares para fazer aquisições na América Latina, especialmente no Brasil

Só neste ano, já são US$ 2 bilhões em ofertas realizadas na Nasdaq de gestoras como XP, Dynamo, Valor Capital, Pátria e Crescera. Essas empresas são chamadas de “cheque em branco” porque o investidor não conhece a companhia final na qual vai investir, mas sim os gestores do dinheiro, que captam os recursos para comprar uma empresa em determinada área. 

Spacs nunca captaram tanto quanto nos últimos meses; só neste ano, já são US$ 2 bilhões em ofertas realizadas na Nasdaq. Foto: ANDREW KELLY/REUTERS

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Nos bancos de investimento, a avaliação é de que o mercado brasileiro deve receber mais Spacs em 2022, inclusive com ofertas na B3. A empresa de serviços financeiros Alvarez & Marsal (A&M), com sede em Nova York, foi a primeira a conseguir autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fazer a captação via Bolsa brasileira.

Como mostrou a Coluna do Broadcast, a data do lançamento da oferta ainda não foi definida, tampouco o montante a ser levantado. No mercado, comenta-se que a A&M buscaria algo como R$ 1 bilhão. Com os recursos, a A&M terá que encontrar empresas para investir em um prazo de dois anos. A expectativa é de que a Spac da Alvarez & Marsal abra caminho para o lançamento de outras na B3. 

Busca por rendimentos está por trás do crescimento das Spacs

O primeiro fator que contribuiu para o boom desse tipo de captação, segundo banqueiros de investimento, foi a procura por rendimento. Quando o investidor compra papéis de uma Spac na oferta pública, mesmo que a empresa não encontre ativos para adquirir no curto prazo, seu dinheiro é remunerado e, em condições de juro baixo, dá melhor retorno do que se ficasse em um fundo de investimento normal.

Por isso, com os juros perto de zero nos países desenvolvidos e com o excesso de liquidez no mercado financeiro mundial, as "empresas cheque branco" conseguiram atrair forte demanda de investidores em busca de diversificação. As gestoras, com algumas exceções, têm tido facilidade para captar recursos com Spacs em Nova York. 

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Como esse tipo de operação é nova no País, é preciso mais tempo de maturação do mercado, diz um executivo da Faria Lima. Enquanto menos de dez Spacs foram lançadas aqui este ano, nos Estados Unidos, já são em torno de 400. Para essa fonte, com o mercado mais difícil para ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), a Spac pode ser uma opção de captação de recursos para companhias com planos de abrir o capital em 2022.

A sócia do escritório de advocacia Demarest, Ana Carolina Audi, afirma que, em momentos de turbulência, como o atual na Bolsa brasileira, a Spac pode ser uma boa opção justamente pela proteção e remuneração ao capital do investidor, até que o ativo alvo seja encontrado pela Spac.

"Em um momento difícil de mercado, opções de investimento que garantem o principal investido com alguma correção são sempre bem vindas", diz. Ela afirma que o investidor não fica sujeito à oscilação de mercado e que as Spacs de empresas com experiência e bom histórico de mercado deveriam ser privilegiadas. “Não conheço um produto tão seguro, que tenha a garantia de renda fixa e que, se o investidor não gostar da combinação de negócio, pode resgatar o principal, sem risco.”

Quais são os alvos das Spacs no Brasil

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As áreas preferidas das "companhias cheques em branco" são os setores de saúde e tecnologia, para aquisição com empresas de valor de mercado na casa de US$ 1 bilhão. No Brasil, esse universo não é tão grande. Seriam em torno de 60 ou 70 empresas privadas, nos cálculos de um banco estrangeiro, considerando as companhias que ainda não foram à Bolsa.

"Aí fica todo mundo batendo cabeça nas mesmas", diz a fonte desse banco. Para o dono da companhia que pode ser alvo de uma Spac, fica a dúvida se vale a pena diluir o capital e se a gestora vai de fato agregar valor ao negócio, pois, em vários casos, os sócios não têm histórias de investimentos bem sucedidas nesses segmentos.

Ana Carolina Audi, do Demarest, afirma que, ao contrário, essa é uma oportunidade para que empresas cheguem à Bolsa sem ter de passar pelo processo de abertura de capital e ao crivo de investidores que, muitas vezes, priorizam o retorno de curto prazo. "Por exemplo, as companhias de tecnologia têm recebido alto investimento de fundos de private equity, são alvo de combinações de negócios bem sucedidos e apresentam potencial rentabilidade que talvez não seja suficiente para entrar na Bolsa”, diz.

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Obstáculo

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Após o boom recente de ofertas de ações, o presidente de um banco de investimento afirma que o ritmo de captações de Spacs voltados ao Brasil e à América Latina pode perder fôlego, principalmente por causa da elevação dos juros ao redor do mundo. Nesse ambiente, o investidor tem mais opções de diversificação.

Outra razão é a falta de boas empresas para aquisição. Normalmente, o prazo entre a captação do Spac e o limite para a compra é de dois anos. Após esse período, é preciso rediscutir parâmetros e prazos ou encerrar a "empresa cheque em branco". Segundo fontes, há Spacs no Brasil discutindo extensão de prazos, já perto da data limite para fazer uma aquisição.