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Startups facilitam acesso do agricultor à tecnologia

Por meio de aplicativos no celular, pequenos e médios produtores conseguem melhorar desempenho; conectividade ainda fica a dever

Foto do author Isadora Duarte
Por Isadora Duarte (Broadcast), Tania Rabello e Vinicius Galera
Atualização:

As novas tecnologias desenvolvidas por startups são “mais acessíveis ao agricultor”, avaliou o vice-presidente da Corteva Agriscience, Jair Afonsto Swarowsky, que participou, no dia 13 de novembro, do Summit Agronegócio Brasil 2019, em São Paulo

Summit Agronegócio Brasil 2019,realizado no hotel Hilton Morumbi. Na foto, Sergio Barbosa, Otávio Celiônio, Lúcio André de Castro Jorge, Jair Afonso Swarowsy, Eduardo Polidoro e Alon Lavi Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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“Algumas tecnologias ainda não são acessíveis, mas há várias que estão ao alcance inclusive dos pequenos produtores, como as que podem ser acessadas por celular”, disse, citando como exemplo algumas tecnologias com uso de imagem de satélite. Ele citou que, sob este aspecto, a Corteva desenvolveu uma startup no Vale do Silício, a Granular, com o objetivo de monitorar lavouras.

A Claro, do setor de telecomunicações, também busca desenvolver soluções para os produtores rurais, inclusive em gestão. “Levamos soluções tanto para grandes produtores como para pequenos e médios, cujos problemas de gestão ainda não estão tão bem resolvidos”, disse o diretor de negócios de IoT da Claro, Eduardo Polidoro. “Temos soluções completas, como, por exemplo, monitoramento de microclima, para atender a uma demanda de mercado também dos pequenos e médios produtores.”

Limitações

Algumas soluções mais inovadoras ainda não são, porém, tão acessíveis aos pequenos e médios produtores, avalia o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) e coordenador do Programa Agrihub, Otávio Celidônio. “É difícil incluir o pequeno produtor em programas de tecnologia mais incipientes por questões de capitalização. Ele não está capitalizado para absorver falhas do processo de pesquisa e desenvolvimento”, disse. Para ele, para que a tecnologia chegue ao pequeno produtor é necessário primeiro que o mercado, por meio dos centros de pesquisa e dos grandes produtores, assuma os custos de desenvolvimento e teste de operação. 

O cônsul geral de Israel no Brasil, Alon Lavi, contou que, sem tecnologia, inclusive para os pequenos produtores, a escassez de água em seu país seria um sério impeditivo. Ele comentou que em Israel 80% da água potável é reciclada e reutilizada para a agricultura. “Precisamos criar soluções para viabilizar a agricultura, e temos muitos trabalhos nessa área.” Assim, Lavi disse que Israel desenvolveu tecnologias para pequenos produtores, que não precisam pagar pela eletricidade nem pelas bombas para acionamento de sistemas de irrigação. 

O gerente executivo da EsalqTec, Sérgio Barbosa, ressaltou, porém, que outro obstáculo é a falta de cultura colaborativa no setor tecnológico, embora isso esteja mudando, com as empresas 4.0, que integram tecnologias de vários setores. Ele citou que, em nível internacional, o Brasil enfrenta uma barreira em sua agricultura, por ser de clima tropical. “É uma barreira natural quando se fala em importar tecnologias. Muitas vezes importamos soluções que não são ideais ao nosso clima.”

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Palco Tech

Durante o Summit, uma série de startups ligadas ao setor agropecuário apresentou suas soluções e debateu justamente o tema de acessibilidade da tecnologia ao campo. Fintechs, por exemplo, ganham cada vez mais espaço no agro. As startups voltadas para a oferta e a facilitação do acesso ao sistema financeiro ainda enfrentam, porém, dificuldades relacionadas à conectividade e à desconfiança do mercado, mas estão empenhadas em oferecer aos produtores serviços capazes de otimizar custos e incrementar negócios.

Ao todo, oito startups (veja abaixo) se apresentaram no Palco Tech do Summit. O CEO e fundador da Interchains – startup de geração de novos modelos de negócios que utiliza a tecnologia blockchain –, Eduardo Figueiredo, disse por exemplo que sua empresa pretende fazer um redesenho do financiamento de crédito rural no Brasil. “Estamos trabalhando num histórico de dados para levar um produto acabado, de melhor qualidade e com procedência.” 

Target Meio de Pagamentos

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A Target Meio de Pagamentos, apresentada pelo diretor comercial, Fernando Vogt, criou uma conta digital especial para caminhoneiros. Nela, os motoristas podem administrar os pagamentos do frete, além de terem acesso a outros serviços semelhantes aos disponíveis em bancos digitais. “Nós achamos que chegou a hora de trazer alguma coisa para o caminhoneiro não só na regularização, mas também uma nova abordagem para inseri-lo no sistema bancário”, disse Vogt. Segundo ele, de 800 mil caminhoneiros autônomos do País, estima-se que 300 mil não tenham conta bancária. 

Traive 

A fintech Traive atua na área de crédito rural, com a utilização de inteligência artificial para facilitar o acesso de produtores. Segundo a co-fundadora da Traive, Aline Pezente, a inovação de startups direcionadas ao setor agropecuário ainda não está muito presente na área de financiamento à produção rural.

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Co-fundadora da Travie Aline Pezente Foto: Nilton Fukuda/Estadão

“A grande maioria das inovações no agro está concentrada em fazer melhores e mais eficientes os sistemas de produção”, diz ela. Mas Aline ressaltou que a tecnologia desenvolvida por startups tem muito valor. “A agricultura tem necessidade de custo menor e de menos burocracia”, diz. 

Interchains 

A Interchains, startup que desenvolve novos modelos de negócios a partir da tecnologia blockchain (sistemas de bases de dados compartilhados), quer fazer um redesenho do crédito rural no Brasil. É o que afirma o CEO e fundador da empresa, Eduardo Figueiredo. “Estamos trabalhando num histórico de dados para levar um produto acabado, de qualidade e procedência”, conta. “Nosso objetivo é criar uma plataforma única, na qual os setores interessados venham a participar com dados diversos para enriquecer essa base e trabalhar com consulta, como uma Serasa do grão, com o rating de cada produtor.” 

Agrosmart 

Uma das startups pioneiras do universo rural, a Agrosmart vem diversificando seus serviços. Até o fim deste ano, a empresa, especializada nos segmentos de irrigação, previsão do tempo e de pragas e doenças por meio de monitoramento das lavouras, deve lançar produtos direcionados ao setor financeiro, segundo a CEO da empresa, Mariana Vasconcelos. “Os produtores que tiverem Agrosmart vão ter acesso a uma taxa mais barata de crédito e de seguro rural”, diz. Segundo Mariana, a ideia é que, no primeiro trimestre de 2020, sejam criadas linhas de produtos mais específicos e acessíveis para os produtores. 

Bart Digital 

A Bart Digital é uma startup que oferece soluções digitais para facilitar o acesso do produtor rural ao crédito fora dos recursos subsidiados das linhas oficiais. Segundo a diretora executiva da Bart, Mariana Bonora, o crédito oficial do Plano Safra atende apenas a 30% das necessidades do campo. Assim, a startup dispõe de sistemas de monitoramento via satélite das lavouras, que dão segurança para os financiadores. “Desta forma, fica mais palpável onde o financiador está colocando o seu dinheiro”, informa ela, acrescentando que a ferramenta também diminui o risco e a burocracia. 

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Agsus Agrifunding

A Agsus Agrifunding é voltada para a transformação estratégica de empresas no agronegócio. Para o CEO da Agsus, Djalma Lima, num futuro muito próximo, 33% das funções hoje existentes no mercado de trabalho deixarão de existir. Diante disso, a Agsus busca ajudar os clientes a incorporar conceitos que contribuam para a sustentabilidade do negócio.

CEO da Agsus, Djalma Lima Foto: Nilton Fukuda/Estadão

“Na Agsus, buscamos conciliar a excelência nos processos com a informação disruptiva”, disse. O trabalho é auxiliar os clientes na gestão de pessoas com as melhores práticas, avaliações de risco e mapas de oportunidades relacionadas ao negócio. 

Embrapa 

A transformação digital está exigindo agricultura muito mais preditiva, diz a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá. E a Embrapa tem muito a contribuir. A empresa tornou-se referência em agricultura tropical graças a uma visão da produção baseada na ciência. Segundo Silvia, o mundo da agricultura 4.0 é o das fazendas conectadas. Já o 3.0 é o dos sistemas guiados e da agricultura de precisão. O gargalo é a conectividade. “O Brasil é um dos maiores consumidores de internet. Embora tenhamos aumentado 1.790% o acesso via celular em dez anos, precisamos avançar na conexão no campo.” 

Célula de Produto Rural (CPR)

A Célula de Produto Rural (CPR) digital, lançada pela Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) por meio da plataforma Bolsa Agro CPR, pode emitir CPR por meio digital, com juntada eletrônica de documentos e assinaturas digitais certificadas e legalmente válidas. Para o diretor-geral da BBM, Cesar Henrique Costa, “a certificação digital assegura a validade jurídica e aumenta o fluxo das operações”. A CPR tem sido um importante financiador do agronegócio com recursos privados. Ao emitir uma CPR, o produtor recebe recursos para financiar a produção e se compromete a liquidar o título ou de forma física ou financeira.

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