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Substituição de importações chega ao varejo

Por Agencia Estado
Atualização:

Os varejistas que trabalham com artigos importados resolveram ampliar o espaço em suas gôndolas para produtos nacionais em reação à alta do dólar. Grandes varejistas e até importadores diminuíram a resistência para os produtos fabricados no Brasil, como vinhos e alimentos finos, para não inflacionar suas tabelas de preços com a desvalorização do real. "É um contra-ataque com produtos nacionais", diz o diretor comercial do Empório Chiapetta, Leonardo Chiapetta, que trabalha com mais de mil itens em suas lojas em São Paulo. Desde meados de 2002, a empresa passou a desenvolver fornecedores locais para preparar receitas típicas européias como a mortadela com pistache, antes trazida de Bolonha, na Itália, e hoje preparada por uma pequena empresa do sul de Minas Gerais. Também o torrone típico italiano agora é entregue ao empório por uma empresa de Capão Bonito (interior de SP). "Já substituímos 100 produtos", avalia Chiapetta. No Natal, por exemplo, as frutas secas mais famosas como damasco, figo ou tâmaras deram lugar às frutas tropicais secas como banana e maçã preparadas pelo método de desidratação. As castanhas espanholas também foram substituídas por castanhas trazidas de Campos do Jordão, região fria e montanhosa do Estado de São Paulo. O Empório Chiapetta também abriu espaço para os vinhos e a cachaça, outro produto típico brasileiro. As duas bebidas tomaram o terreno do uísque estrangeiro, que teve seu espaço reduzido nas gôndolas das lojas. Tradicionalmente, o empório trabalha com 90% dos itens importados. A proposta é baixar esse índice para 70% ou 80%. Leonardo não revela números, mas admite que houve uma queda de 20% na receita no ano passado em relação a 2001, em grande parte por conta do dólar. Vendas garantidas Quem tinha nas prateleiras a alternativa local e ficou livre da oscilação de preço, não perdeu vendas, afirma o consultor de vinhos da rede Pão de Açúcar, Carlos Ernesto Cabral de Mello. Embora não saiba precisar o montante, o especialista garante que o produto nacional foi responsável pelo aumento das vendas da seção de vinhos do grupo em 2002. Foram vendidas 1,202 milhão de caixas de vinhos (cada caixa tem 12 garrafas) no ano passado, 50 mil caixas a mais que em 2001, o equivalente a 600 mil garrafas extras. De 1,5 mil rótulos de vinhos presentes nas lojas da rede, 75% são nacionais. Cabral explica que o aumento de vendas só não foi maior porque faltou o frio do inverno para ampliar o comércio de vinho. A fabricante Salton, uma das fornecedoras do Pão de Açúcar, atestou essa realidade. "Aumentamos em média 25% as vendas da linha Prosecco para as lojas do grupo", comenta Ângelo Salton Neto, diretor presidente da empresa. A Salton faturou R$ 110 milhões em 2002, 10% a mais que no ano anterior. Pesquisa Outras importadoras seguem os passos do Empório Chiapetta e devem experimentar a entrada em suas lojas de artigos finos, como vinhos, conservas e geléias made in Brazil para conviver com artigos importados. De acordo com o diretor comercial da La Pastina, Celso La Pastina, a empresa está em fase de pesquisa e seleção de fornecedores locais. "Não se trata de substituição, é uma ampliação das linhas", despista. O grupo Expand, que já trabalha com alguns artigos nacionais, deve focar ainda mais esses produtos em suas 16 lojas. "Já temos vinhos de qualidade nacional que permitem essa oferta", avalia o diretor comercial da Expand, Luiz Gastão Bolonhez. Essa adaptação nacional, no caso dos vinhos, só foi possível porque os consumidores mostraram receptividade tanto ao preço quanto ao sabor do produto nacional. "Como alguém pagava R$ 60 por um vinho que perdeu para o nosso em um concurso internacional?", questiona o diretor de marketing da Miolo, Carlos Nogueira. A Miolo vem colecionando títulos internacionais, como a medalha de ouro, em 2002, no Vinitali, evento realizado na Itália, com o Moskadel Espumante. Também a Salton ganhou medalha de ouro na França, em 2001, no evento Burge Gironde com o Prosecco Salton. "A venda desse vinho cresceu 50% em 2002", diz Angêlo Salton Neto. A explicação é simples, segundo ele. "Enquanto um similar italiano custa R$ 60, o nosso custa em média R$ 18" , afirma. Salton acredita que a indústria nacional tem muito terreno ainda a tomar dos importados. "Produzimos 30 milhões de garrafas de vinhos finos no País e importamos outros 30 milhões. Podemos tomar esse espaço dos concorrentes estrangeiros." Tecnologia Os louros dos produtos nacionais, entretanto, só foram colhidos no ano passado porque a indústria de vinho nacional assumiu a missão de competir com os vinhos importados desde meados da década de 90. Só a Salton investiu R$ 5 milhões nos últimos cinco anos para adquirir equipamentos de última geração, como prensas francesas e filtros italianos, para aperfeiçoar a produção. A empresa investiu ainda R$ 15 milhões para montar uma nova vinícola em Bento Gonçalves (RS), considerada uma das maiores do Brasil, com 27 mil metros quadrados. Para o consultor de vinhos do Pão de Açúcar, Carlos Ernesto Cabral de Mello, o espaço tomado pela indústria brasileira este ano não será perdido, mesmo que o importado venha a se tornar mais barato, caso o dólar perca força. "Quem toma vinho e gosta é fiel à marca", garante.

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