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Sucessor de FHC terá R$ 83 bilhões em caixa

Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário do Tesouro, Eduardo Guardia, afirmou em entrevista que, mesmo com a permanência da crise financeira forte e de um quadro econômico igual ao das últimas cinco semanas, o próximo presidente da República receberá um caixa em ótima situação, com pelo menos R$ 83 bilhões. Haverá dinheiro suficiente para pagar a folha, que será próxima de R$ 6 bilhões, a conta mensal da Previdência, de R$ 7 bilhões, e os R$ 4 bilhões de custeio da máquina. Mais importante que isso, o caixa estará forte o suficiente para afastar, pelo menos nos três primeiros meses de 2003, o risco de um calote da dívida pública. Dos R$ 83 bilhões, R$ 26 bilhões são o "colchão de liquidez" montado pelo governo para honrar os títulos da dívida pública que vencem no primeiro trimestre. O futuro presidente poderá, com esse dinheiro, enfrentar qualquer tipo de desconfiança do mercado financeiro. Mesmo se o novo governo não conseguir vender um único título da dívida pública entre janeiro e março, terá dinheiro suficiente para resgatar os papéis que vencerão no período. "Queremos fazer mais e entregar o caixa mais alto possível", afirmou o secretário. "Os R$ 83 bilhões são o que conseguiremos fazer se forem mantidas, até o final do ano, as mesmas condições de mercado que prevaleceram nas últimas cinco semanas, que foram extremamente tensas." Em outras palavras, quanto menor o nervosismo nas próximas semanas, mais gordo será o caixa entregue ao sucessor de Fernando Henrique Cardoso. Guardia explicou que o Tesouro procurará, ao longo das próximas semanas, captar o maior volume possível de recursos com a emissão de títulos da dívida pública. A captação tem sido, na média, de R$ 2,1 bilhões nas últimas 5 semanas. Se for mantido esse ritmo nas 13 semanas que faltam para encerrar o ano, será a conta certa para deixar em caixa os R$ 26 bilhões necessários para pagar a dívida do início de 2003. A aceitação dos papéis pelo mercado, porém, depende das expectativas dos analistas sobre o que acontecerá na economia brasileira a partir de janeiro. Guardia lembrou que a turbulência no mercado é, em boa parte, motivada pelo quadro internacional adverso, em que as perspectivas de baixo crescimento na economia mundial são agravadas com o risco de um conflito no Oriente Médio. "Mas não é só o cenário internacional", disse. "São incertezas nossas e temos de lidar com isso." Recordes - Segundo o secretário, não haverá problema fiscal algum nas poucas semanas que faltam para o final do governo Fernando Henrique. O ingresso no caixa, com a arrecadação da Receita Federal, tem batido recordes sucessivos e houve folga para, na semana passada, liberar mais R$ 1,5 bilhão em despesas e ainda assim assegurar o cumprimento das metas de superávit primário de 3,88% do Produto Interno Bruto (PIB) para o conjunto da administração pública do País. Esse porcentual foi fixado pelo atual governo. Não vale para o próximo, cuja meta é de 3,75% A administração da dívida pública fica mais difícil no quadro turbulento, mas o governo estava preparado. "Sabíamos que o período eleitoral seria conturbado, e está sendo mais do que eu, pelo menos, esperava", admitiu Guardia. No entanto, há mais de um ano o Tesouro começou a formar uma reserva de caixa para enfrentar esses meses de maior incerteza. Guardia tem hoje como uma de suas principais missões evitar que o próximo secretário do Tesouro Nacional encontre uma situação parecida com uma que ele próprio viu de perto quando Mário Covas assumiu o governo paulista, em 1995. Naquela época, Guardia era um dos encarregados do fluxo de caixa do Estado. Ao assumir, em 1.º de janeiro, Covas encontrou R$ 36 milhões nos cofres estaduais. Quatro dias depois, teria de pagar uma folha de salários de R$ 600 milhões. Seu primeiro ato como governador foi parcelar o pagamento aos funcionários públicos. "Agora, essa situação não se coloca, absolutamente", afirmou o secretário. "A nossa posição de caixa muito sólida."

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