Publicidade

Suíça investiga quatro doleiros brasileiros

Há um mês, agentes daquele país estiveram no Brasil para fazer interrogatórios e colher depoimentos

Por Jamil Chade
Atualização:

O Ministério Público da Suíça abriu investigação contra quatro doleiros brasileiros por suspeita de lavagem de dinheiro. O Estado obteve confirmações de que, há cerca de um mês, investigadores suíços viajaram até o Brasil para fazer interrogatórios e colher depoimentos secretos. Alguns doleiros ainda foram obrigados a ir até a Suíça nas últimas semanas para prestar depoimentos, todos mantidos em absoluto sigilo. O Ministério Público Suíço se recusa a divulgar o nome dos envolvidos e suspeitos. Se forem condenados, a Justiça daquele país prevê até a prisão desses doleiros. Mas, por enquanto, o Ministério Público da Suíça não quer confirmar nem se bancos estão também sendo investigados ou se operações específicas são o alvo do processo. Uma das suspeitas está relacionada com as atividades de doleiros e colaboradores dos bancos UBS e Credit Suisse no Brasil. No processo, porém, nenhum gerente de conta é citado ainda. Uma semana atrás, o Estado publicou documentos que mostram o conteúdo de gravações telefônicas da Polícia Federal no Brasil, identificando conversas entre doleiros e gerentes de bancos, como o UBS. Em uma delas, a gerente do UBS Ana Paula Costa pede que uma doleira entre em contato com um cliente para fazer uma transferência. Ana Paula Costa continua trabalhando para o banco, em Genebra. No Brasil, as investigações vêm ocorrendo desde 2005. Elas provocaram a prisão de um banqueiro suíço em 2006 e em operações em 2007. Oficialmente, a assessoria de imprensa do Ministério Público da Suíça evita dar detalhes sobre as investigações. "O trabalho do Ministério Público é basicamente confidencial e estamos obrigados a seguir o segredo profissional que nos impede de comunicar de forma extensiva", explicou Jeannette Balmer, porta-voz do procurador-geral da Suíça. Mas uma das pessoas que esteve dentro das salas nos interrogatórios em Berna confirmou que alguns dos interrogatórios com os doleiros chegou a durar mais de cinco horas. Por enquanto, porém, a Justiça suíça não estaria investigando a conta Gela que, segundo revelado por uma ex-colaboradora do Credit Suisse, Claudine Spiero, foi usada pelo banco para fazer a transferência de recursos de clientes brasileiros ao exterior. Balmer, da procuradora-geral da Suíça, também não respondeu se essa conta era alvo de uma investigação. Em 2008, os brasileiros foram a terceira nacionalidade mais processada na Suíça por lavagem de dinheiro, segundo a Polícia Federal do país. SIGILO EM XEQUE A Suíça é conhecida por seu sistema de sigilo bancário e por ter um terço de toda a fortuna privada do mundo em seus cofres, cerca de US$ 7 trilhões. Pressionado, o país começou a fazer investigações sobre lavagem de dinheiro e corrupção. A evasão fiscal, porém, continua protegida e está gerando um amplo debate no país. Há mais casos envolvendo brasileiros do que ligados à máfia russa ou aos cartéis de droga da Colômbia. Nigéria e outros países africanos também têm menos casos que o Brasil. Os suíços afirmam que grande parte das denúncias vem dos próprios bancos locais, que não querem confusões com clientes. Pela lei suíça, os bancos são obrigados a informar sobre atividades suspeitas. Sessenta e sete por cento dos casos identificados pela polícia foram denunciados pelos bancos. Mas, na realidade, as instituições não colaboram por boa vontade. Os bancos identificados por processos na Justiça têm duas opções: cooperar e sair do caso como um aliado da polícia, ou ser identificado como suspeito de ter colaborado para a lavagem de dinheiro. No ano passado, seis banqueiros suíços foram condenados por terem ajudado fiscais de renda no Rio a lavar dinheiro de corrupção - caso que ficou conhecido no Brasil como "Propinoduto". Suas penas, porém, foram leves.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.