Por adaptação, empresas buscam equilíbrio entre lucro e propósito

Exemplo é o Grupo Gaia, que vendeu ativos e se dedica hoje só a projetos que apresentem impactos socioambientais

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Por Eduardo Geraque
3 min de leitura

Cabruca. É uma palavra talvez pouco conhecida da maioria das pessoas, mas que tem muito significado para os cacauicultores do Sul da Bahia. Depois do fungo vassoura da bruxa ter falido muitas propriedades em Ilhéus e adjacências no final do século 20, a ciência, o empirismo e muito suor conseguiram reverter a situação. 

O termo é uma referência a uma das técnicas mais usadas pelos produtores de cacau atualmente na terra consagrada pelas obras de Jorge Amado. Em harmonia com a Mata Atlântica, na sombra das árvores do bioma, a planta do cacau cresce. É uma espécie de ganha-ganha, uma vez que a floresta permanece em pé. 

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Fábrica de chocolate da Nestlé, no Reino Unido; até 2030, 50% dos ingredientes usados pela empresa deverão vir da agricultura regenerativa. Foto: Phil Noble/Reuters - 21/03/2018

Assim como existem fazendas estruturadas na região, existem também assentados, grupos sociais com enorme dificuldade de obter crédito. Nada melhor, então, do que montar uma operação lastreada nos CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) para turbinar a renda dos pequenos produtores. 

É o que João Carlos Pacífico, CEO Ativista do Grupo Gaia, que participou da montagem da operação ao lado da ONG Taboa Fortalecimento Comunitário e dos institutos Arapyaú e Humanize chama de capitalismo consciente. “Nosso grupo, hoje, vendeu os outros negócios e mantém apenas projetos que apresentam impactos socioambientais. A questão de olhar apenas para o risco/retorno está falida. É preciso olhar também para as externalidades. Do que adianta ter um risco baixo e um retorno excelente mas fruto de algum tipo de trabalho análogo à escravidão”, afirmou o CEO do Grupo Gaia, no Summit ESG do Estadão.

Por mais que dentro do universo ESG se acredite, hoje, que empresas sem impactos positivos não serão mais aceitas e que gerar valor para os parceiros também passa a ser fundamental, nem sempre é fácil implementar essas filosofias na prática. Mesmo porque, os grandes grupos, não podem abandonar o seu negócio principal.

“No nosso caso é uma cultura que vem sendo criada há mais de 15 anos. Estamos cada vez mais próximos dos produtores na nossa cadeia de leite, incentivando, por exemplo, a agricultura regenerativa”, afirmou Bárbara Sollero, Gerente de Milk Sourcing da Nestlé Brasil durante o Summit.

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Ampliação

A multinacional pretende chegar a 2030 com 50% dos ingredientes usados nas linhas de produção obtidos por métodos agrícolas regenerativos. “Um dos grandes pilares dessa tecnologia é o cuidado com o solo. Quanto mais ele ficar descoberto mais carbono será lançado para a atmosfera”, comentou Bárbara, zootecnista de formação.

Em linhas gerais, a agricultura regenerativa visa reunir técnicas com o objetivo de melhorar a fertilidade do solo, além de proteger os recursos hídricos e a biodiversidade da região em que a propriedade se encontra. A Nestlé, inclusive, tem especialistas treinando milhares de agricultores interessados em fazer a transição para métodos mais sustentáveis. “Na faculdade, a gente aprendia que os solos precisavam ser frequentemente arados. Mas isso, hoje, não é mais tão recomendado”, exemplificou Bárbara.

Apesar de admitir que nem sempre a lucratividade é a principal preocupação em alguns negócios, porque o importante é fazer, às vezes, “aquilo que o deixa feliz”, Pacífico lembrou que as operações do Grupo Gaia seguem os padrões oficiais do mercado financeiro e, portanto, buscam sempre dar o devido retorno para os investidores, que sabem exatamente para onde o dinheiro deles está indo. 

A empresa também montou uma operação de investimento para financiar a produção de arroz orgânico em assentamentos do MST. “Pouca gente sabe, mas eles são um dos maiores produtores de arroz orgânico do País”, afirmou o CEO do Grupo Gaia. 

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