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Summit ESG: boas práticas atuam contra risco sistêmico em empresas e dão respostas à sociedade

Empresas assumem novas práticas após mudança do consumidor, hoje mais preocupado com questões sociais e ambientais

Por Eduardo Geraque
Atualização:

O fato de as empresas estarem mudando, e englobando em seus planos estratégicos preocupações ambientais, sociais e de governança, o que vem sendo empacotado pela sociedade na sigla ESG, do inglês, pressupõe uma série de premissas. Uma das principais, segundo Luís Guedes, professor da FIA Business School, é que ninguém gosta de mudar, porque o cérebro humano não está muito ajustado para as incertezas. “As empresas têm mudado porque a sociedade está apresentando o anseio por questões ambientais e sociais”, disse o pesquisador durante o Summit ESG, promovido pelo Estadão, entre os dias 21 e 24 de junho.

Nesse processo existem duas engrenagens dentro das companhias que são vitais para se chegar ao outro lado do rio. “O pilar da governança é absolutamente fundamental. Nesse contexto, cabe ao CEO manejar corretamente o risco. Investir em ESG é diminuir o risco sistêmico da companhia”, explica o especialista com mais de 20 anos de experiência nas áreas de inovação e competitividade. “A questão é como interiorizar essas novas questões na cultura da empresa. Quem não fizer isso tende à irrelevância e, por consequência, não vai conseguir sobreviver”, afirma Guedes. 

Luís Guedes, professor da FIA Business School; para ele, investir em ESG é 'diminuir o risco sistêmico da companhia'. Foto: José Patrício/Estadão - 16/09/2016

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Para o professor da FIA, se o CEO é quem deve lidar com essa nova cultura no dia a dia, cabe ao Conselho de Administração das companhias “hastear a bandeira do ESG dentro das empresas”. Isso porque, segundo Guedes, é uma instância que normalmente não apresenta um viés de curto prazo.

“Nós definimos há 16 anos que a jornada da sustentabilidade precisaria fazer parte, de forma importante, do dia a dia da Schneider”, afirmou Marcos Matias, CEO da Schneider Electric Brasil, no Summit. 

Lá no passado, um dos primeiros desafios, segundo o executivo, foi enfrentar um paradigma. Como uma empresa que vende produtos para o setor elétrico poderia falar em aumento da eficiência energética? Segundo Matias, ao longo dos anos, o engajamento dos colaboradores da empresa foi tão grande que o tema, hoje, está inserido no DNA do grupo. Tanto que a empresa tem metas estipuladas de curto, médio e longo prazo. “Todas as nossas linhas de produção serão carbono neutro até 2040. O que é dez anos antes do estipulado pelo Acordo de Paris”, afirmou Matias. “A Schneider não pode abandonar o seu negócio principal, mas tem também que investir no longo prazo”, sintetizou o executivo, que está desde 1989 no grupo.

Por mais que os planos estejam sobre a mesa, o desafio é diário, como afirmou Shigueo Watanabe Júnior, pesquisador sênior do Instituto Climainfo. “A pergunta que está sobre a mesa é: como os CEOs transformam em realidade um planejamento feito para quando, muito provavelmente, eles não estarão mais na empresa?”

Engajamento

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Ranking divulgado pela Bolsa de Valores do Brasil (B3) no começo deste ano mostra um aumento do engajamento das empresas brasileiras listadas com a agenda ESG. O número de companhias na carteira passou de 40 em 2021 para 46 e a quantidade de setores foi de 15 para 27. De acordo com a B3, as companhias somam R$ 1,74 trilhão em valor de mercado, 38,26% do total das companhias com ações negociadas na B3.

'Centroavantes'

Nas palavras do físico Shigueo Watanabe Júnior, a questão do ESG, ao entrar no coração dos planos estratégicos das empresas, transformou os especialistas no tema dos principais grupos do país em centroavantes. “Antes, eles eram uma espécie de beque central. Ou seja, ficavam apenas evitando que as companhias infringissem alguma lei e tivessem que pagar multas. Agora, uma das questões é como vender créditos de carbono, por exemplo”, explicou pesquisador do Instituto Climainfo, no Summit do ESG do Estadão.

Apesar da evolução, ainda existem muitas incertezas sobre como e o que medir para se sustentar se o tema ESG está sendo devidamente tratado ou não dentro do setor privado. “A padronização é muito difícil e esse é um grande desafio”, afirmou Cristóvão Alves, sócio e diretor de Pesquisa e Avaliação ESG da Nint. O que não significa, entretanto, que existem metodologias amadurecendo para a geração de métricas ESG.

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Um dos grandes problemas que precisam ser enfrentados, segundo Watanabe Júnior, é como lidar com as incertezas. “Até mesmo a ciência não tem certezas absolutas. Existe sempre uma margem de erro. E precisamos cada vez mais entender isso com clareza para, inclusive, conseguir ter métricas melhores para serem usadas”, disse o pesquisador do Climainfo.  

Sistema mede inclusão

“Quem não mede não gerencia”, afirmou no Summit ESG Wolf Kos, presidente do Instituto Olga Kros, startup criada em 2017, que acaba de desenvolver um sistema chancelado pelo Inmetro para monitorar o quanto uma empresa é inclusiva. A metodologia que engloba 20 indicadores e 37 requisitos de avaliação considera as diferenças de gênero, idade, deficiência, etnia, religião, nacionalidade e orientação sexual que existem dentro de uma corporação.

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A ideia, segundo Kos, é para focar em quanto o setor privado está ou não avançando na questão social. “É uma escala que não visa punir ninguém, mas orientar”, explicou.

O desempenho nos diversos quesitos sociais, ou seja, o S, da sigla ESG, não apenas identificados e avaliados. O sistema, chamado Selo Olga Kos, também deve identificar as principais barreiras para que a inclusão social cresça em uma empresa.  

Perguntas & Respostas

O que é ESG? 

O termo ESG refere-se a ativos que, além de aspectos financeiros, consideram os impactos ambientais, sociais e de governança. O conceito foi criado como uma métrica para avaliar o desempenho das companhias e ao mesmo tempo obter dados mais comparativos com relação aos indicadores de cada pilar, considerando o que é material para o negócio de cada uma delas.

Por que os investimentos ESG ganharam maior importância?

Os investimentos ESG adquiriram maior relevância porque refletem quanto uma empresa está preparada para lidar com crises e impactos socioambientais. Especialistas explicam que companhias com práticas ESG, por exemplo, tiveram melhor desempenho na pandemia porque tendem a possuir pilares de governança mais fortes e cuidam bem dos próprios colaboradores, fatores que trazem estabilidade. Além disso, eles destacam a maior preocupação que surgiu com a desigualdade social durante a crise sanitária.

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Como procurar investimentos ESG?

A dica dos especialistas é avaliar se a companhia em que se quer investir tem informações comprovadas de que segue práticas consolidadas. 

Como o ESG pode crescer no Brasil?

Apesar de o ESG ter ganhado importância no mercado, o Brasil precisa crescer mais no desenvolvimento dessas boas práticas, o que deve começar pelos gestores das companhias. 

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