Presença feminina nas empresas ainda esbarra em mitos a serem superados

Executivas relatam dificuldades em implantar ações que incluam mulheres, mas dizem que o quadro está mudando

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Por Eduardo Geraque
Atualização:
2 min de leitura

O resultado obtido em 2018 pela EDP Brasil, com a formatura da primeira turma da escola de eletricistas criada pela empresa exclusivamente para mulheres, é mais do que simbólico. Pode até parecer óbvio, a iniciativa tomada pela companhia do setor energético, mas ela só virou realidade após a ultrapassagem de alguns obstáculos.

“A primeira dificuldade que tivemos foi convencer, até internamente, que haveria demanda para a escola”, afirmou Fernanda Pires, vice-presidente de Pessoas & ESG da EDP Brasil, no Summit ESG, do Estadão. Na verdade, alguns indicadores ajudavam a corroborar o mito de que as mulheres não iriam se interessar em serem capacitadas na área. Mas um exame mais detalhado do assunto rapidamente identificou o real problema. 

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Fernanda Pires, vice-presidente de Pessoas & ESG da EDP Brasil;iniciativa para mulheres só virou realidade após a ultrapassagem de alguns obstáculos. Foto: Leandro Fonseca/EDP

Na fase de estruturação do programa, explicou Fernanda, entendeu-se que havia algumas regras do edital do concurso que travavam a participação de mais gente. “Havia pré-requisitos técnicos que muitas mulheres, por não terem estudado na área, não tinham. Outra questão foi que retiramos a obrigação de as candidatas terem CNH no início do processo. Depois, durante o curso, demos condições para que elas conseguissem o documento.” 

Resultado

Por volta de 800 candidatas se inscreveram na primeira turma da escola em 2018. Da classe feita em Mogi das Cruzes, com 16 alunas, 7 foram selecionadas para trabalhar na própria empresa. “Tivemos de dar alguns passos para trás, mas foi importante para solidificar o modelo”, disse Fernanda.

As ações afirmativas para aumentar a participação feminina no mundo corporativo já consegue apresentar alguns resultados palpáveis, segundo Carolina Figueiredo, diretora de Estratégia da Philip Morris Brasil. A meta da empresa para este ano é chegar em dezembro com 40% dos cargos de liderança da companhia ocupados por mulheres. “Agora, estamos muito perto, com 39,6%”, explicou a executiva da empresa no Summit ESG. Se a meta não for atingida, o bônus de fim de ano dos executivos será afetado.

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“Temos ainda vários programas de desenvolvimento para as lideranças femininas tanto júnior quanto mais sênior”, disse. No caso da Neoenergia, que inclusive passou a apoiar o futebol feminino em um país onde, por 38 anos, entre 1941 e 1979 a lei proibia as mulheres de jogar bola, a questão de gênero está em sintonia com o discurso principal da empresa, voltado para a transição energética, em direção a um mundo mais sustentável, e a economia de baixo carbono de forma geral, segundo Laura Porto, diretora de Renováveis do grupo. “É uma mudança de cultura que está em curso. O ESG é tratado como uma pauta real e não um discurso teórico.”

O que não significa, segundo Maristella Iannuzzi, fundadora da CMI Business Transformation, que a preocupação, por exemplo, em contratar pessoas com mais de 50 anos esteja consolidada no mundo corporativo. “O etarismo ainda é um assunto muito discreto nas empresas. Apesar da questão de gênero ter avançado, pautas como o 50+, LGBTQIA+ ainda são muito incipientes”, disse a consultora.