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Sustentabilidade só é possível com investimento

Financiamento misto é uma das formas de viabilizar projetos sem depender somente dos governos, das empresas e da sociedade civil

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Por Redação
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Mesmo com a crescente conscientização sobre a necessidade de combater a escalada da crise ambiental, inúmeros projetos que poderiam contribuir com esse objetivo ainda esbarram na falta de recursos financeiros. O problema tem sido gradualmente amenizado pela ampliação das possibilidades de financiamento, a exemplo de fundos especiais, premiações e outros modelos de apoio à economia verde.

O chamado blended finance, o financiamento misto, é uma das formas de viabilizar projetos que seriam difíceis de serem colocados em pé se dependessem apenas do governo, da sociedade civil ou da iniciativa privada. A modalidade parte do princípio de que, quando a conta é dividida, os riscos também são diluídos – algo especialmente justo quando falamos de projetos que trarão benefícios para o conjunto da sociedade. 

Um exemplo dessa união de forças é o trabalho do Global Environment Facility (GEF), organização criada há 30 anos, às vésperas da Rio-92. Desde então, o GEF já viabilizou mais de 5 mil projetos e programas em todo mundo, totalizando US$ 21,5 bilhões em subsídios e outros US$ 117 bilhões em cofinanciamento. “O Brasil já recebeu US$ 700 milhões diretos e outros US$ 3 bilhões foram mobilizados a partir disso. É o segundo país mais beneficiado, atrás apenas da China”, descreveu o diretor de programas do GEF, Gustavo Fonseca, na palestra de abertura da Conferência Brasil Verde.

Adaptação climática

Fonseca lembrou que foi a estratégia de blended finance, praticada nos projetos do GEF, que viabilizou o desenvolvimento das novas fontes de energias renováveis, como a solar e a eólica

“Hoje esses mercados já estão maduros e não precisam mais de financiamento misto, mas contar com esse apoio no começo foi essencial”, descreveu o diretor do GEF. “Várias outras questões ligadas à sustentabilidade ainda precisam de impulso semelhante para se tornarem autossustentáveis.”

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Segundo Fonseca, estratégia de blended finance viabilizou o desenvolvimento das novas fontes de energias renováveis, como a solar e a eólica. Foto: JF Diorio/Estadão - 02/09/2017

Entre as estratégias mais recentes apoiadas pelo GEF está o Fundo de Resiliência da Paisagem (LRF, na sigla em inglês), parceria com o World Wide Fund for Nature (WWF), uma das mais respeitadas organizações conservacionistas do mundo, e a Polo Sul, empresa social que foi pioneira em ações de descarbonização. Lançado em junho, o fundo nasceu com um portfólio de 20 pequenos e médios negócios voltados à agricultura e silvicultura sustentáveis na África Subsaariana, Sudeste Asiático e América Latina.

A Chanel, conhecida fabricante de perfumes, é a investidora-âncora do fundo, com o compromisso de aportar US$ 25 milhões nos projetos – demonstração do interesse das grandes corporações globais em participar diretamente da causa ambiental. “Nunca houve um momento mais crítico para o setor privado intensificar sua contribuição e ajudar a fechar a lacuna de investimento necessária para uma adaptação climática eficaz”, disse Andrea d’Avacko, diretor de sustentabilidade da marca, na solenidade de lançamento do fundo.

O fundo tem como meta viabilizar investimentos de pelo menos US$ 100 milhões, até 2025, com foco na chamada “adaptação climática” – ou seja, ajudar as populações mais vulneráveis do planeta a lidar com as mudanças que já estão interferindo em suas vidas. Mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam drasticamente reduzidas hoje, as consequências do passivo acumulado continuarão sendo sentidas nas próximas décadas, incluindo tragédias naturais mais frequentes e intensas. “A liderança do setor privado vai ser fundamental no processo de adaptação. Sem essa participação ativa, nossas perspectivas são muito negativas”, ressalta Fonseca.

Pacto Global 

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Como indicou o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em agosto, a temperatura média do planeta aumentou 1,07 ºC em comparação a 1900 – e os últimos anos têm sido os mais quentes já registrados. Além das perdas humanas, as 30 mil ocorrências meteorológicas de alto impacto ocorridas na última década causaram um prejuízo estimado de US$ 168 bilhões. É consenso que enfrentar adequadamente a realidade das mudanças climáticas depende, em grande parte, da participação imediata da iniciativa privada.

“Os compromissos para 2050 são importantes, mas precisamos agir agora. Não adianta prometer zerar emissões lá na frente, mas não mostrar o plano para chegar lá, com marcos expressivos ao longo desse período”, ressalta Carlo Pereira, diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global.

Foi no Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), que nasceram os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas ambientais e sociais para 2030 que se tornaram referência em todo o planeta. E foi também no Pacto Global que surgiu o conceito de ESG, a visão de sustentabilidade baseada no tripé Ambiental, Social e Governança, que vem ganhando muito espaço no Brasil nos últimos dois anos.

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O crescimento da rede brasileira do Pacto Global é um indício forte do interesse da iniciativa privada local nos temas de sustentabilidade. Foi a rede que mais cresceu em 2020 – ganhou 520 novos integrantes desde o início da pandemia, chegando à marca de 1,3 mil membros. Com isso, tornou-se a terceira maior rede nacional, atrás apenas da França e da Espanha. Ao todo, a rede já tem 18 mil empresas signatárias no planeta.