A psicóloga Rosely Sayão diz que o fenômeno dos “investidores mirins” pode ser o prenúncio de uma mudança de comportamento na sociedade. A geração atual de jovens, de maneira geral, deu muito pouca importância para dinheiro. Agora, porém, pode estar vindo por aí uma geração para a qual o assunto será extremamente importante.
Para Rosely, é inevitável que as crianças se interessem por dinheiro, ainda mais em um mundo em que ídolos – de youtubers a jogadores de futebol – têm tendência a ostentar. Ao Estadão, a psicóloga falou ainda de ferramentas que os pais podem usar para ensinar às crianças o valor simbólico do dinheiro.
Leia os principais trechos:
É necessário introduzir o tema dinheiro às crianças?
É inevitável que a criança ouça falar em dinheiro. Vivemos em um mundo que preza muito o consumo. Então ela naturalmente vai pedir alguma coisa e vai ouvir que é muito caro. É necessário explicar, dentro da experiência da criança, que há prioridades para o dinheiro da família. Nem sempre ela vai aceitar, mas vai começar a entender.
Como levar o ensinamento sobre economia à prática?
O dinheiro tem um valor simbólico que as crianças não entendem. Ele serve para comprar um brinquedo, mas também representa o trabalho de uma pessoa. Você pode ensinar sobre dinheiro dando uma “semanada” – desaconselho a mesada, pois um mês é um prazo muito longo para uma criança. Se o dinheiro da semanada é para um lanche especial na escola, que valha o ensinamento: se ela gastar tudo em um dia, vai ficar sem aquilo até o fim da semana. Se ela ganhar o lanche de qualquer forma, não vai aprender.
E se os pais perceberem que a criança se interessa muito por dinheiro?
É natural, pois os ídolos de hoje – youtubers e jogadores de futebol – falam muito de dinheiro, dizem o quanto ganham. E muitas vezes é um dinheiro que a criança não vai ganhar na vida inteira. Mas dá para explorar outros temas a partir daí, como: o que você acha que uma pessoa rica deve fazer? Acho que tivemos uma geração que se preocupou pouco com dinheiro. Talvez, agora, entraremos em uma que dê um valor extremo a ele.
Afinal, criança deve investir?
O aprendizado está em lidar com o dinheiro em saber como gastá-lo, e não em investi-lo. Se a criança pode investir todo seu dinheiro que tem, não é um exercício de como funciona a vida adulta, quando as pessoas têm de pagar contas.