PUBLICIDADE

Taxa de administração de fundos cai lentamente no País

Estudo mostra que custo saiu de 2,73% em 1998 para 2,52% em 2008

Por Leandro Mode
Atualização:

As taxas de administração dos fundos de investimento têm recuado lentamente no Brasil e, no caso dos produtos de renda fixa (os mais populares do País), não acompanham nem sequer a trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic). Essas são algumas das conclusões de um estudo do professor William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), obtido pelo Estado. Taxa de administração remunera o trabalho do gestor da carteira e incide sobre o patrimônio do fundo. O trabalho mostra que a taxa média cobrada nos fundos de varejo (vendidos às pessoas físicas) saiu de 2,73% ao ano em 1998 para 2,52% ao ano em 2008. Nos fundos de renda fixa, que respondem por quase metade do patrimônio de R$ 1,2 trilhão do setor, a queda no intervalo foi de 2,57% para 2,29%. No entanto, se esses porcentuais forem ponderados pela taxa Selic média de cada ano, o resultado é bem diferente. Em 1998, 2,57% representavam 8,9% da Selic média daquele ano (28,79%). Em 2008, 2,29% equivaliam a 18,3% do juro básico (12,48%). Em outras palavras, o ganho líquido do investidor caiu no período, apesar da taxa de administração menor (considerando, é claro, pagamento de impostos equivalentes). Esse assunto é um dos que ganharam força nas últimas semanas, em meio ao debate sobre a tendência da taxa Selic para níveis historicamente baixos. Cálculos de especialistas, como o administrador de investimentos Fabio Colombo, mostram que, com o juro básico em 10,25% (nível atual), fundos de investimento de renda fixa com taxa de administração superior a 2,5% ao ano já perdem em rentabilidade para a poupança. Uma das formas de os fundos ganharem competitividade seria por meio da redução das taxas cobradas dos clientes. Outra seria mexer na fórmula que corrige a caderneta de poupança - atualmente, 6% ao ano mais taxa referencial (TR). Nos últimos dias, ganhou espaço a hipótese de o governo reduzir a tributação sobre os fundos. "É a melhor saída", disse Eid Junior. "Em 1980, o governo da França modificou o sistema de tributação dos fundos até um ponto no qual, após 7 anos, a aplicação seria isenta de imposto. O resultado é que a indústria francesa de fundos é hoje a segunda maior do mundo." Eid Junior acredita, porém, que as instituições financeiras também terão de se mexer. "Elas vão ter de tornar os fundos mais competitivos", afirmou. Outros especialistas concordam. "Se levarmos em conta o trabalho que as instituições têm para administrar os fundos e o retorno que conseguem, há espaço para que as taxas caiam", observou o economista e professor do Insper (ex-Ibmec São Paulo) Alexandre Chaia. Um levantamento feito pela Austin Rating a pedido do Estado mostra que a gestão de fundos rendeu ao Bradesco R$ 369 milhões no primeiro trimestre, ao Itaú-Unibanco, R$ 495 milhões, e ao Santander (excluídas as operações do Real), R$ 193 milhões. Respectivamente, esses valores corresponderam a 3,32%, 3,38% e 2,81% das receitas totais. "As taxas estão no limite, nao há como aumentá-las mais", disse o analista de instituições financeiras da Austin, Luís Miguel Santacreu. Ele defende que o governo - por meio da Comissão de Valores Mobiliários ou do Banco Central - adote regulação mais dura, como já fez no caso das tarifas bancárias. Segundo Santacreu, isso é necessário porque os pequenos clientes não têm o poder de barganha dos grandes - como fundos de pensão. No estudo de Eid Junior, a taxa média cobrada dos clientes de atacado que aplicam em renda fixa saiu de 1,03% ao ano em 1998 para 0,66% em 2008. O administrador de um fundo de pensão de R$ 30 milhões (que pediu para ter o nome mantido sob sigilo) disse que vários bancos "se engalfinharam" para gerir seu fundo. A empresa acabou fechando com um deles pagando 0,06% de taxa de administração. "Dá uns R$ 20 mil por ano", disse. O QUE DIZEM OS BANCOS A Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) também elaborou um estudo, mas apenas sobre as taxas cobradas nos fundos de renda fixa de varejo. Segundo o trabalho, houve uma queda de 3,01% ao ano em 2001 para 2,16% em 2008. O vice-presidente da Anbid, Alexandre Zákia, disse que a diferença nos resultados se deve a questões metodológicas. Segundo ele, fatores endógenos (custos de gestão e de distribuição) e exógenos (juro básico, concorrência e escala) têm efeito sobre a formação das taxas. Por isso, argumenta, a ponderação apenas pela Selic é incompleta porque engloba apenas um desses fatores. Zákia disse que a indústria brasileira de fundos está preparada para "qualquer nível de juro (básico)" e pronta "para atender a qualquer conjuntura". "Hoje somos benchmark (referência) no mundo."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.