Taxa de desemprego chega a 13,8% no trimestre encerrado em julho, a maior desde 2012

Segundo o IBGE, faltou trabalho no País para 32,892 milhões de pessoas, somados todos os subutilizados, sendo 13,1 milhões deles desempregados

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Por Daniela Amorim
4 min de leitura

RIO - O mercado de trabalho segue em deterioração no País. Em apenas um trimestre, 7,214 milhões de brasileiros perderam o emprego. Em um ano, o total de postos de trabalho extintos supera 11,5 milhões. A taxa de desemprego subiu para 13,8% no trimestre encerrado em julho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quarta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado é o pior em quase 30 anos, mostram cálculos dos pesquisadores Bruno Ottoni e Tiago Barreira, da consultoria IDados. Eles compatibilizaram informações das extintas Pnad Anual e Pesquisa Mensal de Emprego, ambas também do IBGE, para construir uma série histórica com início em 1992 a partir dos registros de ambas, que fosse compatível com a Pnad Contínua.

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Movimento na Rua 25 de Março, no centro de São Paulo: caiu o número de trabalhadores informais no trimestre encerrado em julho. Foto: Alex Silva/Estadão - 20/6/2020

 

“O último recorde da taxa de desocupação tinha sido em março de 2017, quando alcançou 13,7%. Naquele momento a gente já sabia que era o pior resultado desde 1992. Lá se vão três anos, e atingimos novo recorde, 13,8%. Nunca houve uma taxa de desemprego tão alta assim desde então”, lembrou Ottoni.

Faltou trabalho no País para 32,892 milhões de pessoas, somados todos os subutilizados, sendo 13,1 milhões deles desempregados. A pesquisa do IBGE, que segue recomendações internacionais, só considera como desempregado quem de fato tomou alguma atitude para encontrar uma vaga. Embora a demissão de trabalhadores tenha sido massiva, o número de pessoas desempregadas aumentou em apenas 561 mil em relação a um ano antes. A maioria das pessoas que perderam emprego foi para a inatividade: em apenas um ano, 14,134 mil brasileiros a mais não estão trabalhando nem estão em busca de emprego, totalizando um ápice de 78,956 milhões.

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“A gente observa uma frequência muito grande de pessoas alegando a questão da pandemia para não fazer a busca por trabalho”, contou Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A explosão da população inativa foi o que ajudou a conter uma alta ainda maior na taxa de desemprego, que estava em 11,8% no trimestre encerrado em julho de 2019.

“A tendência é que piore (a taxa de desemprego), pelo menos até março do ano que vem. A gente tem que lembrar que vai acabar o auxílio emergencial. Mesmo que venha a Renda Cidadã, vai ser muito menor, não vai alcançar tantas pessoas como hoje se for aprovada. Vai acabar também o programa de sustentação do emprego. E o início do ano é tradicionalmente um período de demissões”, justificou Ottoni.

Os inativos que não procuram emprego em função da pandemia não são contabilizados no desalento - quando alguém deixa de buscar emprego por achar que não conseguirá uma vaga, por exemplo. Ainda assim, o desalento alcançou um recorde de 5,797 milhões de pessoas em julho, 966 mil a mais que um ano antes, um salto de 20%.

“Tem uma piora no mercado de trabalho, então o desalento acaba crescendo junto”, justificou Adriana. “A pessoa tem até potencial de fazer parte da força de trabalho, mas não fez busca efetiva porque não vê no mercado de trabalho condições favoráveis para a sua ocupação”.

No trimestre encerrado em julho, 2,822 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado foram dispensados, fazendo esse contingente de empregados formais descer ao menor patamar da série, 29,385 milhões.

A economista Lisandra Barbero, da XP Investimentos, explica que a perda de empregos formais pode ser creditada ao fim dos programas de auxílio à sustentação dessas vagas, como o Benefício emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm).

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"Esses programas conseguiram conter boa parte das demissões dos formais desde abril, mas agora, aparentemente, esses contratos começaram a chegar em um prazo de validade", afirmou Lisandra.

A queda no emprego formal fez o total de pessoas contribuindo para a Previdência Social descer a 54,041 milhões no trimestre encerrado em julho, piso histórica na pesquisa do IBGE. Em apenas um trimestre, 3,406 milhões de pessoas deixaram de contribuir para a Previdência Social no País. Se considerados os últimos dois trimestres, ou seja, o patamar de janeiro deste ano, há 5,34 milhões de contribuintes a menos.

"A perda de carteira (assinada no setor privado) leva à perda de arrecadação previdenciária", justificou Adriana Beringuy, lembrando que a perda de trabalho e de renda dos profissionais que atuam na informalidade também reduz as contribuições individuais desses trabalhadores.

Em um ano, o setor privado demitiu 3,760 milhões de trabalhadores com carteira assinada.

“São perdas importantes não apenas quantitativas, mas qualitativas. Há perda muito acentuada de trabalho com carteira. Esse trabalho com carteira tem uma dificuldade de se recompor, diferentemente do trabalho informal, que sai (do mercado de trabalho) rápido, mas também volta rápido”, avaliou Adriana Beringuy.

Para Thiago Xavier, analista da Tendências Consultoria Integrada, os dados corroboram “a expressiva e rápida deterioração do mercado de trabalho durante a pandemia”.

“O contexto de isolamento social e os programas de transferências de renda, por sua vez, incentivaram provisoriamente aqueles que perderam seus postos a permanecerem economicamente inativos, ou seja, fora do mercado de trabalho”, apontou Xavier.

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O analista prevê um crescimento moderado da população ocupada nos próximos meses, mas um aumento também da taxa de desemprego, com o retorno dos inativos à busca por trabalho. A Tendências estima que a taxa de desocupados supere 15% ao fim deste ano./COLABOROU GREGORY PRUDENCIANO.

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