
31 de janeiro de 2017 | 09h13
RIO - A taxa de desocupação no Brasil ficou em 12% no trimestre encerrado em dezembro de 2016, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta terça-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O País registrou patamar recorde de desempregados, com um total de 12,342 milhões de pessoas em busca de uma vaga. A taxa é a maior da série histórica (2012) e ficou dentro das expectativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que estimavam uma taxa de desemprego entre 11,60% e 12,10%, com mediana de 11,90%.
O resultado significa que há mais 3,269 milhões de desempregados em relação a um ano antes, o equivalente a um aumento de 36,0%. Ao mesmo tempo, o total de ocupados caiu 2,1% no período de um ano, o equivalente ao fechamento de 1,983 milhão de postos de trabalho.
Já o emprego sem carteira no setor privado teve aumento de 4,8%, com 481 mil empregados a mais. O total de empregadores aumentou também 4,8% ante o trimestre encerrado em dezembro de 2015, com 190 mil pessoas a mais. O trabalho por conta própria encolheu 3,4% no período, com 784 mil pessoas a menos nessa condição. Houve redução ainda de 170 mil indivíduos na condição do trabalhador doméstico, 2,7% de ocupados a menos nessa função. A condição de trabalhador familiar auxiliar também encolheu, -9,8%, com 229 mil ocupados a menos.
Em igual período de 2015, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua estava em 9,0%. No trimestre encerrado em novembro de 2016, o resultado ficou em 11,9%.
A taxa de desemprego só não foi mais elevada porque 907 mil brasileiros migraram para a inatividade no período de um ano. O aumento na população que está fora da força de trabalho foi de 1,4% no trimestre encerrado em dezembro ante o mesmo período de 2015.
O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, atentou para o salto no total de desempregados desde o início da crise econômica, em 2014. "O avanço no número de pessoas em busca de uma vaga foi de 74,4% entre 2014 e 2016", disse Azeredo.
A renda média real do trabalhador foi de R$ 2.043,00 no trimestre até dezembro de 2016. O resultado representa alta de 0,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 180 bilhões no trimestre até dezembro, o que representa estabilidade ante igual período do ano anterior.
Desde janeiro de 2014, o IBGE passou a divulgar a taxa de desocupação em bases trimestrais para todo o território nacional. A pesquisa substitui a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que abrangia apenas as seis principais regiões metropolitanas, e também a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) anual, que produzia informações referentes somente ao mês de setembro de cada ano.
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01 de fevereiro de 2017 | 05h00
Filho do dono, trabalho garantido? Não nessa crise. João Paulo Petraglia Miguel, de 29 anos, ajudava os pais na empresa da família desde a adolescência, mas a revendedora de coifas sentiu a queda no consumo e a concorrência com grandes lojas, que ofertavam os produtos com desconto na internet, e acabou fechando.
“Meu pai não queria desistir da empresa, começou a se endividar, até chegar a um ponto insustentável. Em paralelo ao negócio, eu cursava arquitetura. Quando fechamos, me inscrevi como Microempreendedor Individual e passei a reformar apartamentos. A crise afetou muito a construção, mas pude manter o padrão de vida. Hoje, meu pai trabalha comigo.”
"Fundo do poço ainda não chegou"
A recessão atingiu também os brasileiros que prestam serviços a parentes, os chamados trabalhadores familiares auxiliares. No quarto trimestre de 2016, eles eram 2,11 milhões – 9,8% menos que no mesmo período do ano anterior, segundo a Pnad Contínua. Desde 2012, pela média anual, o total de pessoas nessa situação caiu 24%.
Nessa categoria, entra quem não ganha remuneração e tem mais de 14 anos, exceto donas de casa e voluntários em instituições sem fins lucrativos.
Com a queda nos negócios, algumas empresas ficaram só com parentes trabalhando, mas em outras, os familiares foram buscar novas fontes de renda para reforçar o orçamento.
O pequeno varejo, que lida com estoques reduzidos e tem menor poder de compra, murchou em 2016, e o rendimento que sustentava toda a família passou a não ser suficiente, diz Alvaro Furtado, presidente do Sincovaga, que representa os varejistas de alimentos. “A empresa pode até permanecer aberta e os mais velhos tentam fazê-la sobreviver enquanto os filhos buscam uma alternativa fora.”
“Muitos tiveram de buscar colocações informais”, lembra Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A relação de trabalho entre familiares é mais frágil e é natural que esses postos diminuam. Só vai melhorar quando a economia reagir, impulsionada por setores com mão de obra especializada, que vão ajudar a reaquecer o consumo.”
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