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Taxa de juros mais alta na dívida pode afetar recuperação

Por Nelson D. Schwartz
Atualização:

Enquanto governos de todo o mundo tentam gastar para sair da recessão, muitos países estão se vendo na mesma situação que os consumidores encrencados: pagando juros mais altos sobre sua dívida em rápida expansão. As taxas mais altas poderão se traduzir em mais centenas de bilhões de dólares de gastos federais em países como EUA, Grã-Bretanha e Alemanha. Mesmo um aumento de 1 ponto porcentual poderá custar ao Tesouro americano US$ 50 bilhões anuais a mais durante alguns anos - e até, eventualmente, US$ 170 bilhões adicionais por ano. Isso poderá exercer uma pressão sem precedente em outros gastos governamentais, incluindo programas sociais e gastos militares, enquanto solapa o crescimento econômico empurrando para cima as taxas de juros sobre a dívida de companhias e consumidores. "Será mais caro para todos", disse Olivier J. Blanchard, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington. "À medida que os empréstimos captados mundialmente pelo governo aumentarem, as taxas de juros subirão. Já estamos começando a ver isso." Desde o fim de 2008, a rentabilidade do bônus referencial (benchmark) do Tesouro para 10 anos subiu 1,5 ponto porcentual, de 2% para 3,54%, a alta mais acentuada em 15 anos. No mesmo período, a rentabilidade de títulos alemães de 10 anos subiu de 2,93% para 3,57%. E a dos bônus britânicos aumentou de 3,41% para 3,78%. A preocupação com o efeito de longo prazo do endividamento crescente levou Ben Bernanke, presidente do Fed (banco central dos EUA), a dizer ao Congresso, na quarta-feira: "Enquanto damos passos para enfrentar a recessão e as ameaças à estabilidade financeira, manter a confiança dos mercados financeiros exige que nós, como nação, comecemos a planejar agora a restauração do equilíbrio fiscal." Por enquanto, o custo do maior endividamento é o preço que o governo está pagando para tirar o país da recessão, esperando que um retorno da saúde fiscal aumente a arrecadação e permita saldar a dívida. Nas três últimas semanas, porém, o ritmo do aumento do bônus de 10 anos do Tesouro se acelerou, impelido pela estimativa do Escritório de Orçamento do Congresso de que a dívida governamental líquida subirá dos 41% do Produto Interno Bruto no fim do ano fiscal de 2008 para 65% no fim do ano fiscal de 2010. Em 2009 e 2010, Washington venderá mais de US$ 5 trilhões em dívida nova, segundo o Citigroup. Daqui a uma década, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso, a dívida pendente de Washington poderá se igualar a 82% do PIB, ou pouco mais de US$ 17 trilhões. Governos captam dinheiro em parte fazendo com que investidores comprem seus bônus, que são basicamente notas promissórias. Para atrair investidores para toda a nova dívida, os governos terão de competir com os mercados de ações e bônus corporativos pelo dinheiro dos investidores, o que explica as remunerações crescentes. Embora os juros permaneçam baixos ante os padrões históricos, a recente alta das taxas ocorre numa conjuntura crítica, ameaçando atenuar os efeitos positivos dos novos gastos de estímulo por governos de todo o mundo. No orçamento para 2010 do presidente Barack Obama, os pagamentos com juros do governo federal poderiam subir de US$ 170 bilhões neste ano para US$ 806 bilhões em 2019, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso. Boa parte desse aumento é consequência da captação mais alta do governo, mas a projeção também supõe que a rentabilidade do bônus de 10 anos subirá para 4,7%. Parte do aumento das taxas no início deste ano resulta realmente da confiança crescente numa recuperação econômica e uma tolerância crescente ao risco, na medida em que os investidores abandonam os papéis do governo por bônus e ações corporativas mais rentáveis, mas também mais arriscados. Agora, o risco colocado pela dívida de longo prazo está chamando cada vez mais a atenção de investidores e traders. "É um problema gigantesco", disse Kenneth Rogoff, professor de Harvard e coautor do livro This Time is Different: Eight Centuries of Financial Folly (Desta vez é diferente: oito séculos de loucura financeira), a ser publicado em breve. "Ele nos deixa muito vulneráveis ao aumento global das taxas de juros, que poderá ficar fora do nosso controle." Rogoff calcula que, se a estimativa de dívida do escritório de orçamento estiver certa, cada aumento de 1 ponto porcentual nas taxas poderá custar a Washington US$ 170 bilhões adicionais por ano. A situação no longo prazo é particularmente perigosa porque os custos adicionais com juros agravarão os déficits recordes que Washington provocou para para salvar setores econômicos e estimular a economia. *Nelson D. Schwartz é jornalista

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