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''Taxa Selic e spread podem cair mais''

Mas ele vê riscos para a queda dos juros caso o governo ocupe todo o espaço deixado pela contração do crédito

Por Adriana Chiarini
Atualização:

A taxa básica de juros, a Selic, e o spread podem cair mais, de acordo com Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio-fundador da Gávea Investimentos. Nesta entrevista à Agência Estado, a primeira em que fala de spread, ele defende que o governo faça um estudo aprofundado para chegar a um novo diagnóstico sobre o tema, já que o atual tem quase dez anos - é da época em que Fraga era o presidente do BC. Veja evolução da Selic no governo Lula Para Fraga, o governo deve aliviar o ciclo econômico e aumentar o crédito neste momento, mas "não é recomendável" que, por meio dos bancos públicos, ocupe todo o espaço deixado pela contração do crédito porque isso pode afetar o balanço de pagamentos, levar o país a se endividar e diminuir o espaço para a redução da Selic. "Seria uma pena não se aproveitar as condições que estão surgindo para uma queda significativa da Selic pela primeira vez em décadas, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista. Quem tem razão na disputa entre a metodologia correta para medir o spread, o Banco Central ou a Febraban? A maneira como o BC calcula tem o objetivo de entender o que é o spread e agir para baixá-lo a níveis mais razoáveis. Nosso objetivo, quando começamos a pesquisa no BC, em 1999, era a redução do spread, que estava em 52% ao ano e já tinha chegado a 70%. Queríamos mobilizar a sociedade para acompanhar isso. O spread caiu muito depois desse trabalho. Mesmo assim, continua alto. Há vários fatores que influem no spread: imposto, depósito compulsório, risco de crédito, má qualidade das garantias... Fizemos um monte de coisa para reduzir o spread e de fato caiu. Para o objetivo do BC, que é baixar os spreads, devem entrar só recursos livres. O que o governo pode fazer para reduzir o spread? Acho que o BC deve voltar a fazer acompanhamento, ir atrás dos vários itens que compõem o spread e refazer o diagnóstico. O nosso já tem quase dez anos. Tem de ver o que foi feito, o que não foi, o que funcionou e o que não funcionou com cada item. Tem de agir em cima disso. Aproveitar o interesse atual no tema e mandar para o Congresso o que tiver de enviar para lá. Há algo a fazer em termos de mudança de legislação? Sempre há. O nível médio do spread mostra que é possível fazer muito mais. O risco de crédito depende também dos instrumentos de crédito. Isso melhorou muito com a alienação fiduciária, etc. O governo cobra que liberou compulsórios, baixou o IOF e reduziu a Selic em janeiro e, mesmo assim, os juros finais não caíram. Os bancos atribuem isso ao aumento da expectativa da inadimplência... É verdade que risco de crédito aumenta o spread. Esse debate é bom.Causa mal-estar, incomoda os bancos e o governo, mas é bom para todo mundo. Para os bancos também? Os resultados dos bancos seriam muito melhores se tivesse volume maior de crédito com spread menor, se tivesse menos inadimplência. Que outras medidas podem ser tomadas em relação ao crédito? O volume de crédito, o que vivemos hoje, é conjuntural. Nosso sistema bancário está bem capitalizado, mas o crédito se contrai de fato e não é recomendável o governo compensar totalmente esse espaço. Por quê? Porque pode afetar o balanço de pagamentos e diminuir o espaço para a redução da Selic. Se a economia desacelera, o câmbio se desvaloriza e ajusta o balanço. Mas, se houver uma postura mais agressiva, como houve na década de 70, o País vai se endividar bastante, vai se endividar mal e não vale a pena. Cabe ao governo, sim, suavizar o ciclo. Muito se pode fazer, inclusive esse trabalho com spread. Só acho que seria uma pena não se aproveitar as condições que estão surgindo para uma queda significativa da Selic pela primeira vez em décadas. Faz sentido aumentar o crédito, no momento, mas é preciso não exagerar na outra ponta pelas razões que expus. Como o sr. viu a forte queda da produção industrial em dezembro? É um cenário preocupante e é preciso acompanhar. Parte disso era atribuída a reduções dramáticas de estoque, mas, quando se olha os dados de estoque, não se observa essa redução tão dramática. Então, é realmente uma questão que preocupa. Não há como tapar esse sol com a peneira. Tende a continuar, então? Não sei. Acho que sim. Se for seguir o padrão global, é possível que continue, sim. Há tendência de o desemprego aumentar? No momento, a tendência parece ser de aumento do desemprego, sim.

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