Há mais de dois anos acumulando perdas no mercado de ações, o setor de telecomunicações vê chances mais concretas de descolar seu desempenho das sofridas empresas internacionais. Depois de absorver diversas crises externas, especialistas afirmam que a performance em bolsa dependerá agora do crescimento econômico interno e dos resultados. Durante os últimos anos, os problemas globais do segmento de telecom fizeram com que melhorias nas companhias brasileiras não fossem totalmente consideradas pelos investidores. Pesquisa da Economática para a Agência Estado mostra que o valor de mercado das operadoras americanas despencou 49,9% entre dezembro de 1999 e o final de 2001. Nos dois anos, a geração de caixa dessas empresas ficou praticamente parada, com perda de 0,56%. No Brasil, a mesma análise mostra que, apesar de uma evolução de 39,9% na geração de caixa, o preço em bolsa das grandes companhias caiu 25,4%. Foi nesse período que o setor perdeu o brilho provocado pelas expectativas mirabolantes com a nova tecnologia. O foco agora está nos fundamentos, e busca-se entender qual seria um modelo de sucesso nas telecomunicações, afirmou o chefe de análise do BNP Paribas, Marcos Elias. Tanto no Brasil como no exterior, disse, ganha força o conceito de empresas provedoras completas de serviços - que podem atender a todas as necessidades dos clientes. Com a consolidação do setor, a expansão econômica torna-se ainda mais determinante no crescimento das companhias, completou o chefe de análise da HSBC Corretora, Fernando Aoad. O estrategista de renda variável do JP Morgan, Pedro Martins, acredita no entanto que as questões macroeconômicas também podem inibir o avanço da teles em bolsa. O cenário nacional, explicou, acaba refletido na avaliação das empresas. Nesse esperado processo de recuperação, a fragilidade financeira das empresas na Europa e nos EUA não deve bloquear a melhoria do comportamento das ações brasileiras. Mesmo assim, o descolamento do sentimento negativo internacional não vai ocorrer de uma hora para outra, ponderou Ricardo Ventrilho, analista da Itaú Corretora. Segundo o analista-chefe do Pactual, Ricardo Kobayashi, a recuperação da confiança do investidor demanda um período de rentabilidade sustentável, por meio de redução de custos. As preocupações com a americana Worldcom, prestes a entrar com pedido de concordata, terão efeitos limitados no Brasil. Para analistas, se as dificuldades chegarem aos fornecedores mundiais, pode até mesmo ser positivo para as operadoras brasileiras.