Temer quer fechar 2016 criando empregos

Eventual governo acredita em retomada com a criação de 100 mil vagas formais

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Por Murilo Rodrigues Alves e BRASÍLIA
3 min de leitura
Pressão. Para analistas, a velocidade do ajuste no mercado de trabalho impressiona, taxa de 10,9% hoje tende a crescer Foto: AMANDA PEROBELLI|ESTADAO

O vice-presidente, Michel Temer, elegeu como prioridade de um eventual governo peemedebista recuperar a última bandeira conquistada pelo PT e perdida no ano passado: a geração de vagas com carteira assinada. A interlocutores, o vice tem dito que espera fechar 2016 com a geração líquida de postos de trabalho formais no azul. O vice estima que, se conseguir terminar o ano com geração de 100 mil vagas, será um grande feito que iniciará a recuperação do mercado de trabalho.

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A marca é ambiciosa diante dos pífios resultados acumulados por meses, mas representa menos de 1% do total de desocupados no País, que já chegam a 11,1 milhões de pessoas, como divulgou o IBGE. Também está apenas 30% além do número de trabalhadores que vivem atualmente numa espécie de “purgatório”, ou porque tiveram de aderir ao plano do governo de redução da jornada e do salário (59,5 mil) ou tiveram o contrato suspenso por três meses (12 mil funcionários nos três primeiros meses do ano).

O esforço para chegar a 100 mil novas vagas será grande, tendo em vista que em 2015 foram fechados 1,54 milhão de postos com carteira assinada. Na hipótese de conseguir alcançar a marca, mesmo assim o resultado de 2016 será inferior ao de 2014 (quando foram gerados 420 mil vagas) e 2013 (1,138 milhão). Mas superior ao de 2012, quando foram criadas apenas 70 mil vagas.

A velocidade do ajuste no mercado de trabalho é impressionante. A maior parte dos analistas projeta que a taxa de desemprego – atualmente em 10,9% – deve aumentar até o fim do ano. A preocupação do PT tem cunho eleitoral. Quando o partido assumiu a Presidência, o desemprego estava na casa dos 12%. No fim de 2014, a taxa alcançou o menor patamar da história: 4,8%. A queda no desemprego virou uma das grandes vitrines de propaganda do governo petista.

Segundo os conselheiros de Temer, é possível criar 100 mil vagas neste ano graças a alguns fatores, como a volta da credibilidade com uma nova equipe econômica, chefiada pelo ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A mudança na percepção dos investidores destravaria as concessões de rodovias, aeroportos, ferrovias e portos – cujos investimentos devem ultrapassar R$ 30 bilhões – e impulsionaria a criação de vagas no setor.

Juros. Também ajudaria na retomada do mercado de trabalho uma provável redução na taxa básica de juros (Selic), pelos diretores do Banco Central, no segundo semestre deste ano. A redução seria possível graças à queda da expectativa de aumento da inflação.

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O professor José Pastore, da Universidade de São Paulo, avalia que as propostas estão na direção “correta, necessária e urgente”, mas pondera que o número estimado de criação de vagas em 2016 é bastante “ousado”. “Para isso, é necessário chegar, anunciar as medidas e colocá-las em prática rapidamente”, afirma.

A equipe de Temer conta com a aprovação, pelo Congresso, da medida provisória, enviada no fim do ano passado pelo atual governo, que busca acelerar os acordos de leniência entre empresas acusadas de corrupção e o poder público a fim de permitir que elas voltem a participar de contratações feitas pelo Estado.

A medida é uma demanda de empresários e sindicalistas, preocupados com o impacto da Operação Lava Jato sobre a economia e o emprego. A MP permite que a União, Estados e municípios realizem acordos de leniência de forma isolada ou em conjunto com o Ministério Público. O grupo do vice também aposta em um programa de renovação de frota de veículos, no mesmo modelo que a presidente Dilma cogitou lançar, mas foi engavetado por causa da dificuldade do Tesouro em oferecer subsídios diante da crise fiscal.

Veículos. A proposta de renovação foi entregue ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior pela Anfavea e outras 18 entidades do setor em dezembro. A ideia é que veículos com mais de 20 anos de uso possam ser trocados por uma carta de crédito para compra de um novo automóvel ou caminhão, por exemplo.

Como esses bens têm valor muito baixo, em geral, as concessionárias não os aceitam como crédito na compra de outro. Por isso, são necessários recursos para bancar o programa. Para a Fenabrave, que reúne as distribuidoras de veículos no Brasil, o fundo para garantir o crédito destinado à renovação da frota pode ser criado sem recursos públicos, usando, por exemplo, o Dpvat.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, acredita que um provável governo Temer mudará as variáveis financeiras – como inflação, juros e dólar – mas o impacto na economia real, como no mercado de trabalho, só deve acontecer em 2018.

“O emprego é o primeiro que sofre em momento de crise e o último a sair”, afirmou. A projeção dele é que a taxa de desocupação feche 2016 próxima a 16%. “Temer tem que decidir se vai ter pulso para fazer o ajuste recessivo que o mercado espera dele. Os números do emprego ainda precisam piorar para levar a inflação de serviços para baixo”, afirmou.