
03 de outubro de 2019 | 07h00
Atualizado 22 de outubro de 2019 | 16h15
Após dois anos arrumando a casa, Noël Prioux, diretor executivo do Carrefour Brasil, vê oportunidade para a rede varejista crescer no País. Só que, agora, por meio de aquisições. O plano é comprar redes tradicionais de supermercados de famílias e manter a marca, quando ela for forte regionalmente.
Para o braço de atacarejo do grupo, o Atacadão, os planos são de expandir a marca. É o segmento de negócio com maior crescimento no grupo, contabilizando, em 2018, aumento de 10,3% nas vendas líquidas em relação a 2017, somando R$ 34,2 bilhões. No varejo, o ritmo de crescimento das vendas foi mais lento, avançando 1,9% no ano passado, para R$ 17,1 bilhões. Nos resultados mais recentes, o Atacadão mostrou alta de 14,7% nas vendas líquidas no segundo trimestre.
Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, Prioux falou dos planos para atender às novas demandas dos consumidores. “Seremos o número um em e-commerce de alimentos”, afirma. “Temos visão clara do que podemos fazer.”
Falamos muito disso desde que cheguei aqui. O modelo de supermercado é muito regional e vamos ter boas surpresas sobre parcerias regionais com supermercados, seja parcial ou total. São empresas familiares e queremos que a família fique na empresa por alguns anos, talvez uma geração, como temos em alguns países da Europa. Espero poder anunciar algo em breve.
Não posso dizer. É um trabalho longo, porque são empresas muito relevantes e familiares. Cada vez que tem família versus Carrefour há um pouco de medo. Temos poucos supermercados, cerca de 40, e em cada região do País há grandes famílias com uma cadeia de bom nível. Podemos nos associar e manter a marca.
Não. Atacarejo é Atacadão. Queremos nosso modelo, mas podemos convidar outros para fazer parcerias.
A matriz tem extrema confiança no Brasil e quer manter o ritmo de expansão, investindo mais ou menos R$ 2 bilhões a cada ano.
Não. Isso seria à parte. Depende de quanto queremos comprar, mas são orçamentos diferentes. Temos caixa suficientemente grande para comprar as empresas que queremos.
Não. Nosso modelo de hipermercado vai muito bem. Hoje, o cliente usa sete formatos para fazer sua compra, não um só. Tem hipermercado, atacarejo, supermercado, lojas de proximidade, mas também tem iFood. Nos EUA e na Europa, mais de 50% da alimentação é fora do nosso negócio. Tudo isso muda completamente nosso modelo.
Encaramos como oportunidade. Temos de nos adaptar ao que o cliente quer e entrar nesse modelo. Temos de vender de tudo o que é alimentação.
Queremos ser o número 1 do Brasil. Temos organização própria dedicada e uma boa aceleração.
A Amazon pode fazer o que quiser. Me diga um país em que a Amazon tem sucesso nisso, sem ser os EUA, onde ela comprou o Whole Foods? Zero. Não temos problemas com a Amazon.
A Amazon, em produtos não alimentícios, pode ser um agente relevante no Brasil, mas há outros grandes. Tem dificuldades aqui relacionadas à estrutura, legislação, impostos diferentes por Estado... Isso, para um americano, é difícil de entender. Além disso, um novo participante tem de colocar seu centro de distribuição perto das cidades. Essa é a razão pela qual os ativos do Carrefour são muito bons, porque temos localização espetacular dentro da cidade, e todas as nossas lojas são centros de distribuição. Nossa infraestrutura de lojas alcança 70% da população brasileira. Temos visão clara do que podemos fazer.
Ganhamos muita participação de mercado. O Walmart é um grande varejista em nível mundial, mas, em termos de adaptação, não deu muito certo. Os grupos têm de se adaptar ao local. Se a mentalidade for de centralização, como nos EUA e na Europa, é preciso ter cuidado. Não podemos fazer o mesmo. Queremos ser uma empresa local, não nacional.
O volume do mercado é negativo em alimentação. Vamos bem, mas o mercado não tem perspectiva de tendência positiva de curto prazo. Pode mudar, mas, até hoje, não há nada que mostre mais consumo. Pode chegar a ter com a decisão do governo de injetar dinheiro. O cliente pode usar o dinheiro do FGTS para pagar dívida e também para comprar.
Não há porque parar de investir. Não sabemos o que vai acontecer. Todo mundo fala de EUA, China... Não é uma visão positiva do futuro, mas os grandes têm de tomar decisão. Temos de antecipar.
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