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'Temos de desenvolver o País sem radicalizar'

Para futura ministra da Agricultura, Brasil tem ferramentas para garantir sustentabilidade

Por Camila Turtelli
Atualização:
Tereza Cristina é a futura ministra da Agricultura do governo Bolsonaro Foto: Dida Sampaio/Estadão

BRASÍLIA - A atuação da futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, hoje deputada federal pelo Estado de Mato Grosso do Sul e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), ficou marcada nos últimos anos pela defesa à aprovação do Projeto de Lei 6.299, que flexibiliza as regras para fiscalização e aplicação de agrotóxicos no País. 

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Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Tereza afirmou que respeitará na sua gestão o Código Florestal, que considera muito bom, mas sem “radicalizar”. “Temos de desenvolver o País, temos de fazer comida para os brasileiros e para o mundo”, declarou Tereza. Ela defendeu o Acordo de Paris e os sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e o de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que aliam agronegócio à preservação do meio ambiente. 

Como a sra. pretende tratar a sustentabilidade em sua gestão à frente do Ministério da Agricultura? Seguindo a lei, temos o Código Florestal, que na minha avaliação é muito bom. Nós temos várias ferramentas que foram feitas ao longo deste ano e que são muito importantes. O que não podemos é radicalizar. Temos de desenvolver o País, temos de fazer comida para os brasileiros e para o mundo. Eu ouso dizer que, olhando hoje, teríamos de mexer muito pouco. Basta verticalizarmos alguma coisa. Por exemplo, fiquei muito feliz com a irrigação vindo para a Agricultura, porque se tivermos uma política de irrigação bem feita com o Meio Ambiente nos ajudando a formular, com sustentabilidade, vamos poder duplicar nossa produção e chegar a fazer três safras por ano em alguns lugares. Outra coisa é que vamos reforçar a ligação entre a Agricultura e Meio Ambiente. As pastas vão ter de se conversar. O perfil do ministro do Meio Ambiente que Bolsonaro quer é um que fale muito bem com a Agricultura. Não quer dizer que tudo o que pedirmos será possível, mas o diálogo vai ser aberto. 

A participação do Brasil no Acordo de Paris é importante para que o Brasil consiga abrir novos mercados e manter parceiros comerciais. Como a sra. vê a participação do País no acordo e como deve tratar isso com o futuro presidente? Não vejo nenhum problema. Acho que o acordo pode até mostrar que o Brasil está fazendo a coisa certa. Ele pode mostrar para o mundo o que o Brasil já faz pelo meio ambiente e pelo desenvolvimento sustentável. 

Isso quer dizer que a sra. defende a permanência do País no acordo? Eu acredito nisso, sim.

Os sistemas de integração lavoura-pecuária ou integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) são vistos como importantes ferramentas para aliar o agronegócio à preservação do meio ambiente. Porém, a adesão no País ainda tem de avançar muito. Como fomentar o crescimento desses sistemas? Primeiro, fazendo seminários e divulgando mais esses sistemas, mostrando que onde eles estão implantados, eles funcionam superbem e os produtores estão muito satisfeitos. O que precisa agora é facilitar um pouco, porque às vezes existe tanta burocracia para a adoção da tecnologia que as pessoas preferem deixar de lado. Há recursos, como os do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Mas precisamos pensar em mais incentivos, talvez selos de qualidade, bonificações na hora de pegar o financiamento.

Mas a adesão ao crédito para o Plano ABC ainda é baixa. É porque é muito difícil de pegar esse crédito. Há muita dificuldade de conseguir esse programa. Precisamos ver qual é o gargalo para que isso aconteça e possa ser aumentado. 

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Como o Brasil deve atuar na conquista e manutenção de mercados externos no setor agropecuário? A manutenção é fundamental. Sobre a conquista, estou trabalhando para dar um peso grande à Secretaria de Relações Internacionais, porque pretendo dar continuidade ao trabalho do ministro Blairo Maggi e trabalhar bem focada em quais são os mercados que queremos atingir. A confiabilidade do serviço agropecuário vamos ter de trabalhar bem e a imagem do Brasil também. Tanto é que já conversamos com o futuro chanceler, o embaixador Ernesto (Araújo), que nos procurou logo na sua primeira semana de indicado. A ideia é que a gente possa integrar mais a Agricultura com o Ministério de Relações Exteriores para que eles também nos ajudem na divulgação e na mudança da imagem do Brasil lá fora. Temos tanta coisa boa aqui e só se mostra lá fora o que é o ruim. Precisamos mudar isso. Outra coisa é estar sempre perto dos segmentos exportadores mostrando para eles o que é que estão querendo lá fora e o que temos de fazer aqui para dar a credibilidade que o Brasil precisa no exterior e incentivar a vinda de missões. Tenho um pedido de mais de dez embaixadas que querem nos visitar e isso mostra a importância do Brasil no agronegócio do mundo.

O que a sra. pretende fazer para proteger a renda do produtor? Se a guerra comercial entre Estados Unidos e China acabar, por exemplo, pode haver uma queda brusca de preços? Temos de mostrar cada vez mais a qualidade do produto brasileiro. Precisamos abrir novos mercados, para não ficarmos na mão só de um grande comprador, como é o caso da China, que se de repente, dá alguma trombada, pode nos prejudicar. Precisamos prospectar e ainda há muita coisa para avançarmos.

Como a sra. pretende agir em relação à concentração de mercado que há hoje no Brasil no setor frigorífico? Vamos ter de formular a política. Temos de incentivar financiamentos, linhas de crédito para os melhores, acho que você tem aí a inspeção estadual que, se bem implementada, pode trazer médias e pequenas plantas, principalmente os pequenos e o que precisamos é que também as plantas pequenas façam uma adequação para as regras internacionais para que elas estejam inseridas nesse mercado e para atender a outros países. A diluição da concentração é algo que o pecuarista tem pedido. 

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