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Tensão internacional pressiona o câmbio

Por Agencia Estado
Atualização:

O aumento das tensões entre os Estados Unidos e o Iraque pressionou o câmbio na segunda metade de janeiro, mostrando que o Brasil continua muito suscetível a crises externas que possam reduzir o fluxo de recursos para países emergentes. Nesse período, o dólar subiu 7,91%, de R$ 3,26 para R$ 3,518, chegando a ser negociado a R$ 3,64 no momento em que a guerra parecia apenas uma questão de dias. Para analistas como o chefe de pesquisa para a América Latina da consultoria Ideaglobal em Nova York, Ricardo Amorim, o real tende a se desvalorizar com força quando aumenta a aversão global ao risco porque o País ainda tem necessidade de financiamento externo muito elevada, estimadas em US$ 30 bilhões neste ano, ao mesmo tempo em que o fluxo de comércio ? ou seja, a soma das exportações e importações ? é pequeno em relação ao tamanho da economia. As necessidades brutas de financiamento externo do País, que incluem o saldo das contas correntes e as amortizações de dívidas com mais de um ano de prazo, caíram de estratosféricos US$ 70,8 bilhões em 1999 para US$ 38,3 bilhões em 2002. Neste ano, o número deve recuar ainda mais, ficando na casa de US$ 30 bilhões, considerando um déficit em contas correntes (balança comercial, a de serviços e as transferências unilaterais) na casa de US$ 3 bilhões e amortizações de US$ 27 bilhões. Para Amorim, a questão é que, no caso de uma eventual guerra mais prolongada entre os EUA e o Iraque, o País poderá enfrentar problemas para conseguir esses US$ 30 bilhões. ?E, se isso ocorrer, o real terá que se desvalorizar mais?, diz. Se o fluxo de comércio do Brasil fosse maior, a depreciação cambial poderia ser menos acentuada em momentos de falta de recursos estrangeiros. Mas, como a soma das exportações e importações corresponde a 22,8% do PIB ? ante algo como 60% no México e no Chile ?, são necessários forte desvalorização da moeda e um desaquecimento da atividade econômica para aumentar o superávit comercial e, com isso, compensar a redução da oferta de capital externo. Para este ano, Amorim prevê saldo comercial de US$ 17 bilhões. ?Se a soma de exportações e importações correspondesse a 45% do PIB, a depreciação cambial seria a metade do que é necessário hoje.? Outro problema é que, no caso brasileiro, a fragilidade externa acaba contaminando a situação fiscal, lembra ele. Uma desvalorização expressiva da moeda desperta o temor quanto à solvência do País, uma vez que metade da dívida líquida do setor público (que inclui a externa) é atrelada ao câmbio. ?Um salto na relação dívida/PIB tende a reduzir a disposição do investidor estrangeiro de financiar o País, provocando desvalorização do real, num círculo vicioso.? Para a diretora de economia global do banco de investimento Bear Stearns em Nova York, Emy Shayo, o real tende a ficar mais pressionado, entre outros fatores, por causa da magnitude da relação dívida/PIB do País, que terminou 2002 em 55,9%. No México, essa relação está na casa de 36% e no Chile, em 28%. Amorim entende que, no curto prazo, a única medida que o País pode tomar para reduzir a vulnerabilidade está no campo fiscal: aumentar a meta de superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros), medida que o governo deve anunciar nesta semana, de 3,75% para algo como 4,25% a 4,5% do PIB. O economista-chefe do banco JP Morgan, Luís Fernando Lopes, ressalta que o cenário doméstico tem se mostrado bastante positivo, contrapondo-se às incertezas internacionais. A expectativa do anúncio de uma meta maior ? e factível ? de superávit primário e do encaminhamento no Congresso de reformas como a da Previdência agrada aos investidores, podendo levar a uma queda mais significativa da moeda se a tensão no cenário externo diminuir, diz Lopes.

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