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Tensão na Argentina se assemelha à da crise de 2001

Por MARINA GUIMARÃES
Atualização:

A Argentina começa a repetir imagens do dramático dezembro de 2001, quando panelaços em todo o país pediam a renúncia do presidente Fernando De la Rúa, antecipando a pior recessão econômica de sua história e uma crise institucional sem precedentes em sua era democrática. As panelas que voltaram a ressoar no país ontem à noite ainda não foram uma repetição da palavra de ordem "que se vayan todos" (que saiam todos) endereçada naquela época ao ex-presidente De la Rúa. Por enquanto, os argentinos estão pedindo diálogo do governo de Cristina Kirchner com o setor agropecuário para pôr fim a um conflito que tomou a população como refém por quase 100 dias. Mas esta foi a terceira vez, neste ano, que os portenhos e a população do interior foram às ruas para protestar contra o governo. O panelaço replicado pelos bairros de Buenos Aires e pelas principais cidades argentinas foi em apoio aos produtores rurais para que o governo reveja a medida de 11 de março, que aumentou as retenções (impostos sobre exportações) de grãos. O panelaço de ontem à noite também foi um "basta" ao estilo de governar de Cristina Kirchner e seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner. "Estamos fartos da inflação, da arrogância da presidente e de seu discurso setentista (da década de 70) que divide a população entre esquerda e direita golpista, contra ou favor do governo", afirmou a professora de ensino primário Suzana González, em um dos panelaços do bairro de classe média Caballito. "Eu não sou nem de direita, nem de esquerda, muito menos golpista, mas não concordo com essa falta de diálogo em plena democracia e essas medidas baixadas com autoritarismo", completou a professora. A classe média está nas ruas para pedir um gesto do governo para interromper a situação de caos em se encontra o país com os bloqueios nas rodovias cada vez mais intransigentes; incêndios intencionais em plantações inteiras e em silos; escassez de combustíveis e de alimentos; transportes públicos urbanos e rurais paralisados por falta de óleo diesel e a disparada de preços. O aprofundamento da crise política e institucional que sacode a Argentina é cada vez maior em meio à crescente tensão social e acusações de golpe de Estado. A inflexibilidade do governo de dialogar é grande e a presidente Cristina Kirchner não aparece em público desde o último sábado, quando 19 produtores rurais sofreram repressão e foram presos.

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