Um movimento da britânica Aberdeen, que possui 5% da BRF, enterrou de vez qualquer tentativa de acordo entre os principais acionistas da companhia de alimentos sobre os nomes que comporão o conselho de administração da empresa.
A gestora enviou à BRF pedido para que seja usado na eleição do novo colegiado, que ocorrerá no dia 26 de abril, o chamado “voto múltiplo”. Assim, os acionistas votarão individualmente nos nomes dos candidatos às vagas e não numa chapa única, como ocorrera nas últimas eleições para o conselho da BRF.
A Aberdeen colocou-se publicamente ao lado dos fundos de pensão da Petrobrás (Petros) e do Banco do Brasil (Previ) desde que eles deflagraram uma disputa societária com Abilio Diniz no final de fevereiro ao pedir a destituição do conselho liderado pelo empresário.
++Indicados pedem para ter nome excluído de chapa de Abilio na BRF
Os fundos e Abilio, que tinha apoio da gestora brasileira Tarpon, negociaram por semanas um acerto que viabilizasse a formação de uma só chapa, mas um impasse sobre a lista de nomes havia travado as conversas entre os dois lados.
A Previ insistia que o melhor caminho era a via negocial. Mas a Petros já sinalizava que não cederia às exigências do empresário e que o caminho do voto múltiplo era, portanto, o mais apropriado.
++Abilio adia renúncia ao conselho da BRF
O pedido da Aberdeen forçou a solução de escolha do colegiado no voto. O mecanismo de voto múltiplo está previsto na Lei das SAs. O dispositivo foi criado para permitir que investidores minoritários possam pleitear assentos no conselho de administração.
No caso da BRF, não há grupo controlador. O capital da empresa está disperso na Bolsa. Previ e Petros são os maiores acionistas, com cerca de 11% cada. Depois, vêm Tarpon (8,5%), Aberdeen (5%) e Abilio Diniz (cerca de 4% via Península Participações).
++Ministério da Agricultura bloqueia exportação de aves da BRF para União Europeia
Incerteza. No voto múltiplo, cada ação detida pelos investidores presentes na assembleia é multiplicada pelo número de assentos previstos no conselho. Os acionistas então têm de optar por distribuir esses votos nos nomes para o conselho ou concentrar os votos num único candidato, aumentando as chances de que ele seja eleito.
Na avaliação de um importante acionista, a incerteza sobre um acordo e a recusa pública de executivos de participarem da chapa patrocinada por Abilio levaram ao pedido de voto múltiplo. A tendência é que uma chapa mista, com nomes dos principais envolvidos, seja formada ao final.
++Marfrig compra National Beef por quase US$ 1 bi e ações disparam 19%
O problema, nota outro executivo envolvido na disputa, é que há grande chance de o conselho da BRF seguir “rachado” caso esse cenário se confirme.
Procurados, Aberdeen, BRF, Petros, Previ, Península Participações e Tarpon não comentaram.