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'Teremos juros em níveis internacionais nos próximos 5 anos'

Para Ricardo Amorim, da Concórdia, BC voltará a reduzir juro para reverter desaceleração da economia no País

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A crise deve bater "de leve" no mercado de trabalho no Brasil. Esta é a opinião do diretor-executivo da Concórdia Asset Management, Ricardo Amorim. Ele avalia que o País passará por um período de desaceleração, nas não recessão. Para reverter este cenário, Amorim acredita que o Banco Central voltará a reduzir juros. No fim de 2009, segundo ele, a taxa básica do País, a Selic, deve chegar a 12%. "O movimento de queda de juros deve continuar ainda por mais tempo. Ao final dos próximos cinco anos, teremos juros nominais em níveis internacionais, em 7%".   Veja também: Ouça a entrevista com Ricardo Amorim  Crise vai gerar 20 milhões de desempregados até 2009, diz OIT Consultor responde a dúvidas sobre crise   Como o mundo reage à crise  A cronologia da crise financeira  Dicionário da crise     Leia abaixo os principais trechos da entrevista ao estadao.com.br:   1. A Organização Internacional do TRabalho (OIT) anunciou nesta segunda-feira que a crise vai gerar 20 milhões de desempregados até 2009. Como você explica este impacto?   É preciso avaliar que passamos por uma crise financeira global, porque os países desenvolvidos que estão na origem disso têm o grosso do capital. Os Estados Unidos, por exemplo, representam 56% deste capital. Isso significa que um problema financeiro americano é repassado rapidamente para todos os países. O segundo aspecto é que, do ponto econômico, nós não temos uma crise, nem nos países desenvolvidos. O que há é um processo de recessão normal. Até pode ser que, se a crise financeira piorar muito, vire uma crise econômica, mas esta não é a perspectiva. A crise é marcada pela depressão, que é um estágio mais forte da recessão. Colocando o emprego em perspectiva, haveria uma perda de 3 milhões a 4 milhões de vagas de trabalho em dois anos. Para se ter uma idéia, na Grande Depressão, em 1929, a perda foi em torno de 17 milhões de vagas de trabalho, mas em um período maior. Além disso, a população era menos da metade do que ela é hoje. Aquilo sim foi uma crise econômica. O que eu quero dizer é que temos uma crise financeira, não econômica. Além disso, há recessão nos países desenvolvidos, não global. No resto do mundo, vai haver uma desaceleração de crescimento.   2. E para o Brasil?   No Brasil, o desemprego vinha caindo e isso vai deixar de acontecer. É provável até que haja um pequeno aumento do desemprego, mas muito pequeno.   3. Quais as condições econômicas do Brasil para não ter um impacto tão grande?   O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que o Brasil vai crescer 3,5% no próximo ano, e eu concordo com isso. Esse patamar é menor que os 5,7% de crescimento em 2007, e dos 5,5% que deve ocorrer este ano. Então é uma desaceleração até meio forte. Por outro lado, a média de crescimento da economia brasileira de 1980 para cá é de 2,6%. Ou seja, mesmo em 3,5% de crescimento, estaremos acima da média. Então não é um período de crise. Aumento de desemprego veremos apenas em Estados Unidos e Europa e um pouco no Japão. O grosso do desemprego previsto pela OIT, portanto, não será nos países emergentes.   4. O que o governo precisa fazer para garantir que a economia no Brasil não sofra tanto com a crise?   Não dá para acreditar que o País desacelerando, o governo não vai responder. A gente vinha em um processo de elevação de juros. Agora veremos não só o fim do aumento dos juros, como o início de um período de queda. Isso já é um primeiro estímulo. O ideal seria a redução de gastos correntes e o aumento dos investimentos. Alguma coisa neste sentido deve acontecer. Com isso, o governo vai abrir ainda mais o espaço para a queda da taxa de juros, o que também ajuda na sustentação do crédito e da expansão do crescimento econômico. Mas estas medidas não serão descabidas. Se por um lado o governo não ficará apenas assistindo, também não deixará de cuidar da inflação.   5. Quais suas perspectivas para os juros?   Eu espero uma taxa Selic de 12% no final de 2009 e a inflação muito próximo à meta de 4,5%. O mais importante é que isso é apenas o início de um movimento de queda que vai continuar em 2010. Eu acredito que em cinco anos teremos juros nominais em níveis internacionais. Ou seja, 7%.

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