XANGAI - O presidente chinês, Xi Jinping, percorreu a passos largos na semana passada uma alta fábrica que faz ímãs de terras-raras, mineral fundamental para a manufatura global e para o setor que seu país domina. Seu principal negociador comercial, o vice-primeiro-ministro, Liu He, o acompanhava.
Xi não ameaçou impedir o fornecimento de terras-raras para os Estados Unidos. Ele não precisava. A ameaça velada, transmitida pela mídia estatal, quando o presidente Donald Trump intensificou sua guerra comercial contra Pequim, foi clara.
O domínio da China sobre o mercado de metais de terras-raras pode dar a Pequim um instrumento de retaliação contra Trump enquanto ele eleva tarifas e priva as empresas chinesas da tecnologia da qual precisam para sobreviver.
Um movimento semelhante da China há nove anos, contra o Japão por causa de uma disputa territorial, provocou comoção entre os fabricantes em todo o mundo, elevou os preços e revelou o controle de Pequim sobre uma parte essencial da cadeia global de suprimento.
Desta vez, no entanto, o impacto de terras-raras em qualquer bloco econômico pode ser muito menos claro. Isso prejudicaria a reputação da China como polo industrial. Outros parceiros comerciais, especialmente Japão e Coreia do Sul, podem acabar como danos colaterais.
Enquanto a China está determinada a resistir à pressão americana, os limites para as terras-raras “afetarão muitos outros países”, disse Gary Liu, economista de Xangai. “A cadeia de suprimentos globais é muito complicada.”
Está muito pouco evidente se a China aproveitará as terras-raras como arma. Na quarta-feira da semana passada, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês aconselhou os repórteres a não tentarem compreender muito sobre a visita de Xi à fábrica de ímãs na Província de Jiangxi.
Horas depois, Hu Xijin, editor do Global Times, um tabloide pertencente ao Partido Comunista Chinês, disse que os líderes em Pequim estavam avaliando a ideia. “Não acredito que o governo chinês fará isso imediatamente”, escreveu Hu no Twitter, “mas está sendo avaliada seriamente a necessidade de fazê-lo”. Terras-raras não são realmente raras. Mas o seu refino é dispendioso e poluente.
Produção
A China tem sido um dos poucos países dispostos a permitir a indústria. Embora minas de terras-raras tenham sido abertas nos EUA, na Austrália e em outros lugares, a China domina o refino e a sua transformação em metais valiosos, pós magnéticos e outros produtos de elevado valor.
Os minerais acabam sendo usados em tudo, desde iPhones a turbinas eólicas e mísseis. Eles são empregados para polir lentes de câmeras e refinar o óleo bruto em gasolina, diesel e combustível de aviação.
O apetite nos EUA por produtos que incluem terras-raras é enorme. Mas enquanto o país ainda importa grandes quantidades de catalisadores baratos de terras-raras para uso em refinarias de petróleo, a demanda americana por matéria-prima em terras-raras para serem usadas nas fábricas quase desapareceu.
Dados da alfândega chinesa mostram que os EUA compraram apenas 3,8% das exportações chinesas de metais de terras-raras no ano passado, muito menos do que Japão, e bem menos que Índia, Itália ou Espanha.
Em grande parte, isso acontece porque muitas das indústrias saíram dos EUA. Há quase uma década, Pequim começou a pressionar fortemente os fabricantes de produtos, como ímãs de motores elétricos e diodos emissores de luz, a transferirem sua produção para a China, se quisessem acesso confiável às fontes de metal de terras-raras.
Os setores remanescentes dos EUA, como automação e indústria aeroespacial, agora importam sistemas inteiros da China, tais como motores de arranque de carros e flaps de asas de aeronaves.
Pequim pode ainda bloquear as exportações de motores, ímãs e outros equipamentos fabricados na China para os EUA - e especialistas do setor notaram que a visita de Xi foi a uma fábrica de ímãs, não a uma mina.
“A mensagem foi: essa é uma cadeia de suprimentos e nós controlamos sua cadeia de abastecimentos”, disse Clint Cox, presidente da Anchor House, empresa de consultoria em terras-raras em Evanston, Illinois.
O dilema para Pequim é saber se coloca em risco seu papel central nas cadeias globais de fornecimento, ao suspender as exportações de componentes fundamentais para o Ocidente. Os falcões do comércio na administração Trump expressaram calmamente a esperança de que a China faça exatamente isso.
Eles consideram essa interrupção como a melhor maneira de persuadir as empresas globais a transferir a produção permanentemente da China para os Estados Unidos ou para aliados dos EUA, uma meta de longo prazo conhecida como dissolução ou desacoplamento nos círculos comerciais. /
TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO