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Têxteis buscam novas fronteiras

Concorrência chinesa e câmbio reduzem venda para EUA e estimulam entrada em países como Rússia e Turquia

Por Vera Dantas
Atualização:

Países fora do circuito internacional da moda começam a virar o novo alvo de exportações da indústria têxtil brasileira. Os Emirados Árabes Unidos, com consumidores de altíssimo poder aquisitivo, a Rússia, que abrigou recentemente a feira para ricos Millionaire Fair, e até países nórdicos como a Dinamarca estão na lista de ataque de produtos com a etiqueta "made in Brazil". O mercado latino-americano também é considerado uma opção atraente para investimentos. O interesse em novos mercados, de classe média emergente e com consumidores endinheirados, é a salvação para muitas empresas que enfrentam dificuldades nas vendas para mercados mais tradicionais. A desvalorização do dólar em relação ao real e a invasão maciça de produtos chineses nos Estados Unidos vendidos a preços imbatíveis frente aos concorrentes têm desestimulado as exportações para os americanos. "Não que os Estados Unidos não sejam importantes, mas a chegada dos chineses que oferecem um volume imenso de produtos com preços arrasadores dificulta as vendas", diz o presidente da Sinditêxtil e diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Rafael Cervone Netto. Os Estados Unidos são o segundo maior mercado de exportação para o Brasil, atrás apenas da Argentina. Mas vêm perdendo espaço nas vendas brasileiras. Os valores exportados para os americanos somaram US$ 338,9 milhões este ano até setembro. O resultado é 12% menor em relação a igual período em 2005. Em volume, na mesma comparação, as vendas caíram de 90,3 milhões de quilos em 2005 para 85,9 milhões em 2007. No ano passado a Hering teve, no terceiro trimestre, 42% das exportações destinadas à América do Norte. Neste ano a participação caiu para 29%. A estratégia da empresa, conforme seu último balanço, é descentralizar as vendas aos EUA e diversificar mercados. Não é a única. A Dudalina, de moda masculina, por exemplo, até dois anos atrás distribuía seus produtos para 12 clientes nos Estados Unidos. No ano passado, ainda vendia para quatro e este ano abandonou o mercado. "É um ambiente muito competitivo, onde a mercadoria tem pouco valor intrínseco e as exigências técnicas são muito grandes", diz o diretor de exportação, Rui Hess de Souza. Ele também decidiu reduzir a produção de roupas com a marca de terceiros (private label) e valorizar a própria marca. "Em 2006, do total exportado, 80% era no private label e 20% nossas marcas. Em três anos, vamos reverter essa proporção", diz o empresário. "O valor médio de uma peça private label é de US$ 11. Minha peça sai por US$ 23", compara. A empresa deu a largada também para a abertura de lojas na América Latina com sua marca. Este ano foram quatro no Paraguai. Em 2008, serão mais 11 lojas distribuídas por Venezuela, Paraguai, Equador, Costa Rica, Chile e Colômbia. A Rússia é outra possibilidade que começa a ser investigada. A Poko Pano, exportadora de moda praia há 14 anos, entrou este ano em Dubai e tem a China como um de seus focos de venda para 2008. "São nos países emergentes, com uma classe de novos ricos, que posso reajustar o preço do biquíni e entrar com um produto mais sofisticado para quem compra luxo", resume a diretora da empresa, Paola Robba. Embora exporte para Estados Unidos, Europa e América do Sul, ela se queixa muito do prejuízo que teve com o câmbio. "Em Portugal, por exemplo, perdi 40% das vendas porque eles não aceitam reajuste de maneira alguma." Ela fecha o ano com faturamento empatado com o ano anterior e uma redução de 10% no volume vendido. Para ser bem sucedido nos países europeus é preciso investir muito na marca. "A Europa exporta moda. Entrar lá é mais complicado. Se a empresa não tiver recursos para marketing terá dificuldade", diz o presidente do grupo Maria Bonita, Alexandre Aquino. A marca é vendida em Londres, em multimarcas, mas também em novos mercados como Dubai, Arábia Saudita, Cingapura e Rússia. A Marisol foi uma das que resolveram apostar num dos centros do circuito da moda ao abrir uma loja em Milão, na Itália, com a marca infantil Lilica Ripilica na Via Della Spiga. "É nossa loja conceito na Europa para divulgar a marca para outros países", diz o gerente de exportação, Marcelo Damm. A estratégia da empresa de internacionalização é a abertura de várias lojas no exterior. Paris foi um ponto inicial de expansão para a Mabel, de moda feminina sofisticada. "Conseguimos contato com um distribuidor local que abriu portas para a Mabel nos países árabes", diz o diretor financeiro da empresa, Francisco Otávio de Castro Magalhães. "Competir na França com marcas como Prada e Armani é inviável. O investimento é muito pesado." Na França, a empresa conseguiu três clientes e não tem mais o país como um alvo. O empresário diz que o europeu reconhece design, mas quer preços baixos porque imagina que a mão-de-obra brasileira é barata como a chinesa. "A negociação com os árabes é bem mais fácil e eles querem novidades", diz Magalhães, que exporta 15% da produção de 20 mil peças ano.

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