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Menos nuggets e saladas menores: inflação atinge o fast food dos EUA

Porções nos restaurantes estão ficando menores; trata-se da reduflação, quando os tamanhos encolhem, mas você continua pagando o mesmo preço

Por Leslie Patton
Atualização:

Você sente que foi enganado ao olhar para o prato que pediu? Não é apenas coisa da sua imaginação – as porções nos restaurantes dos Estados Unidos estão mesmo ficando menores. Chame isso de reduflação: quando os tamanhos encolhem, mas você continua pagando o mesmo preço, ou às vezes até mais, pela refeição ou pelo produto.

Os restaurantes americanos estão no mesmo barco que o restante do país, lutando contra o aumento das despesas com alimentos e combustíveis que recentemente ajudaram a elevar a inflação dos EUA para o maior nível dos últimos 40 anos. Os restaurantes também aumentaram os preços. Dados do governo mostraram que os gastos com refeições fora de casa aumentaram 7,2% nos últimos 12 meses. Mas agora, os operadores de restaurantes estão começando a se preocupar com o quanto podem aumentar a conta antes que os clientes comecem a se recusar a pagar, principalmente por algumas coisas consideradas como gastos opcionais.

Restaurantes também estão tomando outras medidas para enfrentar o aumento dos custos, como trocar o tipo de cortes de carne servidos Foto: Tom McCorkle/ Washington Post - 16/10/2019

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Por isso, as empresas estão criando algumas estratégias nos bastidores para reduzir os custos, e consequentemente as porções estão encolhendo. Nos Subways pelos EUA, os wraps e sanduíches de frango assado de rotisserie estão com menos recheio. A rede Domino's reduziu de dez para oito o número de unidades das porções de asinhas desossadas, e os clientes do Burger King verão a mesma redução em suas porções de nuggets. Os potinhos de molho estão ficando menores na rede de comida mexicana Salsarita’s. E em Southport, na Carolina do Norte, as saladas que pesavam quase meio quilo da Gourmet to Go agora estão cerca de 50 gramas mais leves.

“Sim, a inflação está pegando”, disse Carolyn Gherardi, proprietária da Gourmet to Go, um pequeno restaurante com uma varanda frontal e uma porta amarela que oferece aos clientes um buffet de refeições caseiras. Por enquanto, ela está mantendo o preço dessas saladas em US$ 6,95.

“Estamos tentando manter o mesmo preço, mas, na realidade, por um custo-benefício menor”, disse ela.

A aposta dos restaurantes é que os consumidores não vão se incomodar tanto com um pouco menos de batatas fritas, ou um pouco menos de recheio em seus sanduíches, do que reclamariam ao ver mais um aumento de preço. É uma estratégia que tende a funcionar devido a como nossos cérebros processam – ou não processam – as mudanças, disse Nailya Ordabayeva, professora de marketing do Boston College.

“As pessoas tendem a subestimar as mudanças no tamanho das coisas”, disse ela. “Isso é bastante conveniente para as empresas mudarem de fato o tamanho, mexer na dimensão, mais do que no preço, porque as pessoas percebem mais as mudanças de preço.”

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Clientes de supermercado perspicazes sabem que a reduflação não é nenhuma novidade. A mudança para tamanhos menores é uma técnica antiga de lidar com margens mais apertadas, sobretudo para fabricantes de produtos industrializados. Mas as despesas com os alimentos estão subindo de forma tão rápida atualmente, que a prática está se tornando mais comum tanto em restaurantes como em supermercados.

Em fevereiro, a fabricante de queijos veganos Daiya Foods tirou do mercado a embalagem com 227 gramas do produto e a substituiu por uma ligeiramente diferente com apenas 200 gramas. Há pouco tempo, a Gatorade fez uma mudança semelhante, ao eliminar aos poucos suas garrafas de 900 ml para vender apenas sua versão de 800 ml. Consumidores no fórum do subreddit r/shrinkflation publicaram fotos de exemplos de embalagens menores de batatas fritas, sabonetes que encolheram e frascos mais leves de hidratante.

Nem mesmo o papel higiênico passou ileso. Em uma conversa com a Associação Americana de Aposentados (AARP, na sigla em inglês), Edgar Dworsky, fundador do site Consumer World, disse que as principais marcas reduziram o número de folhas dos rolos.

Às vezes, as empresas estão atribuindo as mudanças a questões como problemas na cadeia de suprimentos ou até mesmo às preferências do consumidor. A Gatorade, por exemplo, diz que parte do motivo para o tamanho da garrafa menor é ela ser mais fácil de segurar. A rede Subway disse que as reduções nos recheios dos sanduíches de frango assado de rotisserie “refletem nossa evolução contínua para melhorar nossas ofertas e não são uma resposta à inflação”.

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Os consumidores suspeitam de um pouco de jogo sujo, supondo que os restaurantes não estão sendo diretos. Cerca de 56% dos clientes americanos dizem que estariam mais dispostos a pagar um pouco mais se os restaurantes explicassem de forma clara o motivo de os preços estarem subindo, de acordo com uma pesquisa encomendada pela MarketMan.

Além das porções menores, os restaurantes também estão tomando outras medidas para enfrentar o aumento dos custos, como trocar o tipo de cortes de carne servidos.

Quando o chefe de operações do Salsarita’s soube do aumento de quase 26% no preço do bife, isso não caiu nada bem. A empresa optou por um corte de carne mais barato do que o que costumava usar antes. A troca reduziu esse aumento para cerca de 22% – um salto ainda impressionante, mas um pouco mais acessível para a maioria das 85 franquias da rede. Agora, a empresa alterna entre os cortes, dependendo do que está disponível e mais barato.

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“Sinto que tivemos muita sorte porque parte dessa conversa foi: ‘Repassamos esse aumento? Ou o suportamos e tiramos o prato do cardápio?”, disse o diretor de operações Merrick McKinnie. “Conseguimos reduzir esse custo, dizendo que usaremos qualquer um dos cortes.”

A rede com sede em Charlotte, na Carolina do Norte, também transformou um problema na cadeia de suprimentos em uma solução de corte de custos. Depois de ter problemas para conseguir recipientes de plástico padrão de 120 ml para porções de molhos, queso e creme azedo, os restaurantes com frequência estão usando versões de 100 ml. A redução de cerca de 20 ml não incomoda os clientes, e agora a empresa está considerando manter a redução, disse McKinnie.

“Em um mundo sem limitações, caso existam as opções de 120 ml e 100 ml, mudaremos para a opção menor”, disse ele.

Na J. Alexander's, uma cadeia com aproximadamente 20 churrascarias, as aparas do filé mignon costumavam ser jogadas no lixo, mas agora os chefs estão moendo esses pedaços extras de carne para fazer cheeseburgers. Eles também estão sendo usados em outros pratos recém-criados, como tacos de carne asada, “por causa da inflação”, disse o CEO Jim Mazany.

“Hoje, estamos utilizando de verdade o produto inteiro”, disse Mazany.

Os consumidores provavelmente vão ver mais casos de reduflação e medidas de corte de custos nos próximos meses, já que as pressões sobre os preços não vão desaparecer tão cedo. O Departamento de Agricultura dos EUA agora espera que os preços dos alimentos no varejo aumentem de 5% a 6% este ano – praticamente o dobro da previsão de três meses atrás.

Bryan Stotland, 53 anos, de Chicago, diz estar percebendo as porções menores principalmente nos supermercados, mas também para entradas em restaurantes. “São mais ou menos uns US$ 20 para um aperitivo e US$ 32 para uma entrada, e eles estão quase do mesmo tamanho. Então, nesse aspecto, as porções encolheram.”

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“Às vezes fico um pouco frustrado”, disse ele. “Mas acho que é como se a economia estivesse prejudicada, então você entende.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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