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TJLP fica 'estacionada' e empresários reclamam

Enquanto o juro básico (Selic) caiu 4 pontos de agosto para cá, taxa que serve de parâmetro para empréstimos do BNDES permaneceu em 6%

Por FERNANDO NAKAGAWA/ BRASÍLIA
Atualização:

Uma das obsessões da equipe econômica é o barateamento do crédito. Para isso, o governo aposta boa parte das fichas na queda da taxa básica, a Selic, referência nas operações voltadas ao consumo. O plano, porém, passa longe da Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), parâmetro nos financiamentos para os investimentos das pessoas jurídicas. Empresas reclamam.A Selic está em queda há quase um ano. Desde agosto do ano passado, o juro mais conhecido entre os brasileiros caiu 4 pontos porcentuais e está agora em 8,5% ao ano, mínimo histórico. Analistas dizem que o Banco Central seguirá com a mesma estratégia até levar a taxa para 7,5% em agosto. Enquanto isso, a taxa de longo prazo está estacionada em 6% ao ano desde julho de 2009. "A taxa de longo prazo deveria cair em igual tendência para que fosse mantido o diferencial com a Selic. Se a TJLP caísse, para muitas empresas novos investimentos passariam a ser viáveis", reclama o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.O argumento dos empresários é o de que a vantagem de tomar crédito vinculado à TJLP é cada vez menor, o que reduz o benefício potencial de novos projetos. Hoje, o juro de longo prazo é 26% mais baixo que a Selic. Uma década atrás, era 60% mais barato: em dezembro de 2002, o juro básico estava em 25% ao ano, mais que o dobro dos 10% da TJLP.Curto prazo. "O problema é que a Selic é um juro de curto prazo e o investimento é uma operação de longo prazo. No limite, a perda de competitividade da TJLP poderia fazer com que empresas mudassem o mix de financiamentos, com um pouco mais de operações ligadas à Selic", disse o gerente de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Em março, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a Selic seguiria em tendência de queda e, por isso, deveria convergir para o nível da taxa de longo prazo.Dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostram que 92% de todos os empréstimos concedidos pela instituição seguem a TJLP. Desde 2009, a participação do juro de longo prazo como referência nos financiamentos da casa tem girado em torno desse nível. No ano passado, o estoque dos empréstimos que seguem o juro de longo prazo somava R$ 137,3 bilhões. "A queda da Selic não significa diminuição na demanda por financiamentos do BNDES. Também não temos recebido nenhum tipo de reclamação do empresariado", afirma a instituição em nota enviada ao Estadão. O banco explica que a diminuição da vantagem do juro de longo prazo "pode permitir que outras fontes de financiamento, seja por instrumentos de renda fixa ou mecanismos do mercado de capitais, possam auxiliar o BNDES na tarefa de apoiar a realização de investimentos de longo prazo no País".Na terça-feira, em evento em São Paulo, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco defendeu o fim da TJLP. "Ela virou a taxa do BNDES. É quase uma decisão administrativa, é tomada sem critérios. Por mim, a TJLP e a TR não deveriam existir. São ruínas do passado inflacionário brasileiro." Pérsio Arida, outro ex-BC, disse que o problema é que quase 40% do crédito brasileiro é subsidiado, como parte das operações do BNDES. "Se parte do crédito é dada com subsídio, o BC precisa fixar um juro maior para compensar isso. Se todo mundo pagasse um juro só, a taxa única seria menor. Não há almoço grátis. Se há alguém pagando mais barato, o resto paga mais caro."

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