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TLP pode prejudicar empresas, diz Rabello

Para presidente do BNDES, novo modelo de cálculo da taxa de juros usada pelo banco reduz ‘previsibilidade’ nas condições de financiamento

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, alertou que a fórmula proposta pelo governo para o cálculo da nova taxa de juros dos empréstimos do banco de fomento, chamada de Taxa de Longo Prazo (TLP), pode prejudicar as empresas tomadoras de crédito na instituição ao reduzir a ‘previsibilidade’ das condições dos financiamentos. Para ele, atrelar a atual TLP a um título público torna a taxa ‘muito mais nervosa’ do que a TJLP, que é definida a cada três meses pelo governo.

Isso porque as taxas de juros de títulos públicos refletem as condições da economia e quanto os investidores pedem para aceitar financiar o governo. Essa avaliação acaba sujeita a fatos não só na economia, mas também na política.

Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES Foto: Felipe Rau/Estadão

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“Em um momento muito agudo (de alta desses juros), um projeto de longo prazo pode não resistir financeiramente à TLP”, avaliou Rabello. Para o presidente do BNDES, o modelo de cálculo da TJLP hoje dá muito mais estabilidade e previsibilidade aos investidores.

O Congresso Nacional já estuda mudar a fórmula proposta pelo governo. O relator da Medida Provisória (MP) 777, deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), defende uma versão que não “aniquile” o setor produtivo e sinaliza com mudanças. A cúpula do banco de fomento deve participar dos debates para uma possível revisão do modelo.

A TLP foi criada com o objetivo de reduzir a diferença que há hoje entre o custo que o Tesouro Nacional paga ao mercado para se financiar, que é a Selic (hoje em 10,25% ao ano) e a taxa que a União cobra nos empréstimos ao BNDES, que é a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), em 7% ao ano. Nos quatro primeiros meses deste ano, o governo já teve um custo de R$ 6 bilhões por conta dessa diferença (o chamado subsídio implícito). Mas no passado recente, com um diferencial de juros ainda maior, essa conta chegou a mais de R$ 20 bilhões em 2014.

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A TLP vai refletir mais de perto o custo de captação do Tesouro, eliminando o subsídio implícito ao longo de cinco anos. Isso porque o cálculo da taxa é vinculado NTN-B, título público atrelado à inflação. A ideia do governo é que a nova Taxa de Longo Prazo possa variar mês a mês, mas não mude uma vez fixada em determinado contrato de financiamento. Ela será aplicada em contratos assinados a partir do início de 2018, segundo a proposta do governo.

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“A proposta do governo tem objetivo meramente fiscal de reduzir o subsídio. Nossa preocupação é ter equilíbrio com o papel do BNDES, que é de fomentar o investimento. É preciso manter um incentivo”, disse o relator ao Estadão/Broadcast.

A comissão mista que analisa o texto deve realizar três audiências públicas, uma delas no Rio de Janeiro, sede do BNDES. A intenção é ouvir integrantes do governo e representantes do setor produtivo, do mercado de capitais e do banco de fomento para avaliar as possíveis mudanças na fórmula. O BNDES vê com bons olhos a tentativa de rediscutir o modelo proposto.

“Precisamos garantir o equilíbrio entre o fiscal e o papel do BNDES. Temos de dar flexibilidade, a regra prevê um prazo de convergência só de cinco anos para a TLP. É preciso ter cuidado para não aniquilar o setor produtivo e os investimentos”, disse o relator. “Talvez seja interessante criar um instrumento pelo qual o governo, quando tiver condição mais favorável, possa voltar a dar subsídios”, defendeu.

“Em um momento muito agudo (de alta desses juros), um projeto de longo prazo pode não resistir financeiramente à TLP.”Paulo Rabello de Castro

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