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Tombini diz que ajuste fiscal de Levy ajudará a conter a inflação

Desde o anúncio da nova equipe econômica, Tombini voltou a incluir o tema do controle dos gastos públicos em seus discursos

Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Foto do author Célia Froufe
Por Murilo Rodrigues Alves , Célia Froufe (Broadcast) e Victor Martins
Atualização:

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, atrelou a convergência da inflação para o centro da meta ao sucesso da política fiscal do futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Para ele, a confiança dos empresários e das famílias só voltará com uma atuação mais afinada do Banco Central e do Ministério da Fazenda. O IPCA na leitura em 12 meses fechou novembro em 6,56%, acima do teto da meta.

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Tombini classificou a meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 como "número duro, na realidade difícil, mas sim, factível". A meta foi anunciada pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que se comprometeu em tornar a contabilidade pública mais transparente e a cortar o repasse de dinheiro aos bancos públicos. "O governo terá condições de atingir esse número", disse Tombini.

Desde o anúncio da nova equipe econômica, Tombini voltou a incluir o tema do controle dos gastos públicos em seus discursos. O presidente do BC afirmou que para conduzir a inflação para o centro da meta é importante o controle dos gastos públicos por parte do governo, porque só assim as ações de política monetária se tornam mais eficazes. "Quanto mais apertada a política fiscal, tanto melhor para a política monetária. Senão, fica mais trabalhoso", afirmou Tombini. "Tenho falado isso há quatro anos", completou.

Imediatamente, um dos parlamentares retrucou: "O problema é que eles não lhe ouvem". Tombini deu um sorriso amarelo e disse: "Enfim..." Para o BC, a política fiscal está caminhando num horizonte relevante de expansionista para a neutralidade. "Se está caminhando, ainda não chegou" afirmou.

Alexandre Tombini Foto: Dida Sampaio/Estadão

Dólar e juros. O presidente do Banco Central disse que a instituição acompanha a volatilidade externa e que não tem visto nada diferente do Brasil em relação a outras economias. "Está em curso um movimento internacional de fortalecimento do dólar", afirmou.

Tombini rebateu a acusação de ter retardado o aumento dos juros básicos em função das eleições para presidente da República. Ele afirmou que decidiu manter a Selic em 11% ao ano na reunião de setembro, às vésperas das eleições, por entender que a melhor opção era não reduzir a taxa na estratégia de conduzir a inflação para o centro da meta.

No entanto, segundo Tombini, a opinião da diretoria do BC começou a mudar ao longo do mês de outubro, quando começou um processo de fortalecimento do dólar no mercado internacional. A mudança de estratégia, afirmou o presidente do BC, foi sinalizada pelo diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, na divulgação do relatório de inflação, e por ele mesmo, quando participou da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Declarei à imprensa, inclusive a brasileira, que não teria qualquer complacência em relação à inflação", afirmou.

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De acordo com o presidente do BC, no início de setembro, quando o Copom decidiu manter a Selic em 11% ao ano, a cotação do dólar era de R$ 2,25. Na reunião depois das eleições, em 28 e 29 de outubro, o dólar já estava cotado a R$ 2,50 e R$ 2,55. "Diante desse quadro e da desvalorização do real de mais de 10%, aquela estratégia não era mais válida. Certamente, não improvisamos", afirmou. O Copom aumentou a Selic para 11,25% três dias após as eleições. Na reunião seguinte, na semana passada, aumentou mais 0,5 ponto porcentual, para 11,75%, patamar que está hoje.

Tombini estava rebatendo a acusação do líder do DEM na Câmara, José Mendonça Bezerra Filho, que classificou o presidente do BC como "sobrevivente em um governo esquizofrênico" e ainda questionou a autonomia do BC.

Por sua vez, o presidente do BC disse que o ciclo de aumento de juros, de abril de 2013 a abril de 2014, foi de 3,75 pontos porcentuais, do tamanho de outros ciclos, como o de 2010 e 2004. "Não há improvisação em relação ao tempo em que as decisões são tomadas", afirmou, sem rebater a acusação de que o BC não tem autonomia operacional.

Recuperação. Tombini traçou um cenário de "recuperação gradual" da economia brasileira no próximo ano. Ele afirmou que a despeito das baixas projeções para o PIB de 2015, haverá mudanças favoráveis entre as atividades que puxarão a atividade econômica. As projeções de uma centena de economistas ouvidos pelo Banco Central para a pesquisa Focus aponta que o PIB de 2015 deve ser de 0,73%.

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Tombini acredita que os investimentos devem ganhar impulso graças à retomada da confiança dos empresários e das famílias e das concessões públicas, especialmente nas áreas de exploração de petróleo. Para ele, a melhora na economia mundial e a depreciação do real contribuirão para aumentar as exportações brasileiras e melhorar o resultado da balança comercial do País.

O presidente do BC disse que o consumo crescerá em menor ritmo do que anos anteriores, mas continuará apoiado na expansão da renda dos trabalhadores e do mercado de crédito, que segue expandindo em ritmo compatível ao da atividade.

Do lado da oferta, Tombini citou a expectativa de um novo recorde na safra de grãos. Para a indústria, que teve resultado pífio neste ano, espera maturação dos investimentos, especialmente no setor de petróleo e gás. No entendimento do presidente do BC, embora o setor de serviços deva continuar desacelerando, as condições de mercado de trabalho devem permanecer favoráveis, segundo ele, por causa da geração de empregos e da manutenção da expansão da renda do trabalhador.

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"Por tudo isso, o crescimento terá melhores fundamentos nos próximos anos", afirmou Tombini aos parlamentares. Ele ressaltou, porém, que para crescer a taxas mais altas é preciso aumentar a produtividade, investir em "fontes complementares", como o acesso à educação e a qualificação da mão de obra.

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