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Top Picks: Alta do dólar favorece siderúrgicas que têm parte da receita ligada à exportação

Papéis de Vale, Gerdau, CSN e Usiminas avançaram em meio a escalada da moeda; no entanto, analistas alertam que é preciso avaliar cada empresa isoladamente

Por Wagner Gomes
Atualização:

Com a escalada do dólar, as ações de empresas siderúrgicas e da Vale, que têm boa parte de suas receitas ligada à exportação, estão ganhando fôlego. Em um mês, os papéis de Gerdau e CSN chegaram a subir entre 15% e 22%. A Vale registrou movimento parecido, com alta de 16% em 30 dias. Mais focada no mercado interno, Usiminas avançou 8%. No mesmo período, a rentabilidade do Ibovespa foi de um pouco mais de 8%.

Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, diz que os papéis do setor de siderurgia sofreram impactos relevantes com a disseminação do coronavírus, tanto por conta da redução de demanda interna e externa quanto pelo índice de alavancagem dessas empresas. Segundo ele, tal fato resultou em menor fluxo comprador devido à elevação a aversão ao risco dos investidores no cenário de deterioração econômica. No entanto, para ele, a forte escalada recente do dólar tende a elevar os ganhos de empresas através das exportações.

No último mês, a mineradora Vale teve alta de 16% no Ibovespa, movimento que foi favorecido pela alta do dólar. Foto: Fábio Motta/Estadão

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"O movimento poderá acontecer também para as siderúrgicas com o cenário externo ficando mais favorável ao comércio de tais produtos", afirma Esteter, lembrando apenas que a recuperação econômica brasileira deverá acontecer em um ritmo gradual e, com a nova elevação do risco país, decorrente da instabilidade política agravada com a demissão de Sérgio Moro, ativos alavancados deverão sofrer dificuldades de recuperação do fluxo de compra.

Sócio e economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, explica que os setores mais relacionados com o exterior são os que sairão na frente. "Todos os países desenvolvidos estão criando investimentos em infraestrutura e a demanda por produtos de aço deve crescer um pouco mais para frente. Com o dólar valorizado no Brasil a demanda pela indústria de aço e minérios deve crescer, por conta de preços mais atraentes. Não só isso, mas também todo o setor de proteínas", afirma Bandeira.

O analista do banco, porém, que será preciso avaliar cada uma das empresas isoladamente, pois a situação entre elas pode ter mudado bastante. Segundo ele, é preciso avaliar o caixa, a alavancagem financeira e o endividamento em moeda forte. Tudo isso, em sua avaliação, passa a ser mais importante que o próprio resultado auferido para atravessar a fase mais crítica.

Julia Monteiro, analista da Mycap, acredita na volta gradual do preço das siderúrgicas, influenciado não somente pela cotação do dólar que tem impacto direto na receita das companhias, mas também pela retomada da demanda de produção industrial, alavancada inicialmente por empresas internacionais. "Ratificamos esse embasamento ao analisarmos múltiplos e o valor das empresas com cotação abaixo das comparáveis internacionais e históricas", explica ela.

O analista da Mirae Asset, Pedro Galdi, diz que "cada caso é um caso" entre as siderúrgicas. Usiminas tem 10% de sua receita em exportação. Já a Gerdau tem receitas de suas unidades no exterior, com destaque para os EUA. Segundo ele, CSN exporta pouco aço, mas se beneficia do minério de ferro, o que irá ajudar seu resultado do primeiro trimestre, seja pelo dólar alto, como pela manutenção do preço do minério de ferro no mercado transoceânico.

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O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, diz que ainda vê dificuldades para as siderúrgicas e lembra que a Moodys colocou o setor em perspectiva negativa, tanto no Brasil como na Rússia. Ele explica que CSN possui mais de 50% de receitas dolarizadas, o que funciona como um colchão de amortecimento. Porém, afirma, sua alta alavancagem (3,7 vezes o Ebitda) aliada ao menor índice de liquidez do setor faz com que a empresa seja uma opção mais arriscada no setor.

"Já a Gerdau também possui a mesma prerrogativa de maioria de receitas dolarizadas, tal como CSN: menor alavancagem (1,5 vez o Ebitda ) e maior dependência da economia norte-americana, o que pode ser um diferencial na retomada caso este país apresente uma velocidade maior em sua recuperação", comenta.

Ilan diz que Usiminas é o player mais nacional entre os concorrentes na bolsa. Mas explica que mesmo sua relação preço/valor patrimonial estando atrativa, suas margens siderúrgicas são comumente mais baixas e demandam uma massa de receitas maior, "algo que apenas uma graduação nos índices econômicos vai poder proporcionar a empresa".

Carteiras

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Na troca de carteira, a Guide retirou a Sanepar e colocou no lugar a Centauro. Esteter diz que com o avanço do coronavírus, as companhias pertencentes ao setor de varejo sofreram forte realização e passaram a operar apenas com seu canal digital. Segundo ele, aquelas que já o possuíam, funcionando de maneira eficiente, estão se destacando frente às demais. É o caso da Centauro. "Avaliamos que a entrada nas ações da Centauro nos permite uma relação de risco versus retorno mais interessante que Sanepar nesse momento", comenta.

Ainda em relação às mudanças, a Ativa Investimentos retirou CSN ON e Cyrela ON da lista de recomendações para colocar Vale ON e Magazine Luíza ON. Já Mycap trocou Rumo ON e Qualicorp ON por Raia Drogasil ON e Weg ON.