PUBLICIDADE

Publicidade

Trabalhar no interior não é para todo mundo

Oportunidades aumentam, mas especialistas alertam que mudança de metrópole para pequena cidade pode esbarrar em 'choque cultural'

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

Trocar o trânsito engarrafado pela caminhada até o trabalho. A preocupação constante pela possibilidade de os filhos brincarem na rua. O almoço apressado no restaurante por duas horas com a família no meio do dia. Embora a escolha entre o estresse e a tranquilidade pareça óbvia, a realidade mostra que a transição profissional de uma metrópole para uma pequena cidade não é para todo mundo.Com o crescimento da economia, empresas de fora dos grandes centros oferecem oportunidades para profissionais qualificados trabalharem em ambientes que priorizam o bem-estar e o espírito de equipe. Entre 17 empresas brasileiras na lista das cem melhores para trabalhar na América Latina em 2010 pelo Instituto Great Place to Work, estão a Unimed Missões, de Santo Ângelo (RS), e a Pormade, de União da Vitória (PR). A primeira é uma cooperativa médica com 150 funcionários que vai contratar pelo menos cem novos empregados por causa da inauguração de seu primeiro hospital. Já a Pormade fabrica portas decorativas para o mercado de construção civil. Ainda este ano, a companhia elevará seu quadro de 350 para 500 funcionários.Adaptação. Localizadas em cidades com menos de cem mil habitantes, a Unimed Missões e a Pormade oferecem a tranquilidade que executivos de São Paulo e do Rio de Janeiro dizem buscar. Quando a mudança se torna realidade, porém, a adaptação pode ser difícil. Segundo a diretora do grupo de gestão de carreiras DMRH, Maria Habimorad, atrair o talento criado no grande centro não é suficiente, pois a taxa de fracasso deste tipo de "intercâmbio" costuma ser alta. "A mudança costuma ser melhor quando o funcionário já morou em cidades de médio porte."Para a especialista, o perfil do profissional disposto a trocar a cidade grande pelo interior é específico: são executivos de mais de 35 anos, com filhos. "A disponibilidade dos mais jovens, a geração "y", é menor. É um comportamento bem diferente da geração anterior, que viveu um momento de escassez maior de emprego", afirma Maira.Intercâmbio frustrado. A diretora de recursos humanos da Pormade, Hermine Schreiner, conta que a empresa contratou um executivo de São Paulo para trabalhar em União da Vitória, cidade de 53 mil habitantes a 250 quilômetros de Curitiba. Segundo ela, a mulher do executivo não se adaptou à cidade, e ele pediu demissão em poucos meses. A experiência fez a empresa desistir de "importar" talentos de grandes centros. "Temos profissionais bem preparados (para a matriz). Estamos abrindo vagas na área comercial em São Paulo. Vamos buscar os paulistas, que já conhecem bem o mercado."A presença da Unimed Missões na lista das melhores para trabalhar atrai a curiosidade de profissionais de outros mercados. "Recebemos currículos de Porto Alegre, São Paulo e Rio", diz a secretária de qualidade da companhia, Daiane Caetano Leite. A empresa ainda não trouxe funcionários vindos de grandes centros, mas isso pode mudar com a abertura das cem novas vagas. Por enquanto, segundo Daiane, o único profissional de "cidade grande" que a Unimed Missões trouxe para Santo Ângelo, município de 75 mil habitantes a 430 quilômetros da capital gaúcha, foi um gerente de Lajeado, região metropolitana de Porto Alegre.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.