Tradição aprendida aos cinco anos

Soares ficou 16 anos sem produzir o queijo

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Por Reneé Pereira (texto) e Daniel Teixeira (fotos)
3 min de leitura
Soares ficou 16 anos sem produzir o queijo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Foram 16 anos sem fabricar uma única peça de queijo. Desde que o pai morreu, no fim da década de 90, Carlos Henrique Soares preferiu vender o leite a fabricar o queijo. Não era por falta de gosto, mas por uma questão financeira, já que o preço do queijo era muito baixo. “Naquela época não valia nada.”

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Na sua família, a tradição começou com o bisavô. Soares lembra que, aos cinco anos, aprendeu com o avô a fazer o “merendeiro” (queijo menor e mais baixo que o tradicional) para vender. “Ele fez um banquinho para eu alcançar a bancada. Foi aí que tomei gosto pela coisa”, conta Soares, que voltou a fazer queijo em julho de 2015.

Nessa época, o filho Henrique Vieira Soares estava estudando em Bambuí, cidade vizinha de São Roque de Minas, e voltava só nos fins de semana. Foi nessas idas e vindas que o filho também se encantou pela tradição. Contra a vontade dos pais, ao fim do curso técnico de agropecuária, ele decidiu ficar na fazenda e abandonar – pelo menos por ora – os planos de estudar veterinária. “Fui criado aqui e tenho muito orgulho disso tudo”, afirma Henrique, que hoje tem 18 anos e ao lado do pai é responsável pela produção do queijo Capão Grande, já reconhecido em vários locais do País.

Enquanto o marido e o filho ficam na produção, Solange Vieira Soares, de 49 anos, é a “cabeça” por trás do marketing e das vendas do queijo canastra. Professora, ela tirou licença de dois anos em 2015 e está prestes a voltar ao trabalho. “Mas ainda não sei se quero retomar a profissão. Gostei muito desse universo.”

Ela conta que o queijo Capão Grande começou a ganhar visibilidade por acaso. “Um dia o dono de um novo empório de Campinas errou o caminho e bateu aqui na fazenda procurando o Zé Mário (um dos produtores mais tradicionais da região). Eu aproveitei e disse que também vendíamos queijo. Ele experimentou e disse que voltaria. E voltou. Desde então estamos crescendo”, diz Solange, que montou na fazenda um agradável ambiente para receber os turistas que aparecem por lá para comprar queijo.

Escolha. Carlos Augusto Vidote, de 35 anos, nasceu em Belo Horizonte e fez carreira na capital mineira. Mas ele sempre teve uma relação muito próxima com São Roque de Minas, cidade natal do pai e onde ele passava os feriados. Quando começou a trabalhar na área comercial, sempre que passava pela Serra, comprava um queijo para dar de presente aos clientes. Tempos mais tarde, no início dos anos 2000, o pai comprou umas terras na cidade e também começou a produzir queijos. “Nessa época, não conseguia enxergar o negócio como uma fonte de renda, mas já era uma cultura que me fascinava.”

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Na capital mineira, o trabalho de Vidote começou a se tornar frustrante. Até que um dia um colega o convidou para trabalhar numa fábrica de queijo ralado em São Roque. De mudança para a cidade, ele decidiu dividir seu tempo entre o emprego fixo na fábrica e a modernização da queijaria do pai para adequá-la à legislação. Depois de construir novas instalações, ele criou uma marca para o queijo que agora se chama Don’Antonia – uma homenagem a mãe. Hoje ele produz 17 queijos por dia, e o preço que antes era de R$ 10 – vendido via atravessadores – agora já chega a R$ 50 a peça. “Entendi que quero viver disso. Estou aqui por que quero. Eu escolhi a produção do queijo”, diz Vidote, que conseguiu convencer a mulher a deixar a vida da cidade grande para fabricar queijo.

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