Em situação crítica, o reservatório da usina de Três Marias, um dos maiores do Rio São Francisco, terá nova redução de vazão. A decisão, tomada ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), busca garantir o abastecimento das cidades nas proximidades do reservatório e, ao mesmo tempo, permitir uma geração mínima de energia da hidrelétrica.
Pela decisão, o volume de água cairá de 140 para 120 metros cúbicos por segundo a partir de hoje. Com 1.060 quilômetros quadrados de área alagada, Três Marias é o reservatório de cabeceira do Rio São Francisco e o segundo maior da bacia, depois de Sobradinho. O reservatório registrava ontem apenas 3,08% de sua capacidade total de armazenamento - o pior índice em toda a sua história.
Sua usina, de 396 megawatts de potência, já está com quatro das seis turbinas desligadas por causa do baixo volume de água. Com a redução constante da vazão do São Francisco, é grande o risco de paralisação total da hidrelétrica nos próximos dias se não chover na cabeceira do São Francisco. Questionada sobre a situação, a estatal mineira Cemig informou que avalia a possibilidade de cumprir a solicitação do ONS "sem que haja necessidade de desativar uma das turbinas em operação".
Nebuloso. O drama atual vivido em Três Marias torna ainda mais nebuloso o futuro que se desenha para o reservatório. Há exatamente um ano, a água acumulada em sua barragem atingia 25,20% da capacidade total e, mesmo assim, chegou às condições de hoje. Há uma incógnita, portanto, sobre quais serão as condições do reservatório no auge da seca de 2015.
A agonia vista a olho nu no reservatório de Três Marias não é exclusividade na Bacia do São Francisco, um rio que, nas palavras do Ministério de Minas e Energia, é o "mais bem comportado do País", em referência ao grande número de barragens existentes.
Abaixo de Três Marias, em Sobradinho, a situação também não é nada confortável. Com 4.200 quilômetros quadrados, o que faz de Sobradinho o maior reservatório do País em área, seu lago acumula hoje apenas 21% do total de água que é capaz de armazenar - esse volume chegava a 25% um ano atrás. A diferença só não é maior por causa de reduções de vazão realizadas um ano e meio atrás.
Para não sacrificar ainda mais o nível de Sobradinho, a ANA e o ONS reduziram, desde abril de 2013, o volume de água que passa pela barragem e suas turbinas, que têm capacidade de produzir 1.050 megawatts. Há 18 meses, portanto, Sobradinho opera com uma vazão de 1.100 m³/s, quando o volume mínimo de segurança estabelecido é de 1.300 m³/s. No mês passado, a diretoria da Chesf, responsável pela operação do reservatório e da usina, reuniu-se com a ANA e o ONS para que essa vazão fosse reduzida nas madrugadas para 900 m³/s.
A partir de novembro, a expectativa é de que Sobradinho passe a operar regularmente com vazão de 1.000 m³/s, chegando a 900 m³/s em janeiro de 2015. A reportagem questionou a ANA e a Chesf sobre essas medidas, mas não obteve resposta.