PUBLICIDADE

Trimestre até que está bom

Por Alberto Tamer
Atualização:

Falta apenas um mês para terminar o segundo trimestre e já podemos fazer um balanço preliminar do que passou e o do que pode ocorrer nos próximos 30 dias. Já sabemos que a recessão mundial tem sido contida, não foi tão grave como se esperava, embora tenha atingido duramente a economia e jogado na rua milhões de desempregados. Só não foi pior porque, mesmo com atraso agora perdoável, os bancos centrais e governos socorreram o sistema financeiro em sua coreografia de ganhos insustentáveis, estimularam a demanda, o emprego e atenuaram o impacto da crise no mercado de trabalho. O que podemos constatar neste quase fim de trimestre é que os EUA, pelo menos até agora, evitaram um aprofundamento da recessão. Ela pode até mesmo ser superada no próximo trimestre. Não deve haver crescimento mas, pelo menos, tudo indica que a economia deixou de piorar. E se eles se recuperarem, o mundo pode ir atrás. O BRASIL NO BIMESTRE Já dissemos: estamos nos saindo bem nestes dois meses. Agimos com ousadia e em tempo. Não vou repetir aqui o que o governo fez de certo, pois os leitores da coluna já estão informados. O desemprego é grande, mas parou de aumentar. A indústria continua declinante, mas a agricultura segue vigorosa. As exportações recuam, mas os investimentos externos não param de aumentar. É tanto dinheiro que até incomoda e preocupa o governo. O crédito era escasso no bimestre, mas está voltando. E o povo confia mais, com os supermercados e as lojas vendendo mais. O caso brasileiro é singular. Nós entramos na recessão com atraso, depois dos EUA e da Europa que já afundavam nela. Estávamos fortes e tínhamos espaço para recuar com perda e sofrimento menores. Com as medidas financeiras, fiscais, tributárias e monetárias do governo, e o impulso do passado, a economia pode sair da recessão mais cedo e menos enfraquecida. O ministro da Fazenda reconheceu, afinal, que estamos em recessão. Não teve acanhamento em contradizer tudo o que ele e o presidente afirmavam antes. Eram os otimistas de plantão... Mas acertou ao dizer: "passou e vamos continuar lutando para que isso não se repita". No fim deste bimestre, podemos dizer que recebemos bem o impacto da crise e estamos prontos para sacudir a poeira, não voltar por cima, mas sair andando. Aos tropeços, sim, mas andando. Há ainda o fantasma do desemprego, a retração da indústria, o consumo interno que ainda pouco se anima, os salários reduzidos e em risco, as exportações que sofrem o triplo impacto do câmbio, do financiamento e da retração da demanda externa. Mas são desafios para os quais as soluções já estão encaminhadas. O EXIMBANK OPORTUNO Veio bem na hora a proposta de criar um banco especial para financiar o comércio exterior - não só as exportações, mas também as operações externas ligadas a elas. A experiência mostra que desempenho do comércio é um dos sinalizadores da economia mundial. Geralmente, é um dos primeiros a reagir após um período de forte retração. E já existem indicações de alguma reação, principalmente no mercado de commodities agrícolas que são o sustentáculo das nossas exportações. O Eximbank brasileiro é bem-vindo. Se for mesmo instalado neste ano, certamente vai ajudar muito o País a sair da recessão e voltar a crescer. Nota 9 para a equipe econômica. MAIS UM PARA A EXPORTAÇÃO "Por que 9 e não 10?", deve estar se perguntando o leitor. Pois falta outra medida fundamental para reanimar as exportações: um organismo que concentre a política de comércio exterior, hoje distribuída por vários ministérios que não se entendem. Em tese, o Ministério do Desenvolvimento é oficialmente responsável, mas vá dizer isso ao ministro Miguel Jorge... Quando se trata, então, de acordos ou negociações internacionais, parece um samba do crioulo doido. O Itamaraty não ouve ninguém, se mete em tudo, e até agora ou não fez nada ou, quando fez, foi só tolice. O ministro Celso Amorim sonha ainda o sonho de Doha. Mas Doha é a "virgem terminal" da diplomacia comercial. Só o nosso ministro ainda espera por ela nos altares vazios de Genebra. Falta isso, sim. Um organismo único, com poderes de decisão. Não me venham falar de conselhos, que existem muitos em Brasília, em parte para aumentar os vencimentos dos funcionários ou a renda dos que os frequentam. Um conselho é o que a palavra diz, um "conselho", aquele que "aconselha", recomenda mas não decide. De que adianta dizer que é preciso fazer acordos bilaterais se o multilateralismo da OMC não funciona e o Itamaraty só promete e não faz nada? De que adianta dizer que não se deve desprezar o mercado americano como desprezamos estupidamente? O mercado americano é o maior do mundo. Importava US$ 2 trilhões antes da crise, e importam ainda hoje US$ 1,7 trilhão. E a participação dos Estados Unidos nas exportações brasileiras caíram de quase 13%, em abril do ano passado, para 10,7%, em abril deste ano. "Mas aumentamos as vendas para a China, senhor colunista!" Sim, sim, só que 70% do que a China importa são commodities e, dos EUA, manufaturados. Sem dúvida, uma troca "muy inteligente..." Presidente, por que, juntamente com o Eximbank, não criar logo um organismo só para comandar (não coordenar) as exportações? *Email: at@attglobal.net

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.