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Trocando de marcha

Enquanto a Aston Martin se torna uma fábrica de artigos de luxo, a McLaren acelera seu negócio de tecnologia

Por The Economist
Atualização:
A montadora britânica de luxo Aston Martin quer ser, sobretudo, uma ‘empresa de design’ Foto: ARND WIEGMANN|REUTERS

Poucos países são tão versados na arte de produzir carros de luxo como a Grã-Bretanha. Milionários e jogadores de futebol fazem fila para comprar Rolls-Royces e Bentleys. Apaixonados por velocidade à procura de um carro esportivo também estão bem servidos. No Salão do Automóvel de Genebra, que se encerrou no último dia 13, duas das principais fabricantes britânicas de supercarros lançaram novos modelos para enfrentar concorrentes como Ferrari e Lamborghini: a Aston Martin apresentou o DB11 e a McLaren exibiu o 570GT. As duas produzem brinquedos igualmente caros. Sob o capô, porém, há conceitos bastante diferentes.

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Em alguns aspectos, há similaridades. Das linhas de montagem de McLaren e Aston saem um número restrito de veículos: a primeira fabricou apenas 1.650 unidades no ano passado; a segunda, aproximadamente, o dobro disso. O modelo mais barato da Aston é vendido por cerca de 100 mil libras esterlinas (US$ 140 mil); o da McLaren, por umas 30 mil libras a mais. Mas os carros-chefes de ambas custam entre 150 mil e 200 mil libras. E as duas montadoras têm supermáquinas com preços em torno de 1 milhão de libras. E, recentemente, ambas anunciaram planos de expansão, na esperança de aproveitar o “boom” de vendas na faixa top de linha do setor automotivo (pelos cálculos da consultoria IHS, as vendas mundiais dos carros mais caros triplicarão entre 2010 e 2020). A Aston vai abrir uma fábrica nova no País de Gales, voltada aos utilitários-esportivos (SUVs); a McLaren pretende investir 1 bilhão de libras em seis anos, a fim de ampliar para 15 seu portfólio de modelos e expandir a produção anual para 4 mil unidades.

As duas montadoras escolheram rotas diferentes para chegar a esse destino. Com 103 anos e a ajuda dos filmes de James Bond, a Aston dispensa apresentações, mas passou por dificuldades no passado recente. Estava “aleijada”, arrastando-se de um modelo para o seguinte, segundo o CEO Andy Palmer. Depois de ter sido elevado ao comando da companhia, em 2014, Palmer obteve o apoio de fundos de private equity para lançar quatro novos modelos, além de ter fechado um acordo com a Mercedes, que passou a fornecer motores para os carros da montadora.

Esportivos. Por sua vez, a unidade de automóveis esportivos da McLaren só decolou há seis anos. Até então, embora já tivesse uma pequena produção de carros de passeio, a empresa era basicamente conhecida por sua equipe de Fórmula 1. Os engenheiros britânicos da McLaren, peritos no uso de tecnologia de última geração para projetar os bólidos que se deslocam em alta velocidade pelos circuitos da F1, passaram a se dedicar à fabricação de carros esportivos.

Por outro lado, basta um exame superficial dos automóveis das duas montadoras para perceber que cada uma faz as coisas a seu modo. Os da McLaren são máquinas esportivas, com motor central e design arrojado, que se beneficiam do talento dos técnicos da montadora para adaptar materiais utilizados na F1, como fibra de carbono, e dispositivos de alta tecnologia para produzir carros que circulam com igual desenvoltura por ruas e pistas de corrida. O DB11 da Aston é mais convencional. A carroceria de alumínio e o motor dianteiro são típicos dos melhores automóveis de luxo, concebidos para transportar seus ocupantes por grandes distâncias, com conforto e rapidez.

Design. A Aston é, antes de tudo, uma “empresa de design”, diz Palmer. Desempenho e dirigibilidade são importantes, mas o objetivo é fabricar o “carro mais bonito do pedaço”. A Aston agora se vê como uma fabricante de artigos de luxo, cuja ênfase é o design e os talentos artesanais em que os britânicos se destacam, ao mesmo tempo em que tenta expandir a penetração da marca. A fábrica galesa produzirá o DBX, um SUV com o qual a Aston espera ampliar seu apelo, sobretudo entre as mulheres, que compram poucos automóveis da montadora.

Já a McLaren quer que seus carros estejam equipados com os últimos avanços tecnológicos. Em 2015, com o intuito de mostrar que a inovação ocupa lugar de destaque em suas atividades, o nome da empresa foi alterado para McLaren Technology Group. A equipe de F1 e a produção de supercarros devem continuar importantes, mas o futuro da companhia está atrelado à tecnologia, segundo o fundador e dono Ron Dennis. A McLaren já tem clientes nos setores farmacêutico, financeiro e de petróleo e gás. Aproveitando as competências desenvolvidas na análise da enorme quantidade de dados gerados por seus carros de corrida, a companhia de Dennis vem desenvolvendo softwares analíticos para como GlaxoSmithKline e KPMG.

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O negócio de ambas as montadoras é ajudar os motoristas a ver o ponteiro de seus velocímetros encostando na marca dos 320 quilômetros por hora. No entanto, com seu enfoque, respectivamente, no luxo ou na engenharia avançada, elas exploram duas qualidades contrastantes da engenhosidade britânica.

© 2016 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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