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Trocas na diretoria do BC causam apreensão no mercado financeiro

Por Fernando Nakagawa
Atualização:

A troca de cadeiras na diretoria do Banco Central (BC) tem provocado certo desconforto em parte do mercado financeiro. Desde a indicação de três novos diretores, no fim de outubro, alguns analistas demonstram cautela com a falta de informação sobre o perfil dos nomes que passam a votar nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2008. A aparente preocupação de parte do mercado surgiu logo após a indicação de Maria Celina Berardinelli para a Diretoria de Assuntos Internacionais; Alvir Alberto Hoffmann para a Diretoria de Fiscalização; e Anthero de Moraes Meirelles, que ocupa a diretoria de Administração desde o dia 6. "Como nunca falaram publicamente, não sabemos o que pensam sobre os temas econômicos e, sobretudo, política monetária", diz o economista Alexandre Póvoa, da Modal Asset Management. Nenhum dos ouvidos pelo Estado questionou a capacidade dos novos diretores em assumir o cargo, mas observaram que seria adequado ter detalhes sobre como pensam. Até mesmo os que não vêem problema na troca citam que faltam informações. "Não conheço nada. São pessoas da própria estrutura do banco e não tenho outra informação. Não dá nem para falar se são conservadores ou não", diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. Sem conhecer os indicados, analistas dizem que é importante que tenham perfil técnico suficiente para agir em momentos extremos, como a eventual situação em que haja necessidade de elevar os juros. "É essencial que tenham perfil adequado porque é preciso ter independência para não aceitar pressões da sociedade ou do governo e tomar uma decisão técnica, que siga o regime de metas", diz o professor da USP Fabio Kanczuk. Esse é um tema que tem ecoado nos bastidores. Em alguns bancos, analistas têm avaliado que a troca no BC pode ser uma forma de "blindar" o banco contra pressões do governo. "Seria o jeito de evitar que pressões cheguem ao BC. Se fossem do mercado, seriam vidraça mais fácil para os críticos", diz um analista que prefere não se identificar. A blindagem, diz, seria contra uma eventual pressão para que o BC acompanhe a aparente guinada da equipe econômica para o desenvolvimentismo. Isso estaria sendo realizado com a troca gradual de nomes em diversas áreas, como o Tesouro Nacional, secretarias do Ministério da Fazenda e, mais recentemente, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com a saída de Paulo Vieira da Cunha da Diretoria de Assuntos Internacionais, o chamado grupo dos diretores "formadores de opinião" fica menor. No mercado, a expressão é usada para classificar os membros da diretoria que, supostamente, teriam maior poder de influência no voto dos demais. Quando a troca for completada, o grupo seria formado pelo presidente Henrique Meirelles e os diretores Alexandre Tombini (Normas), Mario Mesquita (Política Econômica) e Mario Torós (Política Monetária). Antes da troca, o grupo contava com Vieira da Cunha. A troca de diretores deve ser concluída no primeiro trimestre, com a saída de Paulo Vieira da Cunha e Paulo Sérgio Cavalheiro, que ocupa a área de Fiscalização.

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