
01 de outubro de 2018 | 14h13
Atualizado 01 de outubro de 2018 | 22h10
BRASÍLIA E WASHINGTON - O presidente dos EUA, Donald Trump, criticou a relação comercial com o Brasil nesta segunda-feira, 1º, durante pronunciamento sobre o novo acordo comercial com México e Canadá. Ao responder sobre o que considera relações comerciais injustas para os EUA, Trump disse que empresas americanas se queixam do Brasil como “um dos mais duros do mundo”. Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
“O Brasil é outro caso. É uma beleza. Eles cobram de nós o que querem. Se você perguntar a algumas empresas, eles dizem que o Brasil está entre os mais duros do mundo, talvez o mais duro. E nós não os chamamos e dizemos ‘vocês estão tratando nossas empresas injustamente, tratando nosso país injustamente”, afirmou o presidente dos EUA, que antes de falar sobre o Brasil se queixou da relação com a Índia.
A fala do presidente americano acontece em meio às ameaças de Trump de encampar disputas comerciais, com imposição de tarifas a produtos de outros países para beneficiar a indústria local. O discurso protecionista rendeu votos ao republicano em 2016, quando ele chegou à Casa Branca, e segue desde então como uma marca de sua gestão.
Até agora, Trump travou uma intensa guerra comercial com a China e impôs tarifas à importação de aço e alumínio produzidos em uma série de países. Ao mirar o Brasil em seu discurso, portanto, o americano acendeu um sinal de alerta no governo brasileiro, que ficou surpreso com as declarações.
Segundo o secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto, nos últimos dez anos a balança comercial entre os dois países tem sido superavitária para os norte-americanos, com um saldo positivo para os EUA de US$ 90 bilhões.
Só em 2017, as importações de produtos brasileiros pelos americanos atingiram US$ 29,4 bilhões; enquanto as exportações para o Brasil somaram US$ 37 bilhões. “Precisamos entender em detalhes o contexto e o teor dos pontos de preocupação externados pelos EUA.”
“Quando é o presidente Trump quem diz que nossos negociadores são duros, eu tomo isso como elogio”, disse o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.
Um estudo preparado pela embaixada do Brasil em Washington e finalizado em agosto aponta, do outro lado, os desafios que os exportadores brasileiros enfrentam para entrar nos EUA. O material será compartilhado com o governo americano nos próximos dias. O levantamento identificou 22 desafios às empresas brasileiras, como aplicação de sobretaxas ao alumínio e subsídios agrícolas, contra 12 oportunidades.
Cassia Carvalho, diretora-executiva do US-Brazil Business Council, sediado em Washington, disse que a fala do americano surpreende. “As empresas americanas que estão no Brasil conhecem bem o ambiente de negócios do País e sabem que é complexo. Sabem também que o Brasil tem feito esforços para simplificar o ambiente de negócios”.
“O Brasil é um país extremamente difícil para fazer negócios, por causa da burocracia e da tributação, mas não há nenhuma discriminação para os americanos”, avaliou o consultor Welber Barral, da Barral M Jorge. “O Brasil é difícil para os brasileiros, e isso prejudica a todos, principalmente a nós mesmos.”
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