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"Turbulência exige resposta do atual e do próximo governo", diz Fraga

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga disse que o mercado hoje vive um momento de depressão. "O mercado é humano, tem humores, às vezes é eufórico, às vezes deprimido. Mas isso não dura para sempre", afirmou Fraga, durante gravação do programa de Jô Soares. Segundo o presidente do BC, a crise atual está relacionada ao medo do futuro, e isso é um pouco psicológico. "A turbulência exige resposta ampla deste e do próximo governo", avaliou. Fraga disse ainda que que tem confiança de que o Brasil vai superar a atual turbulência vivida pelo mercado. Segundo ele, essa confiança não vem apenas das medidas anunciadas recentemente pelo BC, mas pelo trabalho feito ao longo dos últimos anos. "A minha confiança vem disso e do fato de que nós brasileiros não queremos jogar isso fora", afirmou, sustentando que a crise atual vai passar. Fraga admitiu, no entanto, que o prêmio de risco do País, no momento, não espelha essa mesma expectativa. "Nós vamos demonstrar que temos força de vontade e serenidade para superar isto." Ao ser indagado se o BC adotaria novas medidas para enfrentar o acirramento da crise, Fraga disse que o arsenal de medidas é conhecido pelo mercado. "Nós não temos coelho na cartola." O presidente do BC fez questão de repetir duas vezes, ao longo da entrevista, que o enfrentamento da crise não depende só do BC. "Outras áreas estão contribuindo e terão de continuar contribuindo para que isso ocorra", disse Fraga, sem no entanto dar mais detalhes sobre exatamente a que se referia. Fraga admitiu que o mercado ainda não deu sinais que ele gostaria que fossem dados de reação positiva frente à atual crise. Ele, no entanto, afirmou que já existem alguns sinais positivos, manifestando otimismo de que será possível uma reversão do quadro. Fraga ponderou que o BC tem atuado diariamente, adaptando suas políticas e utilizando os instrumentos disponíveis nessa tentativa de reverter a crise. Perguntado como estava sendo feita essa condução, ele disse que são questões táticas, conduzidas no dia-a-dia do banco. Fraga usou a metáfora do jogo de futebol para afirmar que o jogo do Banco Central não acaba em 90 minutos, mas exige serenidade e coerência na busca da direção certa. Mais uma vez, ele negou que exista semelhança entre a Argentina e o Brasil. De acordo om ele, o problema argentino não é apenas econômico-financeiro, mas, e principalmente, de crise institucional que "vai além do que qualquer coisa que se veja aqui". "Aqui o jogo está sob o nosso controle. Algo que difere da Argentina, que depende de uma solução maior de problemas políticos", disse. Sobre se seria possível superar a crise brasileira, Fraga concordou, sustentando: "Aqui dá para virar o jogo, aqui a situação é diferente". Para o presidente do BC, o fundamental para a superação da crise é que o País demonstre, primeiro a si mesmo e depois ao mundo, que aprendeu com o passado, e que deseja preservar uma política macroeconômica razoável. "Não acredito que ninguém será eleito se não defender esse tipo de base", afirmou. Ao comentar a declaração do secretário do Tesouro norte-americano, Paul O´Neill, de que seria contrário a uma ajuda adicional do FMI ao Brasil, Fraga deu uma resposta quase genérica, afirmando que acredita no apoio do Fundo ao próximo governo caso o futuro presidente esteja comprometido com os fundamentos dessa política responsável. Para ele, responsabilidade fiscal, inflação baixa, estado de direito e respeito aos contratos não são questões ideológicas, mas formam uma base mínima de uma política razoável. Fraga, no entanto, não condicionou a solução da crise atual ao desfecho da eleição presidencial. Segundo ele, a dinâmica própria do mercado, que hoje estaria vivendo uma ciclotimia negativa, e o próprio andamento do debate político, devem antecipar o término da atual turbulência. Ele disse esperar que muito antes do final do ano, o mercado dê sinais positivos de tranquilidade. Sobre a declaração do megainvestidor George Soros há duas semanas, a respeito da sucessão presidencial brasileira, Fraga disse que foi uma declaração infeliz. Soros afirmou que os brasileiros estavam condenados a eleger o candidato do PSDB, senador José Serra, ou o caos.

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