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Turismo sucateado

Por Julio Serson
Atualização:

O turismo mundial cresce, a cada ano, na esteira da competitividade do setor, da ampliação dos nichos turísticos de cada país e, sobretudo, da melhoria dos sistemas de emissão e recepção de turistas. Se essa tem sido a tendência internacional, o Brasil mostra que sua locomotiva turística ainda é a velha maria-fumaça, movida a lenha.Basta ver os números. O País representa cerca de 4% a 5% do PIB global, mas fica com apenas 0,7% das receitas geradas pelo setor turístico em todo o mundo. O movimento de turistas estrangeiros no Brasil permanece praticamente estagnado há uma década, diante de um crescimento mundial acumulado na faixa de 40%. Recebemos cerca de 5 milhões de turistas estrangeiros ao ano, pouco mais de 0,5% do total do planeta. Se compararmos com os líderes, a diferença é absurda: França, 76 milhões; EUA, 59,7 milhões; China, 55,7 milhões; Espanha, 52,7 milhões; e Itália, 43,6 milhões de visitantes.Esse desempenho preocupa bastante, porque está muito abaixo do que se pode esperar de um país com tantas condições favoráveis: natureza exuberante, cultura rica, diversidade étnica, culinária espetacular, povo acolhedor. Deveríamos apresentar resultados mais expressivos, empregar mais e investir mais. Em 2010, esse mercado movimentou quase US$ 1 trilhão no mundo. O Brasil recolheu míseros US$ 6 bilhões. Pior ainda: os brasileiros que viajaram para o exterior gastaram US$ 16 bilhões. Registramos um déficit de US$ 10 bilhões, que significa algo como 16 mil empregos que perdemos aqui e "exportamos" para outros países.Segundo o Fórum Econômico Mundial, este ano o Brasil caiu da 45.ª para a 52.ª posição no ranking de competitividade em turismo (e ocupa só o 7.º lugar nas Américas). É interessante notar que nosso país lidera a pontuação no que se refere a recursos naturais, é o 23.º em recursos culturais e o 29.º em sustentabilidade ambiental. Nosso atraso mostra que ainda nos encontramos na fase da infância neste setor da economia.O câmbio supervalorizado estimula as viagens de brasileiros para o exterior, mais baratas, e atrapalha a vinda de estrangeiros. O real é, hoje, uma das moedas mais valorizadas do planeta, por causa das estratosféricas taxas de juros, que atraem o capital externo em busca de lucros fáceis. Se tivéssemos abundância de capitais aos juros que americanos e europeus têm, daríamos de 10 a 0 nas empresas deles.O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se enreda numa burocracia exagerada que termina por tornar praticamente inviável qualquer tentativa de obtenção de crédito. Basta lembrar que hoje há 1.280 hotéis em construção no Brasil, sem a participação de recursos públicos. Outra questão dramática é a carga tributária. Hotelaria e turismo detêm a incrível marca de mais de 40 itens de tributos.Falta-nos uma infraestrutura moderna. Não têm sido feitos os investimentos necessários em estradas, ferrovias, portos, aeroportos, energia, transporte urbano e saneamento. Aliás, não fossem os gargalos nos transportes, especialmente aeroportos, o País poderia dobrar o número de turistas estrangeiros.Enfrentamos a carência de mão de obra qualificada. É preciso formar trabalhadores para o setor turístico e hoteleiro, capazes de receber melhor, atender melhor, conhecer outras línguas e proporcionar ao turista estrangeiro a satisfação que ele espera quando escolhe seu destino.Nas últimas duas décadas o Brasil deu importantes passos, a partir da estabilização econômica, da liberalização do mercado e da desestatização de áreas que encontraram melhor desempenho sob gestão privada (como telecomunicações, rodovias e, agora, aeroportos, que começam a entrar no regime de concessão). Mas ainda há muito por realizar. A sociedade civil, por sua vez, tem de se organizar e valorizar o setor turístico como fonte de riqueza e desenvolvimento.PRESIDENTE DO GRUPO SERSON, VICE-PRESIDENTE DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DO FÓRUM DE OPERADORES HOTELEIROS DO BRASIL (FOHB), FOI PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE HOTÉIS DE SÃO PAULO (ABIH-SP)

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