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UE devolveu plano à Grécia como se fosse uma prova corrigida

Plano de reformas apresentado ao FMI como condição para socorro financeiro foi devolvido com observações em vermelho e comentário sobre reprovação

Por Jamil Chade e correspondente
Atualização:

GENEBRA - Na semana passada, as autoridades gregas levaram um susto quando receberam de volta dos técnicos de Bruxelas e do FMI o plano de reformas que haviam apresentado para atender às exigências dos credores. O texto de pouco mais de quatro páginas estava inteiramente rabiscado de vermelho, como se um professor houvesse corrigido uma prova. E, no final, um comentário de reprovação. A atitude de Bruxelas enfureceu o governo de Tsipras, que se sentiu humilhado diante do tratamento e passou a pensar seriamente em um referendo, uma ideia que já ganhava força entre alguns de seus aliados. Não foram os rabiscos vermelhos que o levaram à decisão, garante um de seus assessores. "Mas a atitude deu um sinal de que os europeus não nos tratariam de uma forma digna", contou um de seus assessores por telefone ao 'Estado'. Agora, com a ideia concretizada, o sentimento no governo é de que os credores optaram por permitir o caos para assustar a sociedade. "Querem nos colocar de joelhos", disse. Fontes em Atenas ligadas ao governo confirmaram ao 'Estado' que, nos últimos anos, era normal um projeto de reforma na Grécia ser redigido ou mesmo corrigido por Bruxelas. Em janeiro, quando o partido de extrema-esquerda venceu a eleição na Grécia, fez apenas uma promessa: acabar com a humilhação que a Grécia sofria da UE. Em parte, o recado era também aos burocratas para que deixassem de tratar Atenas como um "grupo de ignorantes". Na semana passada, Tspiras convocou o referendo após qualificar o plano europeu de "humilhante". Orgulhosa de seu passado, a Grécia quer ser respeitada pelos demais parceiros europeus. Mas é vista como uma espécie de "impostora" por parte do restante da Europa. Afinal, nem mesmo a língua grega hoje é a mesma do auge de Atenas há dois mil anos.  

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