A reação que a União Européia adotará contra as medidas protecionistas dos Estados Unidos para a siderurgia, que entram nesta semana em vigor, ditará a evolução do mercado de aço no mundo. Funcionará como uma espécie de guia, conforme cenário traçado pela consultoria internacional Roland Berger e especialistas em comércio exterior. Caso as retaliações já sinalizadas se concretizem, aumentará o risco de uma onda de protecionismo no mundo. "Este é um grande risco para o Brasil. A situação é delicada, já que não há mercado interno suficiente no País. Além disso, o Japão e a Ásia já tem oferta excedente do produto", avalia o analista da consultoria, Guilherme Junqueira. Além disso, se a Europa elevar tarifas contra os EUA os demais países exportadores serão afetados. "O que se sobretaxa é o produto e não o país, salvo se ele pratica dumping, o que não é o caso", explica José Augusto de Castro, diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB). Segundo Castro, a Europa tem peso político e econômico para fazer uma retaliação contra os Estados Unidos e sua decisão servirá de base para a decisão dos demais países prejudicados com a atitude americana e o virtual fechamento do mercado europeu. Ao contrário da UE e do Japão, que parecem caminhar em direção ao enfrentamento, outras nações, a exemplo do Brasil, parecem tentar a contemporização. "No Brasil, a corrente mais forte é a diplomática, de negociação", diagnostica o diretor da AEB. O outro cenário traçado pela Roland Berger, menos provável, contempla a chance de um alívio nas salvaguardas americanas. A consultoria ressalta, entretanto, que a conjuntura não é de todo impossível, sobretudo dada a disposição demonstrada por países de entrar com recursos junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). "Assim, pode ser que a OMC se decida a favor destas nações e pressione os EUA a reverem sua posição. Até porque o lobby e o poder de barganha internacional certamente são bem maiores que o lobby e o poder de barganha do setor siderúrgico americano", avalia a consultoria. Na prática, além das gestões institucionais junto ao governo brasileiro, sobram às siderúrgicas brasileiras algumas alternativas, segundo a Roland Berger. "Uma saída mais clássica é comprar empresas siderúrgicas ou laminadoras nos países protegidos", diz Junqueira. Gerdau e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) já possuem operações no exterior. A questão é que a exportação de semi-acabados a partir do Brasil para transformação em produto final no exterior é mais vantajosa quando há menos protecionismo. As outras saídas são eventuais associações a grupos estrangeiros, o aumento de consumo de aço no mercado interno e a busca de novos mercados, todas de difícil implantação no cenário atual. A cautela atual do mercado não parece propícia para aquisições: empresas estão subavaliadas e o mercado, cauteloso. O consumo per capita do aço no Brasil é baixo, mas o estímulo ao consumo interno leva tempo e exige investimentos altos. E a busca de novos mercados, embora facilitada pela competitividade da produção de aço no País, pode ser prejudicada caso uma onda de protecionismo de fato se alastre.