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UE recebe com surpresa realização de 2º turno

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi com uma certa surpresa que o grupo responsável pelo Mercosul dentro da União Européia (UE) recebeu esta manhã a notícia de um segundo turno entre os candidatos Luís Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB-PMDB) como indicava a apuração no Brasil. O professor de história brasileira da Universidade de Louvain, Eddy Stols, que acompanha a apuração presidencial disse temer que "se instale um clima no Brasil de que o Lula perdeu as eleições, apesar de que em três semanas muita coisa poderá acontecer", afirmou. Stols tem um livro publicado, "Brasil: Driblando 5 séculos de história", é casado com uma brasileira e visita anualmente o País desde 1963. "Tenho receio que se instale um clima no Brasil de que o Lula perdeu as eleições, apesar de que em três semanas muita coisa poderá acontecer", analisa Stols, revelando uma discreta simpatia pelo candidato petista. O carisma de Lula, reconhece o professor, não foi suficiente "ainda" para elegê-lo e nas próximas três semanas nova dinâmica de campanha vai se estabelecer. "Lula terá que deixar a tática do paz e amor e Serra irá correr mais à esquerda", prevê Stols. Em política exterior, apesar de um ou outro candidato ter sido mais crítico à Alca (Area de Livre Comércio das Américas), ou ao Mercosul, ou ainda, mostrado mais simpatia ao "socialismo europeu", na prática, segundo Stols, tanto Serra, quanto Lula têm propostas muito parecidas. Ele é crítico à influência européia no Brasil, apesar dos investimentos do setor privado. "A mídia internacional apostava que as eleições fechariam no primeiro turno e até o final do domingo, a Europa dormiu com a vitória de Lula nas principais embaixadas brasileiras dentro da União Européia (UE)", constatou uma fonte. É que a diferença de fuso horário entre a Europa e o Brasil de cinco horas neste período do ano, fez com que os europeus tivessem no final da tarde de domingo a vitória por maioria absoluta em todas as embaixadas brasileiras dentro da UE. As declarações de reforçar o Mercosul fez Lula ganhar a simpatia de alguns setores dentro da Comunidade em Bruxelas, tanto do Executivo Europeu, quanto no Parlamento. Afirma o professor Joel Kotek, do Instituto de Estudos Europeus, da Universidade Livre de Bruxelas, especializado em políticas comunitárias. Se José Serra atirou em particular contra a Tarifa Externa Comum (TEC) que faz do Mercosul uma União Aduaneira e ainda disse que o Brasil fez concessões demais à Argentina, Lula, por sua vez, reforçou durante a campanha suas ambições ao que ele designou prior idade número 1 de sua política externa. O Mercosul deverá se tornar uma zona de convergência de políticas industriais, estabelecer um consenso de políticas externas e articular políticas macroeconômicas de forma a criar uma moeda comum, defendeu o candidato do partido dos trabalhadores. O professor Alfredo Valladão, da cátedra Mercosul do Instituto de Estudos Políticos de Paris, reconhece que do ponto de vista institucional a UE tem simpatia por um Mercado Comum do Sul mais forte para fazer frente aos Estados Unidos no Cone Sul. "O segundo turno será bom para o Brasil e para o mundo, porque dará garantias de responsabilidade de gestão econômica, tanto para Serra, quanto para Lula", afirma Valladão. No Executivo Europeu existe claramente a percepção da diferença entre a retórica de campanha e a prática do projeto de Lula dentro do contexto de instabilidade política e econômica que vive o sul do continente latino-americano. O exemplo está nos próprios acordos exigentes que ficaram engessados em armadilhas, como a crise do real, há três anos e meio, precipitando a recessão argentina. A forte desvalorização do real face ao peso convertido em dólar, provocaram situações de tensão crescente entre os países com Buenos Aires acusando Brasília de inundar seu mercado com preços abaixo do custo.

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