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Opinião|Um Banco Central para chamar de seu

Sem clareza sobre reforma, é difícil Copom alterar teor do último comunicado

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Atualização:

Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o seu comando, o novo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá um desafio a resolver: sinalizar uma mudança na trajetória dos juros em resposta à recuperação mais lenta da economia e à inflação bem comportada ou prestigiar os formuladores de política monetária que permaneceram no cargo, mantendo a comunicação recente traçada por eles.

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Diante da frustração com os últimos indicadores macroeconômicos, a exemplo da produção industrial e do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de janeiro, a pressão por corte de juros ao longo deste ano aumentou. Reforçando as apostas de redução da taxa Selic, a inflação acumulada em 12 meses está rodando bem abaixo da meta oficial para 2019, de 4,25%.

É unânime a expectativa de analistas e investidores de que a Selic será mantida em 6,50% ao fim da reunião do Copom hoje, mas há uma aposta crescente de que, no comunicado que acompanha a decisão, o BC poderia sinalizar a possibilidade de corte de juros mais adiante.

Seria uma guinada em relação ao teor do comunicado da última decisão do Copom, em janeiro, o qual surpreendeu o mercado ao trazer uma mensagem menos “dovish” (jargão financeiro em inglês para caracterizar uma política monetária mais suave e estimulativa) do que se esperava.

Nesse comunicado, o Copom manteve o balanço de risco assimétrico, levemente para cima, com os riscos de alta da inflação ainda superando os riscos de baixa. Investidores e analistas esperavam uma sinalização de balanço de riscos simétricos ou neutro. Naquela reunião de janeiro, além de Ilan Goldfajn, o antecessor de Campos Neto no comando do BC, outros dois membros do Copom eram considerados pelo mercado como formuladores de política monetária: os diretores de Política Econômica, Carlos Viana de Carvalho, e de Assuntos Internacionais, Tiago Couto Berriel.

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Tanto Campos Neto, quanto os novos diretores de Política Monetária, Bruno Serra Fernandes, e de Organização do Sistema Financeiro, João Manoel Pinho de Mello, não são vistos como formuladores clássicos de política monetária, embora sejam elogiados pelos currículos e serviços prestados no mercado financeiro.

Como até o momento, Carlos Viana e Tiago Berriel não fizeram declarações públicas alterando a visão constante no último comunicado do Copom em relação ao balanço de riscos à inflação, seria surpreendente se, na primeira reunião de política monetária sob o seu comando, Campos Neto desse uma guinada na mensagem, sinalizando corte de juros, mas desprestigiando Viana e Berriel. Em termos de gestão, seria uma atitude questionável: apesar de liderar o Copom, o presidente do BC não vota sozinho. Mesmo que pense diferente em relação aos próximos passos para a trajetória dos juros, ele precisa levar em conta a opinião dos outros diretores, em particular os formuladores de política monetária, sob o risco de enfraquecer a credibilidade deles perante o mercado no início da nova gestão.

De fato, a recuperação da economia está mais lenta do que o esperado, o que justifica o argumento de muitos analistas a favor de corte de juros. Na mais recente pesquisa Focus, do BC, a estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 2,28% para 2,01%. Já a estimativa de inflação em 2019 está em 3,89%.

Mas é uma Selic mais baixa que fará empresários tirarem projetos de investimentos da gaveta ou o que está travando os investimentos é a incerteza sobre a situação fiscal do País?

Nesse sentido, há quem defenda que juros básicos a 6,0% ou 5,50% terão impacto limitado na atividade econômica caso não haja, por exemplo, a perspectiva de aprovação de uma reforma da Previdência sólida, que resulte numa economia de, ao menos, R$ 600 bilhões em dez anos.

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A reforma da Previdência é, portanto, uma variável crucial para o Copom reduzir os juros. E, apesar do otimismo, a velocidade de tramitação dessa reforma no Congresso ainda está rodeada de incertezas. Ninguém sabe ao certo o quão desidratado será o conteúdo dela até a sua aprovação final.

Sem uma clareza suficiente sobre o futuro da reforma da Previdência, além, obviamente, da evolução do cenário externo com risco de desaceleração global mais forte, fica difícil ver o Copom alterar muito o teor do seu último comunicado, passando a sinalizar desde já corte de juros.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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